É capaz de ter passado despercebido este artigo de opinião do José Eduardo.

«Comparar Bruno de Carvalho a Vale e Azevedo é uma canalhice. Há fronteiras que ninguém, seja quem for, deve pisar»

A TVI telefona-me para ir ao Contra Golpe do Sousa Martins, velho companheiro da RTP, escola formadora de tantos e tão bons e onde, faz anos, a convite de um dos homens que mais sabe de televisão, Mário Rui de Castro, me iniciei como comentador. Com um estilo incisivo, frontal, rapidamente colecionei apoiantes e contestatários. Um dos mais ferozes e interventivos, Pinto da Costa, não se eximia a reclamar o que considerava um mau exemplo de serviço público. Enfim, outros contos, outras estórias…

Enquanto espero pelo início do programa presto atenção à Casa dos Segredos onde Teresa Guilherme reina com brilho e profissionalismo. Recordo os primórdios do Pateo Alfacinha, um caldo de cultura e boémia onde os sonhos se cimentavam. Teresa Guilherme, Abel Dias, Manuel Luís Goucha, Tony de Matos, Carlos Ventura Martins, António Reis, Avelino do Carmo, Ernesto Neves, tantos, tantos. Lembro a emoção da Teresa quando concretizou o sonho de produzir um programa de televisão, com o Herman José, transformado em Santo António.

Volto à Casa dos Segredos. Constato a facilidade com que, atualmente, se fazem estrelas. Qualquer um pode aspirar à fama. Na Ásia, de onde vim há pouco, a grande moda (não tarda está cá) são umas extensões para telemóvel para que as selfies obtenham mais ângulo. E é vê-los (elas e eles) a auto posarem, durante horas, nas posições mais diversas e caricatas.

Este é o século das celebridades. Todos aspiram a sê-lo. Os programas de futebol na televisão não fogem à regra. Todos se querem evidenciar. O que é legítimo. Mas com regras. A começar pela constituição dos elencos. E nisso o SCP é, em muitos casos, prejudicado. Nos painéis, para além dos rivais, a personalidade que, supostamente, devia defender o SCP, é (por despeito) um atacante, sem escrúpulos, qual Judas. E assim, o contraditório não existe. O clube é visado sem apelo. A acrescer, muitas das questões são colocadas de forma tendenciosa. O que leva a que as respostas, vão sempre na mesma direção. E isso nega a modernidade. Antigamente, procurava-se uma verdade, única, incontestada. Agora, devem-se abrir vias para que as várias versões possam ser apreciadas. A verdade pode ter várias faces, outras versões. E a decisão deve pertencer ao juiz. Que, aqui, são os telespectadores.

Na escrita, a tendência para visar o SCP de Bruno de Carvalho é acérrima. E se muitos não colhem atenção por falta de conteúdo, ou crédito, há quem, porque lhe reconheço valor, capacidade, intelectualidade, me possa ferir. E não lhe contesto a parcialidade. E também sou dos que entendo que quem escreve não se deve conter. Deve expor-se, correr o risco de ser excessivo. De penetrar onde muitos não ousam, sequer, pensar. A escrita pode ser uma confissão, uma catarse. A um escritor é permitida a revolta. Mas tudo tem limites. A começar pelo respeito e a dignidade alheia. A pobreza não é uma praga é uma situação. Como a riqueza. Que podem mudar. A juventude não é defeito. Até porque o futuro é deles. Ser-se pequeno empresário sem a grandeza de Belmiro, Amorim ou dos Melo, é pertencer a cerca de 90% do tecido empresarial português. O que significa uma luta árdua, diária, de sobrevivência. Quando se começa, ninguém tem currículo. Como, por exemplo, Pinto da Costa…

As palavras são a essência do homem. Um demagogo é um capitalista das palavras. E ao sabê-lo, o demagogo, promove-se, conquistando riquezas à custa dos incautos. Bruno de Carvalho, tem família. Que vai aumentar, juntando- -se à Catarina, quase adolescente, que tanto orgulho tem no pai. Comparar Vale e Azevedo a Bruno de Carvalho é uma canalhice. Há fronteiras que ninguém, seja quem for, deve pisar. Não! Não podemos permitir o vale tudo.