O voleibol masculino do Sporting CP teve mais uma derrota, a quarta, da época. Estamos naquele limbo de qualidade difícil de perceber. Vencemos, facilmente, 8 equipas e vemo-nos fodid*s com as restantes 5. Esta última frase é suficiente para dar comichões porque nos coloca numa posição neutra e pouco ambiciosa.

A verdade é que o campeonato está mais competitivo, mas não é mentira nenhuma que os nossos jogadores não são nenhuns amadores sem currículo no voleibol. Neste campeonato existe uma equipa muito melhor que as outras, o SL Benfica, e temos 3/4 equipas niveladas onde a nossa se inclui. “O SL Benfica tem um orçamento muito superior ao nosso e está na Champions”. Tudo certo. Acontece é que o nosso rival fez o jogo de ontem (tal como o tinha feito com o Esmoriz GC) com os suplentes, que btw jogam muito. Isto deixa-me assustado por motivos óbvios. Os milagres da final da taça de Portugal da época passada não acontecem sempre, por isso devemos esperar o quê?

Sabem o que complica ainda mais? A falta de empatia com os adeptos. Não vou comentar empenhos porque isso é tão pessoal que só os próprios o conseguem questionar, mas a questão relacional constrói-se. Á falta de melhor, com uma ferramenta chamada redes sociais que, por estranho que pareça, não serve apenas para passar códigos de desconto para produtos. Quem no Sporting CP, seja em que modalidade for, tiver alguma questão sobre este tema, pode pedir ajuda à Aline Timm. Ela cedo percebeu que tinha de construir e ALIMENTAR uma relação com os adeptos. Há jogadores onde isto não se aplica, mas seria estranho não olhar para a equipa de voleibol como um todo e não como um conjunto de indivíduos, certo?

Depois desta introdução, vamos ao jogo de ontem. Para mim, o melhor em campo foi o Gersinho. Estranho, hã? Como habitualmente, gosto de explicar o porquê desta opinião.

O plano de jogo foi muito bem montado e a leitura de jogo também esteve bem. A equipa entrou com uma linha de recepção com Bob, Fidalgo e Tiago Pereira. Uma linha previsível porque, com os serviços tão agressivos do SL Benfica, era necessário um Bob para ajudar neste ponto. Por outro lado, com o Bob em campo, perdíamos poder de fogo no ataque. Se no 1º set não se notou, a questão foi-se tornando evidente ao longo do jogo. Tanto que acabamos, e bem, com Leon, Pereira e Fidalgo a receber. Dificilmente podia acontecido esta mudança mais cedo porque foi testada no 3º set, sem sucesso. Mesmo no último set, apesar de termos chegado aos 22 pontos, a recepção estava a ser disfarçada com o poder de ataque. O SL Benfica trouxe para o jogo dois jogadores referenciados para nos colocarem os serviços, sendo eles o João Fidalgo e o Tiago Pereira. Acertaram em cheio e eu teria tentado dar uma oportunidade ao Gil Meireles.

Em determinados momentos, o Gersinho até pedia à equipa para rodar mais dando mais campo ao Bob, mas sem sucesso. Tentou-se tudo até uma substituição de risco, entrando o Masso para a entrada e o Leon para a saída a fim de colocar o Bob no centro da recepção. Este pormenor que referi serve apenas para mostrar que o Gersinho estava a mexer como podia, tentando ajudar a equipa. Esta substituição resultou tão bem que passamos de um 10-15 para um 17-19 (salvo erro). Depois falhamos o serviço quando estávamos em crescendo de motivação e perdemos o set.

Este ponto leva-me ao segundo problema principal do jogo de ontem. Os erros no serviço, ou erros não forçados no serviço, foram 18. O SL Benfica fez 16. O ponto está no timing do erro. Se eu mostrasse os momentos, nós íamos reparar que acabamos 2 sets com erros de serviço (Gelinski e Tavares). A situação do Kelton Tavares é clássica no voleibol. O nosso jogador vai servir e vencemos o ponto. Logo de seguida o treinador adversário pede tempo para tentar cortar a motivação e quebrar a sequência do serviço. O resultado foi num serviço falhado após o desconto de tempo.

A questão do serviço foi crítica. Outro exemplo, no 3º set, recuperamos aos 12-14, espiral positiva e… disparate no serviço. Depois nova recuperação aos 15-16 com uma mexida tática do Gersinho e… serviço falhado. Todas estas alturas críticas do jogo. Estou plenamente convencido que é uma questão de mentalidade. Não sei se algum dia a vamos ter, mas o problema está aí.

Apesar de não contar muito para a derrota, fomos estando bem nas restantes dimensões do jogo. Os centrais bem, Gelinski sempre seguro no passe, o PV também esteve dentro de uma performance que corresponde à sua qualidade. No ataque, o Leon e Tiago Pereira também pontuaram com a regularidade que um jogo destes vai permitindo.

Por fim, até falo numa bola do Leon que podia e devia ser a cara desta equipa. No 4º set, aos 9-9, o nosso jogador remate uma bola potentíssima à diagonal curta em cima do Rapha. Depois de pontuar ficou a olhar para o rival em forma de desafio e raiva. O árbitro deu-lhe amarelo porque coiso, mas eu gostei. ATITUDE!

Nunca poderá ser indiferente jogar no Sporting CP e nunca será suficiente ser um excelente profissional no nosso clube. É obrigatório ter espírito de leão, como o Tiago Pereira. Temos qualidade e é preciso demonstrá-la. Chega de derrotas, vamos virar isto. Há umas semanas, a Jady bateu de frente com uma frase do Sporting que a fez postar nas suas redes sociais: “Somos da raça que nunca se vergará”.

Domingo, às 16h, voltamos à Luz para jogar voleibol. A equipa feminina vai ter um duro teste por lá. Terça aqui estamos para falar desse jogo.

 

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.