Num belíssimo jogo, frente a um adversário que não foi a Alvalade encolher-se, o Sporting ficou a dever a si mesmo e à sua falta de eficácia o sofrimento final. Os três pontos são justos e levam o Leão para o primeiro lugar da Liga, ombro a ombro com o fcp

A hora era horrível, o tempo pior ainda, o preço dos bilhetes estavam estranhamente ao preço de um jogo da Champions que se disputará dentro de dias. O resultado foram 21 mil e qualquer coisas espectadores, mas é para eles que vão as primeiras palavras desta crónica, por terem conseguido quase sempre fazer esquecer que Alvalade estava com menos de meia casa.

E o jogo até tinha os condimentos todos. As toupeiras tinham escorregado no Estoril e uma vitória sobre o Guimarães fazia-nos passar para primeiro, lado a lado com o fcp que havia despachado o Boavista no dérbi tripeiro. Do outro lado, um Vitória de Guimarães que apenas tinha perdido um jogo nos últimos 10, feitos em todas as competições e ainda não tinha perdido fora do seu reduto, consentindo apenas três golos enquanto visitante. E foi com essa arrogância positiva que os vimaranenses se apresentaram em Alvalade, sendo a equipa com sinal mais nos primeiros dez minutos, tempo em que muito boa gente ainda berrava nas filas que queria entrar para ver a bola (abrir mais portas não resolveu em nada esse “drama”).

O meu goleiro é um homem de elástico…

Adán foi obrigado a fazer a defesa da noite, numa bomba disparada de fora da área por Händel, com a jogada a continuar com a bola demasiado a rondar a nossa baliza e a passar perto dela sem que alguém lhe desse o toque necessário. Antes disso, Peter Potter tinha desperdiçado na cara de Varela, sendo mais lento a desviar do que o redes a reagir. Tudo isto a um ritmo alto, com Palhinha e Matheus Nunes a terem que perceber como ganhar um duelo no qual estavam em minoria, já que a táctica adversária entregava o miolo a Tomás Händel, André André e Tiago Silva.

O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque

Foi precisamente quando Matheus Nunes percebeu como desenlear-se da malha, que o jogo começou a mudar. O camisola 8 tem aquela capacidade impressionante de rodar e ficar de frente para o jogo, antes de parecer encarnar um Camaro carregado de nitro e arrancar por ali fora com a força de 800 cavalos. Nesses momentos, ou o travam em falta ou ele galga metros de relva destruindo tudo o que são linhas defensivas previamente estabelecidas e, com isso, as peças saem do lugar. Na canhota, Matheus Reis vai perdendo as penas de patinho feio e até se dava ao luxo de pregar um lençolinho para desmarcar Sarabia. O espanhol, sempre pragmático, não perdeu tempo em meter a redonda no coração da área, onde apareceu Pedro Gonçalves a aproveitar o movimento arrasto de Paulinho e a marcar com a aquela calma que é só dele. Anulado por fora de jogo.

Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?  

Mas não demorou até que contasse mesmo. Saído do laboratório Amorim, mais um golo de canto, mais um golo de Coates, repetindo uma fórmula usada na Turquia. Impressionante o que o capitão leonino vem fazendo. O Sporting embalava às cavalitas do gigante Sebastião e os pequeninos Pote e Sarabia tricotavam o terceiro golo, que afinal era só o segundo, mas que no fim das contas acabou por ser mais um anulado em fora de jogo. E que belo golo seria, tal como seria o de Matheus Nunes, ainda a segunda parte se espreguiçava. Quase aposto que o camisola oito teve pesadelos com aquele falhanço inacreditável ao segundo poste, quando muito boa gente se preparava para mandar pelo ar a comida comprada ao intervalo.

O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol

Não sei se, como cantam os Skank, o centroavante é o mais importante, mas sei que o nosso voltou a deixar a nação leonina de mãos na cabeça quando usou a dele para, na entrada da pequena área, conseguir mandar a bola para fora. Peço desculpa a todos os que encarnaram um psicólogo e aplaudiram como se não houvesse amanhã, não ter sido capaz de fazê-lo, mas a minha paciência esgotou-se. E, à conta de tanto falhanço, claro que acabámos novamente a sofrer e a defender uma margem mínima, até porque o futebol dos vitorianos ganhou outro critério quando entrou um tal de André Almeida, rapaz de 21 anos a merecer um olhar atento. Também entrou Quaresma, rapaz que eu vi estrear-se em Alvalade (no velhinho), num jogo contra o fcp que Niculae resolveu à cabeçada, e que o pessoal resolveu brindar com assobios e impropérios enquanto Amorim punha trancas à porta com Ugarte, Tabata e Daniel Bragança, baixando o bloco e congelando os três pontos que levam o Sporting ao topo da Liga.

Não admira que, no final, aqueles 21 mil que pareceram sempre mais, se tivessem despedido da equipa a uma só voz, como que aquecendo as cordas vocais para quarta-feira, jogo em relação ao qual Amorim já antecipou que tem a certeza que os adeptos do Sporting conseguem fazer mais barulho do que aquele que se faz na Turquia.

Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha não adianta
Não há garganta que não pare de berrar