Numa das mais complicadas deslocações do campeonato, o Sporting comportou-se como rei da selva, não dando margem para dúvidas sobre a justeza do 0-3 final e deixando uma vez claro o porquê de ser líder com nove em nove de vitórias 

Tenho finalmente um “dia seguinte” livre de trabalho, e em boa hora acontece, porque tenho mesmo que escrever-vos isto, independentemente do que venha a acontecer até ao final da época: entre acertos e teimosias, Amorim afinou, afinou, afinou, e neste momento estamos a assistir a um pedaço de história da boa, tendo como protagonista o Clube que nos une.

Este grupo, obcecado com a conquista de um bicampeonato que foge há décadas, e tendo como segundo foco muito sério a conquista da Taça de Portugal, está a oferecer-nos um dos melhores desempenhos da história do Sporting Clube de Portugal, com o extra do comportamento mecânico, como Amorim lhe chamou, poder ser ainda mais automático e brilhante à medida que as semanas vão passando.

Ontem, depois de espetar três batatas em casa do Famalicão, actualmente um dos campos mais complicados de visitar a nível interno (a par de Luz, Dragão e Afonso Henriques), voltámos a ser brindados com números que dão que pensar: 30 golos marcados em 9 jornadas, sendo 20 deles marcados fora de Alvalade, e apenas dois golos sofridos (coisa que não acontecia há 51 anos).

Além disso, a partida de ontem, frente a um Famalicão que vai lutar até ao fim por um lugar nas competições europeias, o Sporting teve 62(!!) acções na área contrária, passando a ser o número mais elevado de movimentos na área do adversário nestas nove jornadas disputadas. Acrescente-se, que no top 5 desta estatística, o segundo, terceiro e quarto lugares também são desta equipa, frente a Farense, AFS e Arouca. É uma brutalidade.

Ontem, não fosse a exibição do redes do Famalicão e algum desacerto na definição no último terço, já ao intervalo o marcador podia ter funcionado. Pote, de regresso ao onze, marcou, mas estava 5×7 centímetros fora de jogo, o Fama também acertou nas redes, mas Aranda estava fora de jogo há pelo menos 10 segundos e nem foi preciso VAR para ver.

Pelo meio, Trincão dinamitava tudo o que eram transições e entrelinhas, enquanto Daniel Bragança enchia o campo para descanso de Hjulmand, que ontem começou no banco. Só faltava o golo (aquele corte de cabeça de Mihaj roubou um certinho), e só foi realmente de lamentar a lesão de Nuno Santos, que hesitou em disputar uma bola e quando o fez foi abalroado pelo joelho (não me pareceu torcer, esperemos que seja mais impacto que outra coisa).

O Famalicão, num raio de bloco baixo pouco condizente com a qualidade de alguns dos seus intérpretes, raramente se espreguiçava, e na segunda parte surgiu com vontade de encaixar as onze peças em redor da sua área, mas o Sporting também voltou muito mais rápido na circulação de bola, conseguindo com isso encontrar os espaços nas alas que tinham faltado.

Intensificou-se o tiro ao boneco ao Zlobin, que se atirava loucamente a toda e qualquer bola rematada, mas que nada pôde fazer quando Quenda, qual menino crescido, esperou pela demarcação de Morita, e o japonês colocou no interior da área. Furioso, Thor Gyokeres, o deus do trovão, rodou no meio de três adversários e fuzilou autenticamente a baliza adversária! Estava desfeito o nulo, e o sueco passava apenas a ter três equipa a quem ainda não marcou Estoril, Santa Clara e Estrela da Amadora (esperem que está quase).

Os Leões não tiraram o pé do acelerador, e quando mais um remate, agora de Bragança, bateu na muralha de pernas e corpos e que se erguia junto à pequena área, apareceu Quenda com a classe suficiente para perceber que nem sempre é na buja que lá vai. Bola redondinha ao poste destapado e toma lá o 0-2.

Amorim aproveitou para dar minutos a quem deles precisa (Juste, Maxi, Harder), e a equipa como que relaxou, dando meia dúzia de minutos ao Famalicão para chegar à baliza do cada vez mais seguro Franco Israel. Os minhotos acreditaram no 1-2, embalados pela irreverência de um tal Mathias de Amorim, mas assim que as peças encaixaram esse “assomo de coragem” foi novamente remetido para as imediações da área onde apareceria Gonçalo Inácio a emendar para o 0-3 final.

Numa das mais complicadas deslocações do campeonato, o Sporting comportou-se como rei da selva, e deixando uma vez claro o porquê de ser líder com nove em nove de vitórias, ultrapassando várias lesões e ausências, como se nesta máquina afinada criada por Amorim, houvesse um misto de operários e artistas prontos a não perder o rumo definido. A gravar os seus nomes nas nossas memórias, e na página dedicadas às equipas que mais fizeram sorrir os Sportinguistas.