Sem equipa, sem fio de jogo, sem intensidade, sem jogadores que façam a diferença, sem uma equipa técnica que saiba inverter a situação, com uma direcção que acha que a merda que faz é sempre culpa de terceiros e que o consegue é digno de estar ao lado das obras da Vasconcelos. Acabar a jornada em quatro em vez de ser em sexto só pode ser motivo para sorrir

rioavesporting

If happy times are too few and far between
It’s a pity dear, we can’t erase the things we’ve seen
So disappear, vanish if you wish
Just go before you’re swallowed up by bitterness

Depois de mais uma semana onde o futebol do Sporting se resume a notícias de gestão e de guerra civil, houve jogo. Porque tem que ser e porque ainda faltam três penosos meses até este pesadelo nos deixar ir beber água fresca.

Vila do Conde, campo sempre complicado, mesmo sem Tarantini, aquele gajo que há-de estar reformado e aparecerá em qualquer lado para nos ensombrar. O Braga tinha ganho na Luz com um golo de Palhinha (aguenta e não chora) e o Sporting sabia que se quisesse voltar ao terceiro lugar teria que ganhar. Mas há mais. Nesta luta titânica pelo terceiro lugar que nos anima o pesadelo, uma derrota significava cair para quinto e, imagine-se, se o Famalicão ganhasse ficávamos a cheirar a sexto. Não sei se Silas ainda diria qualquer coisa como “quando chegámos estávamos a 9º”, esquecendo, sempre, que nessa altura esta a sete ou oito do primeiro em vez de estar a quase 20, mas o arranjinho tinha tudo para nos oferecer um verdadeiro Carnaval.

Sem Mathieu, sem Acuña e sem Vietto, ou seja, perdendo os poucos lampejos de qualidade que vão aparecendo, Silas plantou Doumbia a seis, colocou Eduardo a oito e Wendel era um falso dez que surgia no apoio a Sporar que, por este andar, ainda chega a maio sem molhar a sopa enquanto Pedro Mendes vai roendo unhas no banco e marcando pelos sub23. Nas alas, Jovane e Plata viam Bolasie dar-lhes um chega para lá na titularidade e na propalada aposta na formação, enquanto Camacho se preparava para mais um jogo de merda mas, pelo menos, vai jogando).

E, logo aos dois minutos, o espelhar total do que tem sido esta equipa ao longo de quase todo o ano: patética a ausência de intensidade que permite ao Rio Ave recuperar a bola dentro da área, voltar a cruzar, jogar futvolei e marcar golo. Ou seja, ainda mais de meia equipa leonina não tinha tocado na bola e já a equipa do parvalhão do Carvalhal marcava um golo.

Coates, que voltaria a ser expulso por duas faltas que, sabe a Tasca de fonte segura, fizeram com que Ruben Dias fosse internado com um ataque de riso que lhe fez disparar o ritmo cardíaco, veio por ali fora e, tentando dar o exemplo, levou a bola de uma área à outra até ser desarmado quando já sonhava com um golo à Maradona.

Do grito do capitão nada resultou. O Sporting é lento, previsível, não tem um movimento de ruptura, não tem um passe vertical e, pior, não tem intensidade. Olha-se para os duelos que têm oposto as equipas que disputam o topo da tabela e até magoa a diferença de nervo, de ganas, de faísca. Isso e a forma como os nossos laterais, sem apoio, é verdade, parecem verdadeiras autoestradas que a rapaziada de Vila do Conde ia tentando aproveitar. Max safou o 2-0 e voltaria a ter mais duas ou três acções decisivas ao longo da partida.

Notas de relevo do Sporting ao longo da primeira parte? Um acto isolado de Eduardo que terminou num remate de fora da área à trave.

No recomeço, nada mudou. Silas esperou meia dúzia de minutos e meteu Jovane no lugar de Camacho, mas os efeitos práticos pouco ou nada se viram, pese a irreverência que o 77 traz ao jogo. Neto bem gritava como se fosse um treinador de boxe a tentar motivar, mas a falta de sangue nas veias da equipa superava toda e qualquer motivação. Coates foi expulso, Eduardo e Doumbia deram lugar a Gonzalo Plata e Battaglia e numa espécie de prémio de consolação por até ter arriscado quando estava em inferioridade numérica, Silas viu Bolasie ser derrubado na área e Jovane marcar a grande penalidade que garantiria a manutenção do quarto lugar.

«Acho que foi a pior exibição desde que cheguei», diria Silas no final. «Temos de jogar mais, não há desculpa. Não houve falta de caráter, os jogadores deram tudo, mas têm de estar mais inspirados. Tenho de dar muito mérito ao Rio Ave. Demorámos a adaptar-nos à linha de três defesas. Foi um jogo desinspirado a nível técnico, com muitos erros. Com menos um não deixámos de acreditar e fomos felizes. Do mal o menos, conseguimos levar um ponto de um jogo difícil (…) as ausências? Condicionam, mas os jogadores que aqui estiveram têm qualidade para jogar no Sporting, no Rio Ave ou no Braga, por isso temos que fazer mais»

Quase que disseste a verdade, ó Silas. Há jogadores que vestem a camisola do Sporting e que deviam estar num Rio Ave, num Braga ou num Estoril. E há quem vista essas camisolas e devesse estar com a nossa vestida.

You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide from the truth
Because the truth is all there is
You can’t hide…

Ficha de jogo
Rio Ave-Sporting, 1-1
21.ª jornada da Primeira Liga

Estádio dos Arcos, em Vila do Conde
Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Rio Ave: Kieszek, Figueiras (Carlos Mané, 87′), Borevkovic, Santos, Reis, Musrati, Filipe Augusto, Diego, Lucas Piazon (Bruno Moreira, 90+1′), Nuno Santos, Taremi
Suplentes não utilizados: Paulo Vítor, Nélson Monte, Vitó, Pedro Amaral, Messias Jr.
Treinador: Carlos Carvalhal

Sporting: Maximiano, Ristovski, Coates, Neto, Borja, Eduardo (Gonzalo Plata, 75′), Doumbia (Battaglia, 75′), Wendel, Rafael Camacho (Jovane Cabral, 56′), Bolasie, Sporar
Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Francisco Geraldes, Jesé, Pedro Mendes
Treinador: Silas
Golos: Lucas Piazon (2′), Jovane Cabral (83′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Borevkovic (41′), a Coates (49′ e 71′), a Nuno Santos (67′), a Luís Neto (77′), a Taremi (90+3′); cartão vermelho por acumulação a Coates (71′)