Neste momento, com dois jogos oficiais pela equipa principal, acho que podemos fazer uma análise mais concreta dos tais “flopes que nem na B servem”.

Alguém ainda duvida do valor de Ryan Gauld? Acho que não. Slavchev fez uma primeira parte impressionante contra o Boavista, parecia um bicho a pressionar e ainda esteve em todas as jogadas de perigo, depois foi abaixo, errando algumas decisões fáceis. Acho que ganhou pontos. Geraldes parece-me ser, de todos os laterais que temos, aquele que melhor defende e também ganhou pontos. Até o Sarr ganhou pontos, apesar de não o considerar pronto para a equipa principal. Rosell foi a âncora no meio-campo até passar-se dos carretos. Enfim, boas indicações de todos os jogadores que, num estádio (e não num campo) com algum público (bastante, para o que estão habituados, muito pouco para a grandeza do clube) e num jogo mais competitivo, demonstraram que conseguem jogar um futebol que, muitas vezes, não vemos os A praticarem. Tabelinhas, combinações, paciência na circulação e muita segurança no passe. A primeira parte contra o Boavista foi das exibições mais seguras que tenho visto, sobretudo na gestão da bola e na rapidez da recuperação da mesma (a falta de qualidade do adversário também ajudou) E isto diz-me que os jogadores que jogaram (incluindo os reforços) são jogadores inteligentes e que percebem que sem se entenderem e sem jogarem de forma colectiva não chegam a lado nenhum. E foi isso que demonstraram, que sabem jogar em equipa e que são capazes de se integrar no modelo de jogo de Marco Silva. E esse mérito é totalmente deles. As oportunidades são tão escassas que, quando aparecem, poderiam levar a um individualismo exagerado ou uma maior preocupação em “brilhar” do que propriamente em jogar. E nas duas oportunidades que tiveram (Guimarães e Boavista) deram uma demonstração cabal de maturidade e personalidade.

O porreiro disto tudo? Não comprometemos nada para ter estes jogadores. Pagámos o valor justo para aquilo que tinham feito antes, não nos vendemos a empresários e não gastámos nem mais nem menos do que aquilo que podíamos gastar. Foram 15M gastos, cerca de 25M feitos em vendas e uma política de contratações, em face do momento que atravessamos, responsável em termos financeiros. E, começa a ver-se agora, que em termos de utilidade/qualidade/ rendimento, também acrescentam. Portanto, mesmo assumindo como erros alguns jogadores que não precisávamos ou que ainda achamos que não têm valor, digo, com todas as palavras que esta política de contratações foi (ou vai continuar a revelar-se) muito positiva. Vejam bem:
1) Queriam rigor financeiro? Tivemos lucro no balanço financeiro do defeso.
2) Queriam golpes de asa? Nani.
3) Queriam um substituto para Rojo? Paulo Oliveira.
4) Queriam um bom executante de bolas paradas? Tanaka.
5) Queriam um 10 criativo? Ryan Gauld.

Estes, para mim, já são certezas ou, pelo menos, investimento acertados e que se vão rentabilizar, seja desportiva e/ou financeiramente. E ainda posso incluir o Jonathan, que é internacional e uma alternativa válida ao Jefferson. Estamos a falar de 1/3 das contratações. Parece pouco? Parece. Mas é muito. Em 6 meses de trabalho, termos já uma opinião definitiva favorável sobre 1/3 das contratações é muito bom. Sobretudo quando as nossas limitações financeiras obrigaram a uma aposta em jogadores com menos visibilidade. Os restantes estão a subir patamares e hoje são melhores jogadores do que aquilo que achávamos no início da época, ou seja, estão a evoluir. Depois, claro, existem as Gazelas, Enohs, Shikabalas e Cissés que já sabemos que pouco ou nada podem dar e que foram devaneios do Presidente ou do Inácio, que, também eles estando apenas no seu segundo ano no exercício das suas funções, têm o direito de errar ou de fazer uma ou outra compra com menos critério. Ganharam esse crédito e, pelo menos, estamos a falar de jogadores de custo de aquisição e massa salarial baixas.

O problema é que nós não queremos competência. Queremos perfeição. Em tudo. Na política de contratações, na comunicação clube, na gestão financeira  até num passe feito dentro de campo! E somos avessos à paciência, assobiando ao primeiro erro. O tempo, como sempre, encarrega-se de colocar um pouco de justiça a quem é honesto e trabalha bem. Num passado recente, jogadores caros e com cartel abandonavam o campo sem dar cavaco a ninguém e outros assumiam publicamente que vieram cá chupar da teta. Agora vemos  um perfeito desconhecido, baratucho, profissional exemplar a assumir a marcação de um livre directo num momento de pressão máxima. Está aqui a grande diferença. Esta política de contratações valorizou aspectos mentais e de personalidade, em detrimento de reputação, o que revela algum estudo e pesquisa de mercado. Independentemente da qualidade técnica, jogadores como Rosell, Slavchev, Paulo Oliveira, Geraldes, Gauld, Jonathan, Tanaka… são jogadores que trabalham muito, que não viram a cara à luta e que têm vontade de singrar no futebol. É bom ver que em Alvalade já não se contrata por vídeo ou por bitaites (ao contrário do que muitos dizem).

A verdade, ou melhor, a minha verdade é simples: Estou satisfeito com o plantel que tenho. Acho que o nosso plantel, em termos gerais, em nada fica a dever ao  s plantéis dos nossos rivais, tendo lacunas tal como eles. Porra! Até o Caracolinhos teve o desplante de dizer que 5 ou 6 eram titulares no Carnide! Esta série de vitórias demonstra que quando estamos focados, não relaxamos e damos tudo, “até com menos um jogador e com a equipa B ganhamos!” Por isso, agora, mais do que nunca, não há desculpas. É com estes que vamos para a guerra. Com o Maurício, com o Nani, com o Sarr, com o Carrillo e com o Paulo Oliveira. Com o Podence, o Rosell, o Gauld e o Tobias. Com todos, sem excepção. Haja confiança nesta malta que temos um grupo que nos pode dar muitas alegrias. E, acima de tudo, temos um líder que sabe muito bem para onde quer ir, com todos os seus defeitos e virtudes.

Termino este texto com dois desejos, um mais exequível que outro. O primeiro, algo utópico, é que os adeptos apoiem todos os jogadores com a paciência que eles precisam. O segundo, para a estrutura, é que nunca, mas mesmo nunca se tenha medo de lançar estes meninos, seja em que circunstância for. E temos já o jogo com o Rio Ave, com ausências importantes. Tem a palavra o Mister.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!