Acabou o voleibol feminino que aprendi a gostar. A partir de agora nasce outro, com o mesmo símbolo, no nosso PJR, com a mesma cor, com a mesma exigência, com a mesma ambição. O futuro dirá se será melhor ou pior, certamente será diferente.

As despedidas são sempre muito difíceis. Se há relação, se há amor, então doi. Uma ferida que não passará, apesar de ficar camuflada dependendo do que a vida nos proporcione. No entanto, há sempre um momento de mais isolamento, mais introspetivo, mais pensativo, mais coiso em que as saudades e o aperto regressa. Não há volta, somos feitos de relações. Dá para tudo, até para a minha relação com o voleibol.

Acredito, sinceramente, que foi dos melhores projetos construídos no Sporting CP. A começar do nada e chegar (quase) ao topo. Tenho muitas histórias para contar sobre o quão feliz fui nestes tempos a escrever. Só que estas coisas não se fazem assim, toda a gente sabe. Esses momentos precisam de mesa, comida e bebida. Precisam de pessoas, cânticos e camisolas do Sporting CP. Um dia marcamos um almoço! Ainda assim, não termina este capítulo sem duas histórias:

Eu sou de Coimbra, nascido e criado. Fiz-me adulto no Porto, onde vivo. Muito novo percebi que o Vitor Baía tinha o seu aniversário no mesmo dia do meu e também tinha o apelido Martins. O meu pai só me disse: “se queres ser do FC Porto, não entras mais cá em casa”. Aos 5 anos de idade, e ao olhar agora para o meu filho, pareceu-me exagerado, mas resultou! Pela distância, nunca fui muito ao estádio. Não apanhei a fase em que o meu pai, valente leão, ía a muitos jogos a Lisboa numa Bedford de trabalho branca com a parte de traz apinhada de coimbrinhas verdes. Entrava no estádio, ia ao topo e mandava o cartão de sócio num saco plástico, enrolado com fruta, para que outro entrasse com bilhete de sócio. Outros tempos.

Este foi o Sporting CP que me foi apresentado e que eu nunca tinha vivido ou tocado. Anos depois, apareceu-me à frente um dos maiores sportinguistas que conheço. O senhor Cherba, dono de uma simpatia, espírito de trabalho, seriedade, valores, permitiu que eu usasse a sua casa para colocar umas palavras minhas. OBRIGADO!
Ora, com pouco tempo de escrita, e ainda na 2ª divisão, fomos jogar na última jornada a São Mamede de Infesta. Por amizades comuns, souberam que eu estava na bancada a ver o jogo. No final do jogo, depois do grito, apontaram para mim na bancada e imagino um: “é aquele, meninas”. Todas, sem excepção, vieram cumprimentar-me com um sorriso. EU TINHA TOCADO NO MEU SPORTING CP pela primeira vez. Tocar no sentido em emocional! Reparem, eu preciso de 10 minutos quando entro no nosso estádio porque é algo sempre muito novo. Quando eu “vou ver o Sporting CP” está longe de ser uma rotina. É sempre algo muito diferente. Por isso, quando alguém “lá de longe, de muito longe” me conhece tornou-se num dos momentos mais incríveis (palavra da moda) da minha vida. O Sporting CP deixou que eu lhe tocasse! Provavelmente, não me consegui explicar, por isso terão de confiar apenas na descrição de borboletas na barriga e um
sorriso colado. (Alguém filmou, o que eternizou este momento!)

A outra história é uma mistura de nomes. Caguei nas vitórias, vou mesmo às pessoas. Estes anos foram marcados por atletas que se identificaram connosco, perceberam a cultura, envolveram-se na identidade e saíram acarinhadas. Podem ter ficado pouco tempo, mas são nomes que ficaram. Escrevo, brevemente, sobre 4:

A maturidade e beleza técnica da Ju Carrijo. Escolheu Portugal no seu prime e voltou para o Brasil ainda melhor. Foi um abre olhos.
O espírito de leoa indomável da Daniana. Aquela que comandava o banco e entrava para (até) ganhar jogos como em Guimarães.
Sara Serrano liderou-nos até à maioridade, ou seja, primeira divisão. Representa aqui as meninas que fizeram os escalões inferiores como a Catarina, Margarida, Kate, Bárbara, Rita…
A Ana Couto veio campeã e mostrou, com a Bruna, ao que vinhamos. Ela e a Bruna lideraram o jogo fantástico das meias finais da taça e uma ação do c*ralho que se conseguiu colocar adeptos com o dedo no ar em dezenas de fotos. Foi bom Tiago, Cheila, Maria e Zé, não foi?

Falemos de casa. No Sporting CP houve quem construísse a casa. Quando falava de pessoas, no parágrafo anterior, eu falava da Aline, Bruzza, Daniela, Amanda, Garcez, a Jady e Paquete. O NÚCLEO, o PODER, o RESPEITO, o SPORTING! Estas meninas são as defesas impossíveis, os 3-2 vencidos na raça, as voltas aos pavilhão para cumprimentar os adeptos, são a extensão da bancada e do banco. São, eram, sei lá, grande parte do meu motivo. Claro que não foi tudo perfeito. Neste momento, importa-me pouco os fins de ciclo. Só me interessa fazer memória e que, mesmo para elas, “the best time of my life” existiu e acabou para começar outra coisa. Mesmo que agora até achem que não.

Apaixonei-me por todas.

Eu nunca tinha visto ninguém festejar como a Paquete! Era impossível que ela não se cansasse só pelo festejo. Que exemplo! Nem sempre indiscutível, mas sempre intocável! Cultura competitiva!
A Aline é especial. Tenho para mim que ela se divertia com a bancada. Que nasceu para se unir com os sportinguistas. Teve com o Sporting CP uma relação, parece-me.
A Amanda e a Carolina são as ‘inhas. As pequenas. Vi-as jogar desde os 18 anos (ou 17). Vê-las crescer no Sporting CP é (quase) como ter a formação a funcionar.
A Jady foi a última pontuadora da taça de Portugal que vencemos. A Jady foi, possivelmente, a atleta que mais vi evoluir nestes anos. A Jady da época de 23-24 era tudo o que era certo ter como central no Sporting CP. Encaixou em tudo e fez-se uma de nós. E ainda sabia festejar pontos.
A Bruzza é o meu top 2. Encantei-me com a sua qualidade técnica primeiro. Ganhou o seu espaço no campo e na bancada, onde sempre foi indispensável. Era a minha “eye of the tiger”, que olhar! Parecia calma, mas era um furacão em campo. Saiam da frente!!! Vou ter tantas saudades.

A Daniela Loureira é a minha favorita de todo o sempre. Capitã até à ponta das unhas e liderava pelo exemplo. Nunca se cansou, nunca deixou acabar sem dar o máximo de luta possível. Sinceramente, emociona-me ver alguém que não nasceu Sporting CP, sê-lo de uma forma tão completa. Se houvesse justiça no mundo desportivo, ela teria ganho o campeonato com a sua equipa e o seu treinador. Desejo muito que seja feliz! O maior elogio que lhe posso fazer é que nunca foi comum. Nunca quis o normal, sempre procurou a superação.

Uma palavra de obrigado ao senhor que tornou a minha felicidade possivel da forma mais certa de sempre, apenas fazendo muito bem o seu trabalho. O Rui Costa foi este voleibol feminino! Sai com a cabeça mais erguida do que aqueles que ficam (e que serão rapidamente esquecidos por tão vulgares que são). Já escrevi muito sobre o treinador, por hoje chega.

Por fim, já sem grande relevância, digo que esta é a minha última escrita na Tasca. Choro pela despedida ao meu voleibol, choro pela despedida ao meu voleibol feminino, choro pela despedida ao meu Sporting CP, choro pela despedida ao Cherba que sempre me acolheu bem. Choro pela felicidade de ter feito amigos como o Tiago, Cheila, Renato, Maria, Sérgio… tantos! Agradeço a generosidade com que sempre me trataram nesta rúbrica. Dei o meu melhor até ao fim. Que tenha sido bom também para vós. Obrigado!

O Sporting CP sou eu e os meus amigos.
Abraço a todos.
Sérgio Martins Adrien S.

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.