Durante muitos anos, os gestores de empresas comportaram-se como aqueles putos espertalhões, que não sendo bons a praticamente nada, excediam-se na arte do copianço, cábulas, extorsão intelectual de nerds, desculpas mirabolantes, etc. Todos nós conhecemos alguns, alguns de nós fomos assim.

O “segredo do sucesso” era óbvio, olhava-se para o que a concorrência fazia de melhor em cada área e punha-se a uso, mesmo que não se entendesse o caminho ou a razão, foi a era dourada das “boas práticas”. Todos queriam o research da Apple, o advertising da Coca-Cola, o customer relationship da FedEx ou o product placement da Proctor´s. Queriam, mas nunca o conseguiram ter. Primeiro porque mesmo seguindo o roadbook à risca havia sempre qualquer detalhe que perdia brilho, segundo porque a escala do copy&paste era avassaladora. A coisa parecia funcionar, mas isso deveu-se muito mais ao esforço por organizar (mesmo para copiar é preciso método) do que propriamente à eficácia das alterações.
O que ficou claro foi que se alguém criasse uma empresa com isto da Apple, aquilo da Proctor, mais aquilo da Coca-Cola, não ia ter uma super-empresa…ia ter um monstro onde nada funcionaria em harmonia. O que ficou claro foi a necessidade de ajustar cada departamento ou função à realidade e mais valia competitiva da empresa. Entrávamos na era da Cultura / Identidade empresarial.

Isto pode parecer distante do Planeta Futebol, mas é exactamente o ponto onde estamos agora. Os clubes estão a deixar de tentar reproduzir o know-how de outros e estão a olhar mais para o que os torna únicos. Os mais inteligentes entenderam já que não podem ter uma cantera como o Barca, a agressividade de ataque ao mercado do City, os adeptos do Shalke04, o scouting da Udinese ou a bilheteira do ManUtd. Podem introduzir pequenas nuances na sua politica, mas primeiro há que encontrar o que é de facto a sua politica de gestão.

Tempos houve no Sporting em que gente proclamou “seguir o modelo presidencial do porto”, “aumentar o número de sócios como o Benfica”, “usar a Academia como o Ajax ou o Barca”, “escolher um Manager de referência como o Bayern” ou até “ter uma equipa B como o Real Madrid”. Nada disto faz hoje sentido, tal como não fazia na altura em que foram ditas estas alarvidades. Pelas razões explicadas acima, o que faz sentido é entender o que é o Sporting, o mesmo é dizer quem são e como se comportam os sportinguistas, onde nos excedemos, onde é preciso apostar. Ter gente nos comandos do clube que entendam isto será fundamental. BdC aproximou muita gente, mas há montanhas ainda por fazer. Arrisco dizer que o Sporting Clube de Portugal está ainda muito distante de ser uma força viva da nossa sociedade. A relação dos adeptos vive dependente de resultados – é o paradigma mais aceite pela malta da bola. Até que ponto será verdadeiro? Até que ponto a mente humana só adere a uma ideia se existir promessa de conclusão? Até que ponto somos assim tão socialmente mercenários?

Não haverá formas de comunicar que não passem pelas habituais dinâmicas do “junta-te a nós que somos os maiores”, “vem ver o jogo que vai ser o melhor que já viste”, “não vais poder passar ao lado se és mesmo sportinguista”? Tenho a certeza que estes modelos bastante infantis de criar empatia são estéreis, criam imunidade aos “call to action” e geram mais distância do que familiaridade. Nota-se um esforço por mudar no Sporting, a SportingTV é uma prova viva, mas para alem dos mapas de presença comercial e awarness do clube há todo um mundo de vazios por completar.

Afecto, Paixão, Orgulho, Pertença…todas as empresas e clubes procuram ter uma relação emocional com clientes ou adeptos. Particularmente no futebol, os clubes procuram um espelho em que o adepto se vê reflectido em cada acto de gestão, jogador adquirido, treinador despedido, contrato publicitário assinado. Mas o espelho é baço. Não reflecte quase nada. A verdade é que os clubes transformaram-se em “coisas” muito complicadas, em realidades hiper complexas. As SADs e os grandes negócios engravatados com muito palavreado financeiro afastam o adepto ou sócio de se imaginar parte de qualquer coisa.
Os Sportinguistas sentem-se grãos na engrenagem, migalhas de poder, nadas nas grandes decisões. Como é que se pode criar empatia, ligação ou adesão enquanto a base de identificação for tão limitada. O que representa ser sócio do Sporting neste momento? Como entendem os adeptos leoninos, hoje, o lema do clube “Esforço, Dedicação, Devoção de Glória”? Ó Bruno pensa nisto se fazes o favor.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca