Numa das deslocações mais complicadas do que falta jogar em 23/24, o Sporting foi a Arouca mostrar uma face de equipa crescida e unida na perseguição de um objectivo. O 0-3 final é demasiado expressivo para o que o Arouca deu de trabalho, mas é também um prémio para a forma como os de Alvalade souberam interpretar tudo o que o jogo pedia 

James Herring, vocalista da banda Speak, Brother, explicou que a canção que dá título a esta crónica, Lions Roar, nasceu do momento em que o seu sobrinho via o mar pela primeira vez, num dia cinzento e de ondas revoltas. Claramente amedrontado pelo cenário, mas respaldado pela presença do tio e da mãe, o pequeno preferir vociferar contra o mar que o intimidava, o que fez James pensar na coragem que ganhamos quando estamos juntos e quando enfrentamos algo em conjunto.

Ora, precisamente num dia cinzento, de chuva constante, num relvado que foi virando lamaçal à medida que os minutos iam passando, o Sporting foi aquilo que tinha que ser para sair com os três pontos de Arouca, a equipa sensação da segunda volta: uma equipa.

Uma equipa que entrou a mandar, à procura do golo. Uma equipa que soube baixar linhas, para retirar o espaço que o trio espanhol do adversário tanto gosta de ter. Uma equipa que soube sofrer, que soube defender, e que soube disferir duas dentadas fatais quando o relógio já rodava nos descontos. Foi uma grande vitória, uma vitória de equipa crescida, que começou precisamente na forma como Amorim parece ter preparado o jogo ao pormenor táctico.

Antes que o relvado ficasse miserável, o Sporting entrou mandão, sem perder da ideia a importância de anular as transições do trio Jason, Mujica e Cristo, contando com Gyokeres para, qual viking em conquista, ir para cima da defensiva adversária, procurando os espaços para que Pote e Trincão pudessem ter bola (e que bola seria a deste último, se aquela cueca em plena lama tivesse resultado em golo). Mas foi mesmo o sueco, claro, a metê-la toda lá dentro, depois de mais uma subida de Matheus Reis pela esquerda, momento alto do melhor jogo do ala esta época, como se o brasileiro se sentisse a jogar na praia naquele terreno invernoso.

Antes dos 20 minutos o Sporting adiantava-se no marcador e tinha carta verde para passar à segunda parte do plano: entregar a posse de bola ao adversário, que é infinitamente menos perigoso quando tem que criar a partir de trás, em vez de sair em transições rápidas. Com o trio espanhol praticamente anulado, sobrava Sylla para complicar-nos a vida, e foi Quaresma a ter que levar com o homem mais inspirado do Arouca, o mesmo que obrigaria Israel a fazer a defesa da noite, num remate cruzado para um desvio de elevadíssimo grau de dificuldade, junto à relva. O jovem uruguaio continua a somar pontos a seu favor, aproveitando a lesão de Adán.

À sua frente, Diomande resolveu, em boa hora, regressar da Can e fazer um senhor jogo, tal como Hjulmand, no miolo. Juste e Inácio renderam Quaresma e Coates, refrescando a defesa, frente a um Arouca que ia mostrando desgaste nas pernas e incapacidade para pensar (é tão mais simples jogar em transição, não é?). Tinha bola, mas, bem vistas as coisas, era o Sporting que dominava. Bragança também já tinha dado descanso a Morita, Paulinho vinha impor o físico no lugar de um esgotado Trincão, e foi precisamente deste peso extra de pítons cravados na lama que nasceu o segundo golo, já o jogo estava naquela fase em que os defesa se colocavam às cavalitas de Gyokeres sem que isso fosse falta.

Paulinho recebeu, protegeu e lançou a corrida de Catamo pela direita. O moçambicano encheu-se de brios, sacou um, sacou dois, e quando se viu na zona da meia lua mandou uma buja que o redes só viu quando se ouviu o rugido da bancada! Que golaço de Catamo!

Os arouquenses olhavam uns para os outros, com a esperança de uma qualquer gracinha a esvair-se assim que os descontos tinham começado, e ainda mais atónitos ficaram quando, habituados a batalhas nestes terrenos, Gyokeres e Hjulmand investiram numa pressão alta aos 93(!!!), ganharam a bola e combinaram para o golo com pintado do dinamarquês!

Sorrisos, muitos sorrisos, com Gyokeres, esgotado, meio coxo, a apoiar-se no colega antes de erguer o punho para a bancada, como aquele puto que, na companhia dos seus, mandou embora as ondas que ameaçavam estragar-lhe o dia.