Olá a todos.
Interrompo as minhas férias porque, ou isso ou acho que corto o pulso.

Há duas semanas, dias antes de irmos a Guimarães, tive o cuidado de aqui escrever que o campeonato podia ser resolvido ali. Tive o cuidado de escrever que os sinais eram óbvios, e que um Manuel Mota num jogo chato na luz, mais um Hugo Miguel num jogo dificílimo em Guimarães, uma semana depois do deslize em Braga, com tudo o que isso significava, só podia trazer merda! Pois bem, jogando bem, ou jogando mal, a verdade é que ninguém sabe o que teria acontecido se aquele segundo golo do Guimarães tivesse sido anulado, por evidente irregularidade. Ninguém sabe, também, como teriam ficado as coisas, se a agressão ao Adrien na segunda parte tivesse sido devidamente sancionada.

E é engraçado porque, muitas vezes, parecemos nós os nossos próprios inimigos. “Que caralho, levámos 3 na peida! Não podemos queixar-nos”. Mas não podemos queixar-nos é a merda! Quer dizer, expliquem-me como se eu fosse uma criança: o Benfica, tal como na primeira volta do ano passado (ainda que este ano tudo esteja a assumir contornos incríveis), não joga um peido. E quando digo um peido, é um peido mesmo. Nada. Nicles e coisa nenhuma. No entanto, o Benfica arranja sempre forma de ganhar, contra 10, com golos mal anulados aos adversários, com golos irregulares marcados em seu proveito. Já o Sporting, bom, o Sporting tem de ganhar sempre bem. Não podemos dar 45 minutos de avanço (e sim, custa-me muito ver primeiras partes como a de domingo), porque perdemos toda a legitimidade de, no final, poder protestar num jogo que, em condições normais, nos daria a vitória. Isto choca-me. Os outros não jogam um pum, mas nós temos de jogar por nós e quase pelos outros também, ou cai o carmo e a trindade. Palavra de honra se não percebo isto. Mas bom, continuando, porque senão perco-me!

Dizia eu que tudo isto está a assumir contornos de aldrabice sem igual. Ou é o Moreirense que se vê privado de actuar o jogo todo com 11, estando a ganhar e não beneficiando da mesma acção disciplinar por parte do árbitro, após violenta (vamos lá, agressão mesmo) entrada do argentino que adora Portugal; ou é o Rio Ave que, após golo limpo (vejam lá as imagens outra vez, bandidos!), se vê privado de um empate; ou é o Setúbal que, goleado, não sabe o que poderia ter dado após golo que daria o empate; ou o Nacional que, na vez de uma vitória, se ficou pelos zero pontos; etc, etc, etc.

Por outras palavras, desconsiderar este livre arbítrio que grassa na arbitragem portuguesa, em detrimento de códigos de conduta por que deveriam reger-se os árbitros, é fazer por ter palas nos olhos. É não perceber que o mesmo tipo que estava a 5 metros do lance e que resolveu dar por terminada a reacção do Rio Ave é, no fundo, o mesmo tipo que decidiu por bem considerar o golo do Jonas, ou o mesmo tipo que decidiu premiar o Nacional com 0 pontos, anulando um golo limpo, ou até o mesmo tipo que decidiu distribuir pontos em Alvalade, nos minutos finais, seja com um Paços de Ferreira, seja com um Nacional desta vida. A mesma agenda. Porque a verdade é esta: se considerarmos o que foi feito nestas duas últimas jornadas, o Sporting não estaria a 8 pontos do primeiro classificado (e isto desconsiderando o que até aqui se tem passado, que por si só é grave). Ora, um na luz, zero na Madeira, zero em Guimarães e 3 em Alvalade, partindo dos três pontos de atraso no pós-Braga, dá 1 ponto. 1 ponto. 1 pontinho. 1 ponto transformado, por dá cá aquela palha, em 8 pontos. Se isto não é viciação de resultados, ou o sinal de atalhos tortuosos, então não sei o que será. E convenhamos que o Duarte Gomes ainda não foi a jogo (provavelmente guardado para uma deslocação difícil, quem sabe).

Mas avançando um bocadinho, dizer-vos que é aqui que entra a minha completa e sentida repulsa pelo adepto benfiquista. Porque não se enganem, ao contrário do portista, que ganhava com arbitragens incríveis, gostava, mas que se reservava no direito de celebrar tamanha aldrabice no resguardo da sua esfera privada, o adepto benfiquista vê, gosta, celebra, e goza com o momento. E é aqui que está o cerne da questão. Hipótese a) ganha desta forma, gosta e celebra, porque sente o encantamento do “ganhar acima de tudo, custe o que custar”. Hipótese b) percebe o que se passa, gosta e celebra, dias depois de ter criticado a reunião em privado de um traficante de droga com alguém que tem processos movidos pelo Sporting, porque a indecência é de tal ordem que não entende que existe uma relação de causa-efeito entre este tipo de reuniões e tudo aquilo que se passa em benefício dos próprios. Para este adepto, a critica esgota-se na imagem a circular. Para este adepto, qualquer coisa que daí resulte, que não a vergonha de ver o seu clube associado a esta lógica de bastidor, é pura aleatoriedade. É pura obra do acaso, um sinal de que os astros se alinharam e que tudo não passa de coincidências. A estes adeptos, o a e o b, o meu mais sincero “afogai na merda que bebem!”

Posto isto, agradecer a quem continua a perpetrar o estado de coisas. Agradecer a quem tem o cuidado de defender com unhas e dentes coisas como a nomeação imparcial e esclarecida dos árbitros. Agradecer a quem teve o cuidado de minar isto de uma forma sem igual, indo do mais profundo calabote, ao mais cuidado e isento jornalismo desportivo (a minha homenagem ao Rita, ao Gordobern, ao traficante de diamantes de sangue, Gosma da Silva, ao Carlos Daniel, ao Alexandre Albuquerque, a toda a equipa RTP que, paga pelo erário público – e espero que assim continue, embora com outros resultados -, insiste em encher paredes com o glorioso; à tresmalhada pinhão, etc, etc), que muito cuidado e célere será a comentar o título 34º (ou 41º, consoante as leituras que queiram fazer daqui para a frente) e a justificar tamanha proeza de uma segunda volta imaculada. A todos estes, o meu obrigado por um mundo mais digno. E se sei o que é ser campeão em 2015? Não, não sei. O que eu sei é que o meu Sporting não é isso e que prefiro manter-me deste lado.

Está aberta a homenagem número dois ao Eusébio. O campeonato acabou este fim-de-semana. Não perderam pontos até aqui, jogando tudo aquilo que conseguem, que é praticamente zero, não será a partir de agora que os irão perder. Os meus mais sinceros parabéns. “Conseguimento” puro.

 

Texto escrito por Diogo Carvalho 

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]
(este texto foi enviado ontem, ao final da tarde, mas ficou a marinar)