Este ditado (que acaba em “…tarde ou nunca se endireita”) serve à justa para ilustrar toda a carreira de Shikabala no Sporting. A verdade é só uma: não serve. Tem talento? Dizem que sim. Mas quem é que o convence que para ser um profissional de futebol não basta ter “jeito”? Eu respondo a esta. Ninguém.

Acredito que lhe tenham sido tantas oportunidades quanto os seus dotes justificavam, mas agora e perante mais um caso grave de indisciplina, só há dois cenários:
1/ Encarar o comportamento do bacano como uma ofensa ao clube e poupar o máximo de euros que pudermos numa rescisão por justa causa – o que pode levar mais tempo.
2/ Rescindir já amigavelmente e “pagar” o que tiver de ser pago.
Sinceramente, não vejo hipótese alguma de “regresso”, a não ser que exista uma justificação muito séria para as “férias” do egípcio. Caso contrário o caso estará já arrumado e qualquer advogado estagiário pode redigir a nota de culpa, castigo disciplinar e rescisão.

Tenho sempre muita pena, não do homem, mas do talento desperdiçado. Joguei à bola até um mister me ter dito uma frase que ainda hoje arrefece os tomates “e que tal o futsal?”. Sofri na pele a desilusão de não ter “arte” suficiente e custou-me perder todos os sonhos de infância num principio de tarde lamacenta em meados de Abril. Não me levem a mal, mas o futsal da minha altura era um bando de barrigudos e anões o que, digamos, não é propriamente a aspiração de um puto de 13 anos. Flashback over.

São estes palhaços como Shikabala que fazem pensar mais no papel da formação. Na importância de ter gente muito experiente e de valores sólidos numa Academia. Os “educadores” do futebol são o melhor que este desporto tem. São muitas das vezes ignorados, dispensáveis, “velhos”, “ultrapassados”…enfim…ninguém ou quase ninguém os valoriza. Pessoas como Aurélio Marques, que não formaram “melhores do mundo” ou que não tiveram a sorte de ir parar a um Sporting.
Tivesse o egípcio “apanhado” um senhor como o referido e muitas destas manias que ainda exibe com quase 30 anos tinham sido “arrancadas” pelos cabelos aos 12. A experiência destes homens faz com que cheirem “vedetas” e “prima donas” à distancia e eles sabem muito bem como lidar com isso. A terapia não funciona sempre, especialmente quando os pais e amigos são tão broncos que entendem os “castigos” como retrocessos. Mas quando funciona dá coisas como Sá Pintos, Capuchos, Fernandos Coutos…malta que tinha tudo para ficar pelo caminho, mas graças a alguns “educadores” são hoje figuras com história no nosso futebol e com contas bancárias resistentes ao desgaste de toda uma vida pós-futebol.

A evolução das escolas de formação tem substituído muitos destes “velhos ultrapassados” por jovens professores de educação física (isto não vos ofendem em nada ó profs) que ainda têm pouco contacto com os problemas dos fedelhos e pouco jeito para os resolver. A programação de treino, as tácticas, os índices técnicos…a base mais científica toma tantas vezes o lugar dos calduços, dos “vai pra casa”, dos “jogas quando perderes a crista”, das “esperas” antes do duche, do “hoje és o apanha bolas”…agora as convocatórias chegam por e-mail e há rotatividade no plantel (?!). Se queremos uma formação de excelência e evitar de andar a formar Simões e Quaresmas; se queremos ficar com os melhores dos melhores e não desperdiçar tempo em mini-Shikabalas, guardem bem os “gimbras”, os “marretas”, os “avozinhos” dentro das Academias. Eles não mandam e-mails, nem usam tabelas de Excel, mas fazem o mais importante…criam jogadores profissionais com cabeças de homens profissionais. Isso vale quanto?

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca