Nos últimos dias, e um pouco na linha daquilo que tem sido hábito nos últimos meses, somos brindados com capas que mais não são do que tentativas descaradas de vender pentes a carecas, optar pela banha da cobra, mandar o barro à parede, ou o que lhe quisermos chamar. No último episódio daquele triste espectáculo que dá pelo nome de TriodeAtaque, um dos quatro intervenientes, que dá pelo nome João Gobern, fez de tudo para tentar esconder o óbvio. Desde estatísticas a roçar o ridículo, com um número de minutos jogados pelos três grandes contra adversários em inferioridade numérica, passando pelo número de cartões amarelos mostrados, tudo contou. Tudo, claro, com excepção da verdadeira análise que deveria ter sido feita.

Se, de uma certa forma, o jornalista (chamo-lhe jornalista?) João Gobern, falou assim das estatísticas que mais lhe convêm, numa espécie de “limpar as frentes”, fica claro que o mesmo actor de circo se esqueceu dos casos cruciais, e do jeito que pode dar uma análise que faça a verdadeira passagem entre uma causa e o seu efeito. Porque, na verdade, o que o João quis e quer evitar, não é mais do que fazer a leitura óbvia entre um cartão vermelho que fica por mostrar, ou outro que é mostrado injustamente, e o que se segue durante o jogo que lhe está associado. Porque o João, se fosse minimamente honesto, iria perceber que expulsar um jogador injustamente de uma equipa contrária, num cenário de resultado adverso, e ainda por cima injustamente, não será propriamente o mesmo que expulsar um jogador dessa mesma equipa contrária, de forma justa (o cerne da questão), ou já com um resultado resolvido por, vá lá, três ou quatro golos de diferença. E o mesmo raciocínio vale para tudo o resto: golos anulados, golos validados da forma mais estúpida possível, etc, etc.

Por tudo isto, e ao João em particular, faço votos para que tenha uma valente aula para básicos, que explique o que é uma relação de causalidade, onde um fenómeno A influencia decididamente um fenómeno B, bem como o resultado final que daí resulte. Mas não termina aqui. E não termina aqui porque o mesmo tipo de sugestão poderá ser feita a todos aqueles que, no alto da sua incompetência profissional, insistem em colar um histórico fantástico, magnífico, ao que de melhor se faz por essa Europa fora. Seja na Alemanha, com o Bayern, seja em Espanha, com qualquer um dos outros. Porque na verdade, e se a desonestidade intelectual parasse por aqui, qualquer capa que evitasse a lógica da propaganda e da bajulação, teria no mínimo o seguinte título: Como se explica a classificação actual de um Benfica que, noutras competições, passa directamente de um pote 1 de um grupo mais do que acessível, para o visionamento de sofá? Qual o verdadeiro motivo que explica um Benfica dominador na competição interna mais importante, e um Benfica medíocre na competição internacional mais relevante? Qual a verdadeira diferença entre estes dois Benficas? Pergunta retórica, novamente.

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Nota

*Golo anulado a Montero, por suposto fora-de-jogo de Slimani, que não intervém na jogada. Tal como Hugo Miguel, Capela, Duarte Gomes, Vasco Santos e Manuel Mota, o fiscal de linha responsável pelo dito fora-de-jogo foi igualmente apanhado com likes em páginas do glorioso. É normal terem clube? É. É normal assumirem-no desta forma, sendo intervenientes directos nos jogos da primeira liga? Não, não é. A não ser que o despudor seja tanto, que beneficiam eles próprios desse reconhecimento.

  1. a) Arbitragens que prejudicaram o Sporting – 5 (a preto), das quais resultam dois pontos perdidos frente a Porto; 2 pontos perdidos frente ao Paços de Ferreira; 3 pontos perdidos frente a Guimarães, no pior jogo da época; 0 pontos perdidos frente a Arouca com golo no último minuto; 0 pontos perdidos frente a Estoril. No total: 4 pontos perdidos de forma clara + eventuais pontos que pudessem resultar de um jogo em Guimarães, que ficou praticamente impossível com 2-0 ao intervalo. Minimizando os pontos perdidos em Guimarães, pela exibição medíocre, ficam 4 pontos claros que resultam em prejuízo.

Uma arbitragem que terá beneficiado o Sporting (a amarelo), no jogo da Madeira, frente ao Nacional, por possível penalty por mão na bola de Carrillo. De notar que mesmo neste cenário de benefício, o Sporting foi obrigado a jogar mais de 15 minutos em inferioridade numérica, por acumulação de amarelos por parte de Adrien Silva.

  1. b) Agradecer novamente os dados recolhidos pelo Artista do dia. Alguns fizeram falta.
  2. c) É fazer a puta da conta! Se descontarmos os 2 pontos da Madeira, ao crédito (vamos chamar-lhe assim) de 4 pontos (descurando o que se passou em Guimarães e nos outros jogos em que, prejudicados, acabámos por vencer), ficaríamos com mais 2 pontos do que aqueles que actualmente temos. Se a isto descontarmos os 7 pontos claros só dos jogos em que o efeito dos benefícios ao Benfica são evidentes e escandalosos (Estoril, Gil Vicente e Nacional), ficamos com a fantástica classificação de 1 ponto atrás dos encarnados. Ora, 1 para 10, tem muito que se lhe diga. E nisto não incluímos todos aqueles jogos em que o Benfica acaba a ganhar por goleada, beneficiando de um segundo golo, ora em fora de jogo, ora em períodos onde jogadores de equipas contrárias são expulsos, muitos de forma incompreensível (vide casos Tony, Cabrera do Estoril)

Perguntas que deixo: será que, tal como no ano passado, ainda que de forma mais escandalosa, pela fraca equipa que os encarnados apresentam, vai ser suficiente? Será que, perante as ajudas da primeira volta, voltam a carburar na segunda volta e a justificar o título merecido e justificado pelos Ritas e quejandos, esquecendo a vergonha que fica da primeira volta do campeonato? Fica a dúvida.

E, por último: será este o campeonato mais vergonhoso de sempre, pelo facto do FcPorto ter beneficiado de muitas equipas competentes em campeonatos que criaram hiatos maiores entre jogos ganhos com clareza e outros pelo meio ganhos de forma escandalosa? Qual o nível do Porto de então, relativamente à sucessão de jogos em que acabavam por ser beneficiados? E qual o nível Benfica de agora, que apresenta talvez o pior 11 da última década?

 

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Notas:

  1. a) A vermelho apresentam-se todos os jogos em que, de alguma forma, o Benfica beneficiou de erros de arbitragem favoráveis em momentos cruciais dos diferentes jogos. É só contar o número de jogos. De fora ficam encontros frente a Sporting, Porto, Guimarães, Boavista (?) e Paços de Ferreira.
  2. b) Braga é o único encontro em que Benfica contabiliza 2 erros que lhe foram prejudiciais, contra um único erro que acabou por favorecer o clube da Luz. Destaque para a péssima nota atribuída ao árbitro responsável por dirigir o encontro, eventualmente o árbitro mais sensato que não goza de estatuto na APAF. De recordar o jogo com decisões sempre correctas no jogo da luz, o ano passado, em que o Benfica venceu justamente o Sporting, por 2-0. Seria também interessante verificar todas as notas dos jogos cujas arbitragens beneficiaram o Benfica. Serão notas negativas, como a de Marco Ferreira?
  3. c) Em 17 jornadas, os jogos do Benfica são arbitrados pelo menos por 5 vezes por árbitros que, num momento ou noutro, deixaram escapar para domínio público os likes associados a páginas do Benfica nas redes sociais, em especial o Facebook. São eles o João Capela (2 arbitragens), Hugo Miguel, Vasco Santos e Manuel Mota. De reparar que, nestes 5 jogos, 4 deles beneficiaram de forma clara a equipa da luz. Dois deles são os casos mais escabrosos, como a arbitragem de João Capela, no fora de jogo não assinalado a Maxi Pereira, por posição irregular clara, a arbitragem de Vasco Santos na Amoreira, com 1 penalty por assinalar a favor do Estoril, uma expulsão inventada a um jogador do Estoril e uma expulsão perdoada a Enzo Pérez.
  4. d) Dos 17 jogos, o Benfica é claramente beneficiado em 10, com situações que muitas vezes ficam por explicar, no sentido em que são difíceis de compreender. Dos erros difíceis de extrapolar para um possível resultado final mais justo, contam-se 3 jogos em que os erros de arbitragem deram de forma clara e evidente 7 pontos (jogos frente a Gil Vicente – João Capela; Estoril – Vasco Santos; Nacional – Bruno Paixão).
  5. e) Agradecer os dados disponibilizados pelo Artista do Dia, em algumas fases que não recordo tão bem.
  6. F) As cores não são inocentes. Azul cueca e vermelho. O estado de coisas do momento. Podia fazer um quadro relativo ao Porto? Podia, mas a coisa é tácita. Não vale o tempo. Acontece há 30 anos e não é agora que deixará de acontecer. Não perco por isso tempo com o FcPorto.

Perguntas:

Vamos continuar a tolerar que um qualquer Gordobern desta vida atire areia para os olhos dos telespectadores, com estatísticas para vender pentes a carecas, ou vamos exigir o quadro das estatísticas globais, como erros contra e erros a favor?

Vamos continuar a acreditar na propaganda do Benfica a desafiar todos os limites (aka qualquer Bayern desta vida), com percentagens de vitórias incríveis, quando os erros estão aí para ser registados? Ou será que o caminho imaculado do Benfica só não se traduz numa competição menor como a Champions, por manifesto desprendimento?

Vamos continuar a acreditar na propaganda, na imagem máxima de pessoas colocadas a dedo em canais públicos de televisão (Carlos Daniel), apanhados em almoços com dirigentes do SLB e que pactuam com a existência de redacções pagas pelo erário público, onde se exibem imparciais cachecóis e figuras do Eusébio?

 

ESCRITO POR Diogo Carvalho

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]