E pela segunda vez esta época, o Vitória de Setúbal sai de Alvalade sem saber como escapou a uma goleada. Se para o campeonato podiam ter sido sete ou oito (só à conta do Slim seriam três ou quatro), ontem podiam ter sido quatro ou cinco. Acabou empatado, resultado enganador e extremamente injusto para tudo o que estes miúdos, bem secundados por alguns graúdos, foram fazendo ao longo desta Taça da Liga. Mas já lá vamos.

O jogo até começou morno. Com Gauld lesionado, André Martins foi chamado a pegar na batuta da equipa e, justiça lhe seja feita, agarrou a oportunidade com unhas e dentes. E com classe (já agora, não continuem a pedir-lhe para ser dez). Numa primeira parte capaz de entusiasmar até o gajo mais rezingão da central, Martins esteve em praticamente todas as jogadas de perigo do Sporting, incluindo aquela que parecia inofensiva: cruzamento do médio, cabeçada de Tanaka, autogolo de Ney. Pimba. O domínio do jogo transformava-se em vantagem e os Leões não foram ingratos: como que agradecendo esse momento, partiram para meia hora de futebol asfixiante, corrido, entusiasmante, que transformou aquele guarda-redes como nome de cerveja numa das figuras do jogo.
Miguel Lopes deu para Tanaka e este, já dentro da área, calibra a mira muito por alto; novamente o lateral direito, que fez um bom jogo, a surgir embalado de trás, diagonal, remate cheio de estilo de pé esquerdo para defesa; agora Podence em remate fraquinho; Wallyson, que classe, lança Esgaio, cruza, Tanaka em pontapé Tsubasa para mais uma defesa (era um golo do cacete) que dá canto; canto, olha o Sarrrrrrrrrrrrr, cabrão do redes outra vez!; alguns minutos para respirar, livre, André Martins, à barra! dassssssssss!; olha o Wallyson, mete no Miguel Lopes, é agora… por cima… faltam cinco minutos para o intervalo, cartão vermelho para Lupeta por entrada muito dura sobre Wallyson. Aceita-se, mas, sinceramente, não me parece propositada. E já vimos tantos Maxis desta vida ficarem a rir-se depois de uma coisa destas que até estranhamos.

Intervalo e a pergunta que todos fazemos: “como é que só estamos a ganhar 1-0?!?”. E a pergunta repete-se, porque Esgaio, primeiro, e Rabia, depois, voltam a desperdiçar. E vem aquele bloqueio colectivo. Livre, bola metida na área, tudo a desistir das marcações, golo do Setúbal. Diz que faz parte do processo de crescimento, a nós, adeptos, tira-nos anos de vida. André Martins mete em Esgaio, bomba, poste! A equipa começa a ficar ansiosa com tanto desperdício. Tanaka tenta de pé direito, sai a fazer cócegas ao poste. Faltam quinze minutos, quem entra pouco ou nada acrescenta ao jogo. Que desperdício de talento, colocando em causa um mais do que merecido apuramento para as meias-finais.

Não sei o que acontecerá na última jornada nem se estes miúdos serão recompensados por tudo o que de bom fizeram. O que sei, ou melhor, aquilo de que tenho a certeza, é que esta Taça da Liga foi a que melhor serviu os objectivos do Sporting. Há quem defenda que temos mais é que entrar em todas as competições para ganhar e que o Sporting não é para andar a fazer experiências e a dar minutos de jogo aos menos utilizados. Eu consigo entender a má disposição. Afinal, é o Sporting e tudo o que meta a palavra “Sporting” e outra que não seja “ganhar”, tem o dom de deixar-nos com comichões. Agora, não contem comigo para ser hipócrita: defendi-o depois daquela nojenta final apitada pelo Lucílio e continuo a defender que depois desse episódio o Sporting mandava esta competição à merda e nem punha lá os pés. Acontece que os regulamentos obrigam à nossa presença e, assim sendo, o que se fez este ano já devia ter sido feito há mais tempo.

E, peço-vos imensa desculpa, mas dizer que entrar com os menos utilizados e com os miúdos não é digno do Sporting é coisa para deixar-me bem mais incomodado do que quando aquela triste figura do Jorge Jesus quis dar a entender que não levávamos a competição a sério. Mas estes jogadores não são do Sporting?!? Mas estes jogadores não têm qualidade para defender o Leão Rampante (se achas que não, ao menos dá-lhes a oportunidade de tentarem provar o contrário)?!? Mas estes jogadores fizeram algum frete durante os quatro jogos disputados?!? Bem pelo contrário, não é? Em Guimarães souberam ser humildes e certeiros; frente ao Boavista mostraram a todos o quão ridículo foi o alargamento da Liga; em Belém chegaram ao banho de bola e acabaram por perder fruto da inexperiência e da falta de rotinas enquanto equipa, obrigando o adversário a colocar em campo os melhores jogadores e o árbitro a tornar-se no palerma de serviço; ontem, voltaram a deixar-me de olhos a brilhar quando penso no futuro.

Claro que podes ser um marreta ou um ferrão (escolhe se queres estar no camarote ou viver num barril) e dizer-me: “futuro com o x e o y e o z e o h?”. Olha, ou até podes pegar naquela chamada nojenta do Record, onde se lê que o Marco Silva afirma que jogar no Sporting não é para toda a gente e fingir que não sabes que a frase contextualizada fica «Entrámos em todos os jogos para ganhar, e provámos em todos eles que esse era o resultado mais justo. A ideia era também lançar jogadores da formação da equipa B e alguns juniores, e isso foi conseguido. Assumimos alguns riscos, e sabíamos disso. Fizemos uma competição positiva, em que apareceram alguns jogadores desconhecidos. Quando se sente alguma pressão tudo é diferente, jogar no Sporting não é para toda a gente. Mas os jogadores têm sido fantásticos. Gostei muito da primeira parte, como no Restelo. Quando acontece uma ou outra coisa negativa, a equipa acusa isso, e mostra alguma imaturidade. Mas faz parte e só assim a equipa pode crescer.»

Chama-me optimista, chama-me o que te apetecer, mas para mim encontrámos a verdadeira utilidade da Taça da Liga. Agora temos um Tobias mais crescido, temos um enorme Wallyson, temos um Gauld cada vez mais de ouro, temos um Podence a maturar, temos um André Geraldes calar-nos a quase todos. Depois teremos o Gelson Martins e o Francisco Geraldes e o Domingos Duarte. E o Chaby, que já começou a aproveitar o empréstimo ao União da Madeira e marcou um belíssimo golo. Também podes acreditar que o Esgaio e o Iuri, por exemplo, vão ganhar o calo que lhes falta longe de casa. E vou parar por aqui, porque às tantas já me viraste as costas. Não as vires é a estes jogadores. Eu sei que até te podia dar jeito vir, depois, criticar o treinador porque não rodava a equipa nem dava oportunidades, mas não descarregues a fúria sobre quem acabou de mostrar saber defender a mais bela camisola do mundo.

tanakas