Muitas vezes falar de voleibol é ir um pouco mais além nas análises. Esta semana será uma rubrica um pouco diferente, quanto à objetividade do voleibol, mas pertinente quanto ao futuro modalidade e ao seu contexto leonino.
Este fim de semana a página Sporting Tático trouxe uns dados que desconhecia. A página de Facebook revelou as assistências dos 72 jogos realizados pelas 5 modalidades mais relevantes (big 5) no segmento masculino. Para hoje, o desafio é fazer uma análise de marketing e, só no final, tirar alguns apontamentos de gestão do que foi apresentado. Pela necessidade de não tornar o conteúdo extenso, este estudo podia e devia ter uma continuidade.
No post que referi encontramos a maioria dos dados que serviram de apoio à análise. Para além dos mesmos foram acrescentadas 3 colunas simples:
– Destacar no mapa quando se realizam mais que um jogo no mesmo dia;
– O dia da semana do jogo;
– O jogo, caso existisse, da equipa profissional de futebol nos dias de jogos no PJR.
Como exemplo, deixo um excerto do quadro de apoio criado. As colunas mencionadas anteriormente são as últimas 3, lendo o quadro da esquerda para a direita.
Depois de entendidos os pontos que serviram de base, iniciamos agora a análise. Principiamos pelo mais simples e evidente.
A média de assistências do PJR está nos 35%, estando o voleibol (18%) a puxar os números para patamares (mais) baixos. De destacar, evidentemente, o Futsal (52%) como sendo a modalidade com mais adeptos estando com uma lotação média a rondar metade da lotação do pavilhão. É impossível não fazer destaque, também, ao basquetebol por ser uma modalidade recuperada esta época. Apesar da sua juventude, motiva o interesse os leões.
Como é sabido, as médias são enganadoras. Deixam-nos ideias que podem ser erradas sobre algum assunto. Há sempre aquele exemplo clássico onde duas pessoas foram fazer um piquenique e levaram 1 frango. Uma comeu o frango todo e a outra nada. Em média, comeram meio frango cada uma. As médias podem não ajudar, por isso é necessário espreitá-las. Introduzi duas colunas que indicam o número de jogos acima/abaixo da média. Se estes números estiverem nivelados, como no Basquetebol e Hóquei, verificamos que a média revela valores próximos dos reais. Se temos um desnível grande entre os jogos acima/abaixo da média, vejam o caso do voleibol ou Andebol, possivelmente há um jogo (ou mais que um) que está a elevar a média. No caso do voleibol é flagrante visto que, dos 16 jogos, 75% foram abaixo da média. Sem desenvolver muito, temos o jogo com o SL Benfica que teve uma assistência de 1708 pessoas, 216% acima da lotação média.
Pelo que exemplifiquei anteriormente, há jogos que se diferenciam drasticamente de todos os outros – outliers. Por mero exercício, retirei o jogo com mais assistência de todas as modalidades. Se esse jogo tiver uma influência grande, vai-se imediatamente notar na média. Os números mostram que sim, um jogo apenas (sendo aquele com mais assistência), tem uma relevância grande. No basquetebol a variação é de 9%, no futsal e Andebol de 8% e no voleibol de 14%. Todos eles com um valor absoluto próximo dos 100 adeptos por modalidade.
A capacidade do PJR é de 3000 pessoas. Se quisermos ser justos na análise, sabemos que um dos topos está, normalmente, assumido como sendo da equipa visitante. O que também vamos experienciando é que essa bancada poucas vezes tem pessoas, visitantes ou visitadas. Deste modo, para um exercício sem grandes implicações na conclusão, introduzi uma coluna retirando um número de cadeiras que me apareceu que estivessem naquela bancada. Assim, temos um PJR com 2500 pessoas de lotação e verificamos, agora, as médias de assistência por modalidade. Vemos pequenos saltos interessantes.
Como referido no início do post, o dia de semana pode influenciar as assistências. Jogar a uma quarta-feira é diferente de jogar a um domingo. Claro que o calendário não é definido exclusivamente pelo Sporting, no entanto, este indicador ajuda ao esforço necessário de comunicação e envolvimento do clube para projetar um jogo.
Sem surpresa, o domingo é um dia sempre muito apetecível para estar no PJR. Interessante constatar que, em jogos pontuais durante a semana, há um movimento de envolvimento grande por parte dos adeptos. Reparem no hóquei na terça-feira, o futsal na quarta-feira ou o basquetebol na sexta-feira. Já a rotina, como o caso do Andebol com 8 jogos às quarta-feira, leva a quebras nas assistências.
Quando olhamos para as datas dos jogos, há dias que se repetem. Há, portanto, modalidades que jogam no mesmo dia. Isto pode significar uma tendência positiva ou negativa do 1º jogo para o 2º jogo. Percebemos que, nestes dias, há um equilíbrio na tendência de espetadores, em 8 casos aumentam e em 7 o número de adeptos é mais reduzido. Como os números não mostram uma tendência evidente, podemos ir mais a fundo nas modalidades.
O penúltimo quadro faz uma comparação das assistências quando a equipa de futebol profissional masculina joga no mesmo dia. Sendo o horário indiferente, tal como se o jogo é no Estádio José Alvalade. São poucos os jogos onde o conflito acontece e, dadas as médias apresentadas em quadros anteriores, a influência é praticamente nula.
O último quadro serve para percebermos os extremos. Qual o melhor e o pior cenário que existiu até agora de cada uma das modalidades. Destaque positivo para o futsal a assistência mais alta, 2739 espetadores, e o destaque contrário segue para o voleibol com 215 espetadores num jogo contra o VC Viana. Interessante ver que as assistências mais baixas do andebol, hóquei e basquetebol estão muito próximas com valores a rondar os 14%/15% de lotação.
Por fim, deixo 3 apontamentos pessoais, dado que até agora me limitei a descrever os números. Como sempre digo, é apenas uma opinião que vale o que vale e, na verdade, vale muito pouco.
Gamebox (GB) Modalidades Total.
Tenho sérias dúvidas que este produto, ao nível das modalidades, seja vantajoso no que se refere às assistências. A grande vantagem é a facilidade logística em ir ao PJR, mas perdemos com o que se está a assumir. Quando eu compro uma GB Modalidades Total, eu estou a assumir que sempre uma das 5 principais modalidades masculinas jogar no PJR, eu vou lá estar. Haverá adeptos capazes disto? Não tenho dúvidas. Não creio é que sejam muitos. O racional do Sporting está em incentivar, pela responsabilidade do “já que tenho bilhete vou lá”, aos adeptos a deslocarem-se ao PJR. É muito curto ao nível de trabalho possível do clube. É pouco, poucochinho. As bombas de gasolina trabalham as iniciativas do “já agora”, isto é, “já agora quer este chocolate que está em promoção enquanto fazemos o pagamento?”. Trabalhar este pressuposto pode trazer alguns frutos, mas nunca numa escala significativa. Sem dúvida que num modelo de unidirecional, como no futebol, faz todo o sentido, no caso das modalidades não creio. Trabalhar modalidades diferenciadamente – SIM. Trabalhar o tudo para todos – NÃO.
Importância da bilheteira (GB + bilhetes pontuais)
Quando falamos em bilheteira temos de assumir dois objetivos concretos: receita e emoção. No mundo perfeito, o Sporting quer o máximo de ambas. Como o mundo está longe de ser perfeito, quase sempre é necessário tomar uma decisão de gestão. Uma decisão estratégica. Ou queremos a receita ou queremos a emoção (leia-se, pavilhão bem composto). No caso concreto, penso que o Sporting tem como objetivo prioritário e quase único o fator monetário. O clube não vê a bilheteira como um meio de potenciar a marca, chegar aos mais novos, elevar o nível da qualidade de jogos na região de Lisboa, mas sim como um meio de sustentabilidade e financiamento. No orçamento previsto para esta época, o Sporting previu 530k€ em bilheteira e 90k€ em GB Modalidades.
Cada alma leonina a assistir ao jogo é dinheiro ou fervor. É receita ou investimento. Com médias de assistências abaixo dos 50%, não creio que devamos olhar para os adeptos das modalidades como fonte de receita. Não nesta fase. Ah! Não estou a falar em borlas.
Estímulos ou Obrigação
Estamos no tempo onde as marcas vêem-se e desejam-se para atrair Clientes. A criatividade está em níveis altos e as estratégias são mais que muitas. Tudo para serem atrativas. O mercado reage cada vez menos às obrigações e imposições. Aliás, até o conceito de “trabalho para a vida” está a cair em desuso porque estamos cada vez mais à procura do que desejamos e nos preenche. Por isso, na minha opinião, é errado pensar que, por sermos sportinguistas, exista uma obrigação de assistir aos jogos de futebol ou outra modalidade. Não há. Não existe. Se o Sporting não for agradável e atrativo, por muito carinho que o leão tenha, não estará motivado a marcar presença no estádio ou pavilhão. Partir do pressuposto do “somos Sporting, temos de ir” é um erro grave ao nível da gestão de uma marca. Claro que quando existem pequenos estímulos, por haver tanta gente a adorar o Sporting (fidelizados), será francamente mais fácil ter retorno. O mundo está ávido por experiências. O Sporting sabe disso que até já anunciou melhorias nessa área. Na minha opinião, não é preciso inventar a roda, como parece que queremos fazer. Parece-me, mais que suficiente, ser agradável, divertido, atrativo, com adrenalina, com distrações positivas, onde não existam tempos “mortos”. Assim como já se faz por esse mundo fora. Ah! E não estou a falar de vitórias desportivas.
Termino dizendo que o Sporting Clube de Portugal tem um quadro de funcionários que trabalha no Gabinete de Estratégia e Planeamento das Modalidades e pessoas (externas e internas) alocadas à comunicação e marketing do Clube. Se no voleibol eu vou falando, a situação não está melhor nas outras modalidades. Vem aí uma fase decisiva, por isso vou fazer um pedido: trabalhem!
*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol) –
4 Março, 2020 at 16:32
Seria possível saber a assistência destes 3 jogos. Um deles no Casal vistoso
35 16/nov Sáb 17:00 Voleibol PJR CN Castelo Maia 3 – 0 V
37 20/nov Qua 20:30 Voleibol PJR CN CN Ginástica 3 – 0 V
51 21/dez Sáb 19:00 Hoquei PJR CN HC Braga 6 – 1 V
69 22/fev Sáb 17:00 Voleibol PJR CN Fonte Bastardo 3 – 1 V (Casal Vistoso)
4 Março, 2020 at 16:38
Boa pergunta.
Porque a fonte não tinha esses dados, assumi a média dos jogos retirando o jogo com mais assistência.
Assistência Modalidade Adversário
462 Voleibol CN Ginástica
923 Hóquei HC Braga
462 Voleibol AJ Fonte Bastardo
No jogo com o Castelo assumi o que estava: “35.º – ? (400)- Voleibol 3-0 (25-14; 25-13; 25-19) Castêlo da Maia – Campeonato 14h 16/11”
4 Março, 2020 at 16:47
Bom post, como é habitual. SL
4 Março, 2020 at 17:13
Excelente post. O problema continua a ser a militância e o rentabilizar o PJR nos fds.
SL
4 Março, 2020 at 17:31
A malta queixava-se que não tinha pavilhão, depois e tal… é pequeno.
Depois, só vai lá nas finais.
4 Março, 2020 at 18:04
Quando vai…
SL
4 Março, 2020 at 18:57
E só lá vai a escumalha!
4 Março, 2020 at 17:22
Moroso, complexo e árduo trabalho, mas muito interessante e que poderá ser rentabilizado se houver essa predisposição de que está ou vier a estar no poder.
SL
4 Março, 2020 at 17:39
+1
4 Março, 2020 at 17:46
Muito bom post, Adrien.
Parabéns.
4 Março, 2020 at 18:14
ENORME “posta” A.
fantastico mesmo… excelente trabalho… mt agradecido!
tenho a mesma percepçao e visao, sobre o q tao brilhantemente expoes.
so acrescentaria como soluçoes futuras a ponderar:
– calendarizaçao emparelhadas de algumas modalidades (o mais possivel e se possivel – especialmente com as modalidades femininas e jovens da mesma secçao);
– criaçao de uma fan zone, com zona de tasquinhas especialmente;
– parece-me q os socios poderiam n pagar por bilhetes (tirando os jogos grandes e importantes) e esse valor ja tar incluido na anuidade/mensalidade;
– entrada gratuita para socios com menos de 21 anos (na minha opiniao sempre – menos nos jogos grandes em q ai haveria 1º venda e so dp conforme disponibilidade);
– na bancada dos visitantes (por norma vazia ou pouco composta) convidar escolas, instituiçoes, universidades, parceiros por forma a incentivar os jovens e/ou determinados potenciais adeptos
4 Março, 2020 at 18:56
Magnifíco Post; Adrien igual a si mesmo. Excelentes sugestões Doc
SL
4 Março, 2020 at 19:56
Gabinete de Estratégia e Planeamento das Modalidades
Deve ser bom…
4 Março, 2020 at 20:00
“planejamento” da turminha golpista, e do melhor q ha (do “best”)…
4 Março, 2020 at 20:48
Grato pelo trabalho deste post, vivendo a cerca de 80km de Lisboa é sempre pesado para o orçamento as viagens mais que o custo do bilhete.
SL
4 Março, 2020 at 20:54
12-14 ao intervalo
4 Março, 2020 at 21:04
Excelente post.
Efectivamente há muito trabalho para captar assistência.
O projecto da “Cidade Sporting” iria ajudar tanto, mas vamos ver o que o futuro nos reserva, não vai ser fácil …..
4 Março, 2020 at 21:07
Off.
O teu amigo Pedro Azevedo é candidato à Presidência do SCP.
https://castigomaximo.blogs.sapo.pt/serei-candidato-184221
4 Março, 2020 at 21:25
Vai levar a Sofia?
O meu candidato é BdC e espero que nem sejam precisas eleições
4 Março, 2020 at 21:31
🙂
Respeito imenso a opinião do Pedro Azevedo que só conheço pela escrita no Blog.
Mas só há um candidato que votaria cegamente, sem sequer precisar de conhecer a equipa e dava-lhe um ano para mostrar se mantém as qualidades intactas.
Tudo o resto só depois de conhecer as pessoas e o projecto.
Mais importante que falar em candidatos, urgente é correr com a corja e até as varandettes são bem vindas para a luta, o futuro logo se vê ……
4 Março, 2020 at 22:22
+1
4 Março, 2020 at 22:31
conheço de ler volta e meia o seu blog, mas de facto, n sei se tera perfil pra tarefa… preciso de conhecer mais…
“parece-me” q o timing de anuncio da candidatura seja prematuro…
4 Março, 2020 at 21:23
Equipa de andebol esta num nivel patetico…
4 Março, 2020 at 21:25
Quantos há?
4 Março, 2020 at 21:27
18-21 50′
4 Março, 2020 at 21:29
Foda-se que merda
4 Março, 2020 at 21:26
O anuncio do adeus de anti n funcionou mt bem…
4 Março, 2020 at 22:23
foi contraproducente…
alias tudo neste club de campo desta corja, n faz sentido absolutamente nenhum.
4 Março, 2020 at 21:41
22-27
5 Março, 2020 at 0:05
Excelente post, Adrien S.
Muito importante que existam análises como está para percebermos o que está a resultar e onde podemos melhorar. Quanto mais detalhado melhor. Penso que será o primeiro desde a abertura do Pavilhão o que torna impossível a comparação com outros anos, com dados concretos visto que no “olhómetro” é facilmente verificável que existe uma queda na afluência.
Por este excelente (e moroso) trabalho do Adrien S. é possível perceber que ainda estamos muito longe do cenário bom, quanto mais do óptimo!
Há mesmo muito por fazer.
5 Março, 2020 at 13:23
“Parece-me, mais que suficiente, ser agradável, divertido, atrativo, com adrenalina, com distrações positivas, onde não existam tempos “mortos”. Assim como já se faz por esse mundo fora. Ah! E não estou a falar de vitórias desportivas.” esta aqui é uma grande conclusão! Acho exatamente o mesmo! O desporto é emoção e tem que ser festa, não podiam existir tempos mortos de certeza! Temos que pensar em quem assiste aos jogos que temos ali um adepto/fã e um sócio, alguém que quis ir e temos que o cativar a continuar a ir. Cada jogo é diferente per si, mas tem que trazer um extra ao espectador, cada jogo tem que o marcar.
Não podemos comunicar para quem tem Gamebox da mesma forma como quem não tem, tal como não podemos comunicar com quem é sócio do mesmo modo como quem não o é! Existem tantas coisas para ser feitas, com mais ou menos budget, e olha que muitas, muitas mesmo basta querer. Resta saber se é o Gabinete que trabalha pouco ou se existem tantas pedra na engrenagem e na estratégia que as ideias ficam paradas à espera de aprovação.
Mais um grande texto Adrien