Confesso que me faz alguma confusão a postura dos adeptos de futebol em geral e dos sportinguistas em particular. Como somos todos doentes pelo mesmo clube, pela mesma causa e pelos mesmos valores, não vou entrar em expressões como “alguns sportinguistas” ou “aqueles adeptos”. São parte de nós, uma enorme comunidade, e como tal tenho de generalizar.

Se o futebol fosse uma matemática exacta, uma ciência provada, então nenhum de nós precisava de ver nenhum jogo desta temporada. Se o “investimento” ou o número de títulos entrasse em campo, o nosso segundo lugar seria uma miragem, um sonho bonito com que sonham os adeptos dos clubes pequenos. Mas o futebol é emoção e incerteza, é querer e competência e é a força da massa adepta. Infelizmente para alguns auto aclamados “racionais” ou “preocupados” estas contas não entram na equação ou no anúncio da desgraça.

A temporada passada já foi elogiada vezes suficientes, encheu-nos de orgulho, apesar de não nos ter dado os ambicionados títulos. Os mesmos jogadores que o fizeram, batalharam em campo e suaram a camisola, são praticamente os mesmos que vão entrar em campo no Sábado, em Coimbra. Lembro-me perfeitamente, como se fosse há apenas um ano, de que todos nós gritávamos que se fosse para perder, então ao menos que deixassem tudo em campo. Chegámos ao cúmulo de pedir isto apenas, mesmo que percam, suem a porra da camisola. Lembram-se disto? Eu sim. Foi depois do Verão em que, em frente a um telefone a tarde toda, ansiosa, tentava perceber qual o resultado da Assembleia e se o Sporting ia declarar falência. Não aconteceu. Suspirei de alívio e pedi apenas uma coisa: o terceiro lugar, por favor.

Foi-nos dado um segundo. Sim, foi-nos dado, como se de um real presente se tratasse. Conseguimos o acesso directo à Champions com 5 milhões gastos em reforços (metade do que gastou o Braga, por exemplo) e tendo como base a tal aclamada e adorada Academia. Ora, se bem me recordo, e por favor corrijam-me se estiver errada, o problema da passada temporada foi a falta de opções em todos os sectores. Estas opções existem agora, quantas quiserem e com as características que quiserem.
Como somos humanos, e vivemos de emoção, agora os problemas são outros: a falta de qualidade do futebol (faz-me rir esta a sério), o excesso de soluções para várias posições, o problema de sermos demasiado ofensivos, o problema do Mané ainda não ter arrancado, o problema de não se saber o que podem render os jovens contratados. Temos problemas e incógnitas que nunca pensei que existissem.

Sempre pensei que um defeso bem planeado era isto: encontrar os alvos pretendidos, negociar a custos que não nos endividem, mostrar qualidade nesses reforços, manter a maioria dos principais activos e ter o plantel fechado, com todas as lacunas colmatadas, até ao início da temporada. Ora, mais uma vez, admito estar enganada mas… parece-me que tudo isto está a ser cumprido à letra.

Desespera-me o drama da pré-época. Tenho a tendência (pessoal e nada mais) de não lhe atribuir a importância que muitos lhe dão. Vejo os jogos, empolgo-me com as jogadas, vibro com os golos, mas não vejo um campeão nem um derrotado. O futebol, meus caros, é competição pura e dura. Vive dos três pontos, do golos de superioridade, da confiança da tabela classificativa. O que nós vemos é um treino, bonito ou feio, mas um treino. Que não queiram ter confiança cega nesta equipa, que queiram subir a sobrancelha a algumas contratações, que até achem que o futebol até agora é muito mau eu aceito. Não aceito é que façam disto uma ciência, uma conjugação de factores que nos afasta do título ou que aproveitem cada deslize para dizer “eu bem tinha razão”.

Quem tem razão, por muito que nos doa, por muito que nos faça sentir impotentes, é quem gere a estrutura de futebol. Essas são as pessoas que sabem porque veio Rabia ou Naby Sarr ou porque ainda não temos um extremo diferente. São as pessoas que se sentiram pior com a história Eric Dier, por verem partir mais um talento sem nenhuma honra para clube e jogador. Essas são as pessoas para quem o dia a dia é negociar com o Matheus ou com o Cédric ou tentar impedir a saída do Rojo. Com nenhuma direcção ou treinador, repito nenhuma, eu aceitei que outro sportinguista tivesse um discurso pseudo intelectual de derrotista com teorias da academia e mais não sei o quê. Eu acreditei no Paulo Bento, no Couceiro, no Sá Pinto e no Domingos. Não é agora depois da sua queda que digo o contrário.

Eu acreditei em todos, porque todos eram treinadores do melhor clube do mundo. E isso, para mim, antes de começar a temporada, é mais do que suficiente. Lamento, eu não estou em pânico com as saída e entradas, sei que o Sporting será sempre superior a 80% dos adversários, jogará sempre com mais posse de bola e, grande parte dos jogos, vão ser ganhos. Eu quero é a bola a rolar no Sábado, perdoem-me por não tirar cinco minutos para reflectir sobre os incontáveis erros da Direcção este defeso.
Qual direcção? Aquela que nos tirou da miséria, nos deu esperança, que nos encontrou um Rossel, um Maurício, um Tanaka, um Slimani, um Montero. Acho que até encontraram um Adrien e um Cédric no caminho. Se isto dá carta branca a quem quer que seja, não claro que não. Mas dá pelo menos direito ao benefício da dúvida, ou estarei errada?
Chamem-me seguidista, o que bem vos apetecer, eu há um ano era adepta do sétimo lugar da liga, hoje sonho com títulos. Por isto tudo, vou apoiar até me faltar a força, vou para o estádio gritar o nome do Sporting, vou defender a nossa estrutura até às últimas. Porque hoje temos uma estrutura a fazer-nos grandes, antes tínhamos apenas uma massa adepta.

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa