As palavras para hoje podiam-se esconder em silêncios ou discursos de motivação não sentidos. Não seria justo para ninguém que isso acontecesse, muito menos para aqueles que leem este espaço desde 2018. 

Faço, já, um spoiler alert. Sangue também não virá daqui e acredito no sucesso da época como acreditava há duas semanas. Infelizmente, hoje, com uma cabeça cheia de desilusão.

Vamos ler um pouco o jogo. O Leixões SC entrou em campo com a ponta recebedora do Porto Volei do ano passado, a Beatriz e a Juliana. Os mais atentos lembrar-se-ão que a nossa estratégia de serviço assentou muito em algo feito há duas épocas, na última jornada do campeonato regular. Servimos muito em cima da Juliana e, a espaços, alternamos com serviço bem fundo para sugerir às adversárias o passe como receção. Foi assim o início de jogo e bem. Nesta primeirinha fase do jogo, ainda com receção, a Ozzy encontra a Jady numa curta nas costas que pica a bola aos 3 metros de 1×0. Claro que vibrei!

Depois picaram duas moscas: a mosca do disparate e a mosca da excelência. Começando pela segunda, devo dizer que o Leixões SC foi perfeito. Com a Macris a distribuir e não falhar uma única bola o jogo todo e a Egonu a pontuar sempre que era chamada à decisão. Ao mesmo tempo que ia acontecendo Melissa Vargas em todas as que iam servir. Serviços potentes e enquadrados ao limite do campo! Todas as bolas do VAR foram a favor do Leixões SC. Isto não tira mérito ao adversário, muito pelo contrário. Graças a esta postura quase perfeita, nós fomos abalroadas! A equipa não é isto tudo, mas neste jogo foi. Parabéns pela vitória. 

No Sporting CP picou a mosca do disparate. Vou falar genericamente, sabendo que posso ser injusto a espaços com alguma. Na minha visão o grande problema foi não conseguirmos, emocionalmente, encontrar formas de contrariar o continuo mau momento. Uma equipa amorfa e demasiado passiva. Quando as coisas não saem bem, seja em que profissão for, faz-se o que a Paquete fez! Berra-se, pica-se os adversários, rasga-se a camisola, puxa-se pelo público, sangra-se. É preciso ir buscar uma justificação qualquer para que a emocionalidade do erro mude para outro lugar. Quando a técnica não está a nosso favor, a confiança tem de vir de outro lugar. Quando nada funcionou tecnicamente, esmiuçar cada ação é ridículo. Claro que não recebemos, claro que falhamos serviços em alturas decisivas, claro o passe não esteve sempre perfeito, claro que o bloco não funcionou. Num dia destes, tudo é “claro que não”. 

Merece uma palavra a Paquete. Acho que é consensual, imagino eu, que podia ter entrado mais cedo no jogo. Também devemos ler taticamente o que se passou. A Paquete entra numa dupla substituição e mantê-la no primeiro e segundo set era assumir a Luana na frente de rede e a Paquete em segunda linha. Fazia sentido? Claro que não. Só fazia sentido uma substituição direta com a Liza. Ao fazê-la, o treinador Rui Costa perdia a dupla rotação para um momento mais delicado na rotação P3 por exemplo. No voleibol não é tudo tão evidente assim, para mim.

Por último, uma leitura muito redutora ao jogo. O Leixões SC agarrou-se à bancada (como tantas vezes na sua história) e o Sporting CP nunca a usou. 

Eu acredito que a maioria das jogadoras não percebam bem a grandeza do clube nem o que está aqui em jogo. Chegaram há pouco tempo. Esta é uma equipa feminina respeitada e acarinhada por milhares, num clube que teima em fazer mal às mulheres. Uma equipa que subiu a pulso, subindo degraus duros para ter o que tem hoje. A bem (ou a mal) terão rapidamente de perceber porque, pelo menos até Maio, assinaram com o clube e com os seus adeptos. Uma equipa que tinha um diretor bom e que foi corrido por ser sério e agora tem um treinador-adjunto a gerir. E que ninguém tenha a mínima dúvida que a única fonte de força externa ao núcleo da equipa são os seus adeptos, bastava ter olhado para a bancada na quinta-feira e contar o número de dirigentes que lá estavam. ZERO. 

Têm a palavra:
Dani – pela história no clube e como capitã
Paquete – por entender o Sporting CP através do seu sangue
Ozzy – porque este é o seu último grande desafio da carreira e já passou por tanto. Tem a maturidade
E
Rui Costa – como fazedor de sonhos, vontades, disciplina e trabalho.

Foi mau. Foi mau. Mas fica a dica: a força vem da bancada. Sempre.

Já agora, ninguém disse que isto seria um passeio, pois não?

Saudações Leoninas

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.