Com Gyokeres e Paulinho juntos de início pela primeira vez, o Sporting foi ao terreno do Casa Pia vencer justamente por 1-2, numa partida marcada pelo bis do camisola 20 e por uma sessão de hipocrisia que norteia o futebol português

Temos que falar disto, então falemos já disto: houve um erro do VAR na análise do lance que deu origem ao primeiro golo do Sporting, motivo para transformar 9 centímetros num escândalo nacional. O Conselho de Arbitragem, numa medida que acho óptima e que espero que se repita ao longo do campeonato, foi rápido a esclarecer o que tinha acontecido, aproveitou para queimar o árbitro em praça pública (se errou a favor do Sporting, só tem que ir para a fogueira), mas esqueceu-se de referir que esse foi apenas um dos erros do VAR.

Ora, vejamos: penálti sobre Edwards não assinalado, falta sobre Gyo não assinalada no início da jogada do golo do Casa Pia, falta inexistente de Gyo numa jogada q o deixava isolado, mas o problema são os 9 centímetros. A hipocrisia do futebol português no seu melhor, e tenho pena que Amorim, no final, depois de, e bem, não se ter escusado a comentar o lance, não tenha desenrolado a conversa neste sentido.

Aproveito para aplaudir a postura do técnico dos gansos, Filipe Martins, que na conferência de imprensa, em vez de se agarrar ao “escândalo nacional”, pediu para se falar do jogo. Façamos isso, então.

Amorim surpreendeu duplamente: Hjulmand não foi titular ao lado de Morita, no miolo (Pote voltou a recuar); Paulinho surgiu de início ao lado de Gyokeres, essa máquina sueca que além de elevar o nosso futebol para outros patamares, ainda  tem um assinalável efeito psicológico em Paulinho.

Penso que se comprova, se mais provas fossem precisas, que o maior peso que Paulinho carregava às costas era a responsabilidade de ter que ser ele a decidir os jogos. Não lida bem com isso, tal como não conseguiu nunca lidar com os falhanços que ia acumulando e que eram justamente cobrados pelos adeptos. A chega da Gyokeres retirou-lhe esse peso: o sueco não só foi mais caro, como lida perfeitamente com o desejo dos adeptos em verem nele “o gajo que resolve”, o que deixa Paulinho com agilidade mental para combinar o que já fazia bem (descer, jogar entre linhas, ser o tal associativo), com aquilo que não conseguia fazer (meter a redonda dentro da baliza). Resumidamente, Gyokeres foi uma pechincha.

Ora, jogando sem os holofotes a si apontados, Paulinho foi a figura do jogo: marcou dois golos, ambos de pé esquerdo (um logo aos 3′, outro aos 60′, pouco depois do adversário ter chegado ao empate), esteve quase a marcar mais um, de cabeça, na sequência de um canto, e teve a inteligência de, juntamente com Pote, ir aproveitando as verdadeiras auto estradas que Gyokeres abre, quando arrasta consigo meia defesa que só pensa em “agarrar o sueco”.

Foi, aliás, um Casa Pia pronto a amarrar individualmente vários jogadores, aquele que surgiu num Municipal de Rio Maio pintado de verde e branco. Pressionavam alto, os gansos, tentando impedir a saída de bola do Sporting e deixando Morita e Pote sem tempo para pensar. A colocação de Paulinho, solto, foi o melhor remédio para isso, até porque o 20 estava sempre pronto a meter a bola para os esticanços de Gyokeres, além de se juntar a Pote e a Nuno Santos para, pela esquerda, irem encontrando espaços com as mudanças de posição.

O Casa Pia só já em cima do intervalo conseguiu um lance de real perigo, num remate de fora da área de Godwin, por isso pode dizer-se que o golo do empate, aos 58′, acabou por surgir um pouco do nada, ou, se preferirem, de onde podia surgir: não é à toa que Hjulmand foi contratado, não foi à toa que sofremos o primeiro golo contra o Vizela por haver uma buracada no meio, onde a dupla Morita e Pote acaba por ser um remendo. A isto se junta uma saída despropositada de Adán, quando Diomande (belo jogo), já não permitiria que Clayton invertesse a diagonal no sentido da baliza. O redes espanhol veio fazer a mancha quase à entrada da área, o avançado casapiano fez o segundo golo no campeonato.

Valeu que, assim que acabaram os festejos dos homens de rosa, Paulinho fez o segundo, que podia ser ampliado em remates cruzados de Gyokeres ou de Geny, numa vitória inteiramente justa, mas que tem provocado lágrimas e lágrimas de lamento. Pegando na frase normalmente usada no hipócrita futebol português, isto levaria a que a crónica terminasse com um “chora, bebé!”, mas prefiro pedir ajuda ao grande Bob Dylan, e terminar ao som de um So baby, please, stop crying ‘cause it’s tearing up my mind…