S.L. Benfica, Sporting C.P, S.C. Braga, F.C. Famalicão, Clube de Albergaria, C.S. Marítimo, S.C.U. Torreense, Clube Condeixa, Valadares Gaia, Boavista F.C., Amora F.C., C.Atl. Ouriense, Gil Vicente, Estoril-Praia, Lank Vilaverdense e Atlético C.P., são estes os dezasseis Clubes que disputarão na época 2021/2022 o Campeonato BPI de Futebol Feminino (1ª Divisão). Seja qual for o formato da competição, espera-nos mais um ano de profundo desequilíbrio e de fraca qualidade competitiva. Porque dezasseis equipas são demasiadas para um quadro que se queira minimamente competitivo na Divisão principal.

Quando, no final da época de 2018-2019, a FPF, em consonância com os Clubes acordou em apontar para um quadro competitivo IDEAL de 10 equipas também calendarizou essa redução para um prazo de 2 anos. Isto é, em 2019-2020 manter-se-iam as 12 equipas da época que havia terminado e a Divisão principal da época de 2020-2021 seria jogada a 10 equipas. Também se apontava para uma profissionalização total dessa competição, apresentando como limite para que todas as equipas a competir fossem certificadas como profissionais a época de 2022-2023. Ora, até compreendemos que a pandemia possa ter colocado esse plano em “banho maria” de uma época, uma vez que a competição foi abruptamente interrompida e não finalizou na época de 2019/2020. Mas o normal teria sido REPETIR os quadros competitivos da época que não se concluirá. Pois … mas esperar decisões normais por parte da FPF talvez seja, de facto pedir demais.

ÉPOCA 2020-2021

1ª Divisão
“Salomonicamente”, a FPF achou que em período de pandemia o melhor a fazer seria aumentar a Divisão Principal de 12 para 20 equipas. Mantiveram as 12 equipas que estavam a disputar o Campeonato BPI da 1ª Divisão em 2019/2020 e, para “compor o ramalhete” juntaram as equipas vencedoras dos 8 grupos da 1ª Fase do Campeonato Nacional da 2ª Divisão 2019/2020, uma vez que a 2ª Fase foi interrompida e terminada à 2ª jornada. O que não dá para perceber é por que razão na série G, se o vencedor foi o histórico Atlético F.C, este tenha sido preterido em favor do Damaiense que ficou em 2º na série (pelo menos eu não percebo, embora possa ter havido algum motivo compreensível que não o da satelização lampiónica).
Depois da 1ª Fase a 2 Zonas (Norte e Sul) de 10 equipas, disputou-se uma segunda Fase a dois Grupos (os 4 primeiros de cada zona da 1ª Fase disputaram o apuramento de campeão; os 6 últimos disputaram a Manutenção/Despromoção em 2 Grupos de continuidade da 1ª fase – acumulando metade dos pontos desta – e descendo automáticamente os 2 ultimos de cada Grupo, garantindo a Manutenção os 2 primeiros de cada Grupo e os 3º e 4º de cada Grupo a disputar um play off para acrescentar mais 2 descidas. Desceram, portanto, 6 das 20 equipas. Restaram 14. Como subiram 2 da 2ª Divisão, o Campeonato BPI 2021/2022 será disputado a 16 equipas (ainda longe das 10 para que apontavam).
Resta esperar para perceber o modelo da competição. Em princípio, deverão manter o modelo da época que findou, mas agora com 2 grupos de 8 em que os 4 primeiros seguem para o Grupo de Apuramento de Campeão e os 4 últimos para 1 único Grupo de Despromoção sem playoffs e determinando apenas 4 descidas; sempre a 2 voltas daria 28 jogos para todas as equipas; com a 1ª fase a 1 só volta dariam apenas 21 jogos para cada uma das equipas, optando pelas 16 equipas a 2 voltas haverá 30 jornadas num campeonato mais “justo” porque todos os pontos contariam, mas para o qual algumas das equipas estarão muito menos preparadas pois implica várias deslocações longas, embora até haja uma distribuição geográfica algo “equitativa”: a Norte, Vilaverdense, Braga,Famalicão e Gil Vicente no Distrito de Braga e Boavista e Valadares na foz do Douro; a Sul, Benfica, Sporting, Atlético, Estoril e Amora na Foz do Tejo e Torreense e mesmo Ouriense próximos de Lisboa; a equipa que encontrará mais dificuldades porque terá de efectuar 15 viagens de avião – ou 14, ou 11 conforme o Modelo – e respectivas estadias, será o Marítimo.

2ª Divisão
Já o formato do Campeonato Nacional da 2ª Divisão foi uma réplica parcial do da 1ª Divisão mas com 16 equipas (deve ser inédito a divisão secundária ter menos equipas que a principal), numa 1ª Fase divididas em Séries Norte e Sul e, numa 2ª Fase com as 4 primeiras de cada Série a jogar um Grupo para apurar os semi-finalistas nacionais (2 primeiros de cada Grupo de Apuramento de Campeão) e os 4 últimos a disputar a manutenção e despromoção (despromovidos 2 de cada Grupo, Norte e Sul, sendo que neste um já estava automáticamente “condenado” por desistência na 1ª fase). Só subiam à primeira divisão 2 equipas. Tendo sido o campeão o Sporting “B” (que, por regulamento, não pode subir), quem garantiu o acesso ao Campeonato BPI 2021/2022 foram as equipas que com ele disputaram a Final de zona Sul e a final nacional, respectivamente o Atlético FC e o Lank Vilaverdense. Das 16 equipas que disputaram esta prova, 2 subiram e 4 desceram, restando 10. Como sobem 2 equipas oriundas da 3ª Divisão, a 2ª Divisão 2021/2022 passará a ser disputada a 12 equipas (provavelmente todas com todas a 2 voltas, o que implicará aumentos de custos em viagens que a maioria dos Clubes terá muita dificuldade em suportar; a alternativa é disputar 2 Zonas de 6 numa 1ª fase e, numa 2ª Fase 2 Grupos de 6 para Apuramento de Campeão, os 3 primeiros de cada Zona e para Manutenção/Despromoção os 3 últimos de cada Zona).

3ª Divisão
Disputou-se uma 1ª Fase a 57 equipas em 7 séries (1 série de 9 equipas e 8 séries de 8 equipas); depois os 2 primeiros das Série D a G e os 2 primeiros mais os dois melhores terceiros das séries A a C disputaram uma eliminatória a 2 mãos; os vencedores disputaram uma 2ª eliminatória a uma só mão e os vencedores disputaram a Final da sua zona também a uma só mão determinando assim quem disputaria a final nacional e automaticamente garantiria a subida. Essa final foi disputada entre o Racing Power F.C. (grupo formado há 2 anos em Almada) e o Rio Ave F.C., tendo ganho a equipa sulista por 0-1.

Tivemos, assim, 93 equipas a disputar 3 divisões, tendo estado 20 delas na Divisão principal e apenas podendo reputar de profissionais, com alguma boa vontade, apenas 6 dessas equipas (Benfica, Braga, Sporting, Famalicão, Torreense e Marítimo) e com condições para se poderem vir a profissionalizar (já semi-profissionais) mais 5 (o Estoril-Praia, o Amora, o Clube Albergaria, o Condeixa e o Valadares Gaia). Curiosamente, as 2 equipas que subiram, o Vilaverdense e o Atlético CP também parecem estar a estruturar-se nesse caminho (o Atlético, como o Amora, parecem estar a desenhar uma interessante abordagem a esta janela de mercado; já o Famalicão, por exemplo, tal como o Sporting parecem estar a ter dificuldades em esboçar uma estratégia mais agressiva como seria de esperar para tentarem recuperar os seus projectos mais ambiciosos).

Temos ainda mais uns 2 meses para a melhor definição dos resultados de recomposição dos diversos plantéis. Mas não tenhamos dúvidas que há 3 níveis de plantéis a recompor: os plantéis do “pelotão da frente”, construídos com os olhos no título (Benfica, Braga, Sporting e Famalicão), os projectos de equipas que ganharam este ano algum arcaboiço de estabilidade de manutenção “segura” no escalão principal, com os olhos na progressão com vista a alcançar a “cauda” do primeiro grupo (Marítimo, Albergaria, Torreense, Valadares Gaia) os restantes oito estarão, para já, mais preocupados em construir a estabilidade do segundo grupo, pois, por enquanto, a sua maior preocupação é não descer.

Ora, no primeiro grupo existem alguns desníveis:
desde logo, o Benfica é CLARAMENTE aquele que está mais bem apetrechado. Porque investe mais, mas também, devemos reconhecê-lo porque os resultados assim o demonstram, porque investe melhor; em boa parte por isso, não parece necessitar de outros investimentos que não sejam os necessários para mante o plantel que tinham construído. E foi o que fizeram, assegurando as renovações com a esmagadora maioria das atletas com que querem continuar a contar. Não me parece que, nesta janela de mercado façam alguma contratação, mesmo tendo em conta o claro refoço do Braga. Primeiro porque a distância a que estava o Braga era relativamente grande, depois porque assistiu à implosão do plantel do Sporting, rival que mais lhes “mordia os calcanhares”; finalmente porque a vantagem com que partem permite-lhes uma posição mais conservadora e expectante nesta janela que poderá, caso necessário, ser rectificada na janela de inverno.

depois, o Braga de onde sairam várias jogadoras (9), mas (à excepção da Hannah Keanne ou da flop Marie Hourihan), claramente de 2ª e mesmo 3ª linha, e que se está a reforçar muito assertivamente. Guarda-redes, que era uma pecha enorme nesta última temporada, ficou muito bem preenchida com a Patrícia Moraes; no meio campo defensivo, tomou uma óptima decisão ao contratar a Anouk Dekker que deverá ocupar a posição de trinco, mas também poderá ser usada a central; na frente a carolina Mendes e a vitória Almeida foram 2 contratações que se complementam e complementam a Myra Delgadillo; parecem carenciadas de defesa direita, de mais uma central de qualidade e talvez de uma extrema direita “clássica”, rápida, com boa técnica e que cruze bem.

o Sporting está numa encruzilhada pouco compreensível. É um Clube que ambiciona (tem de ambicionar) o título, não só por ser esse o seu ADN de Clube, mas também porque vão aumentar as receitas directa e indirectamente proporcionadas pela Champions. E, por isso, quem lá estiver mais vezes vai tender a destacar-se mais dos outros. Mas quem tem essas ambições, vem de 2 épocas consecutivas sem conquistar NADA e vê o seu plantel depauperado de 10 das suas unidades, algumas das quais preponderantes, necessitaria de ser MUITO agressivo e certeiro na abordagem ao mercado. Ora não é isso o que tem transparecido, pelo contrário. O Sporting transmite uma imagem de algum imobilismo, tardando em suprir com igual ou superior valia as jogadoras que saíram (a única excepção é Diana Silva e mesmo assim deve ser relativizada pois vai “preencher” a saída da internacional brasileira Raquel Fernandes que era a nossa jogadora com mais golo). De resto: renovações importantes com Andreia Jacinto, Fátima Pinto e Joana Martins (mas se é verdade que estancam a “sangria” não acrescentam o necessário upgrade a um plantel que não vence há 3 anos, uma vez que já faziam parte dele); anúncios gongóricos de contratos profissionais com jogadoras que não devem sequer calçar na A (caso não saibam, a Francisca Silva e a Carolina Jóia, por exemplo, já nesta última época estiveram inscritas no plantel A, mas não fizeram aí um único minuto); ou a contratação de Ana Teles, uma 2ª linha do Braga que ficou a 7 pontos de distância de nós. Já sei que muitos dos tasqueiros responderão a este parágrafo com a proverbial sentença “no fim é que se fazem as contas”, mas, em primeiro lugar, a minha função aqui, nesta rubrica, é ir fazendo as contas semanalmente. Depois, não me parece muito saudável construir (?) ou reconstruir (?) um plantel sem ter ainda sequer anunciado quem substitui a demissionária Diretora Desportiva. Finalmente, reafirmo que DESEJO ARDENTEMENTE ESTAR ENGANADO mas todos os sinais transmitidos pelo FF do SCP neste mês e uma semana após o último jogo da época passada não tranquilizam ninguém. PORQUE TEMOS MUITO MAS MESMO MUITO TERRENO A RECUPERAR.

Com a saída de algumas das melhores jogadoras do campeonato para o estrangeiro sem que se prevejam muitas entradas de qualidade e com a manutenção de um quadro competitivo aberrante, as perspectivas de evolução da competitividade e qualidade do campeonato são claramente negativas. Vamos a ver se os próximos 2 meses nos surpreendem.

Nota mais relevante desde o último post: A EQUIPA B DO SPORTING SAGROU-SE CAMPEÃ NACIONAL DA 2ª DIVISÃO AO BATER, em Grijó, o Lank Vilaverdense FC por 0-2, num percurso imaculado de 11 jogos, 11 vitórias 96 golos marcados e 7 sofridos.

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!