Caro Presidente do Sporting Clube de Portugal,

O futebol português está num clima efervescente. E os climas efervescentes são bons se se traduzirem num apoio salutar dos adeptos aos seus clubes, às suas equipas e os levarem a transportar para o estádio esse entusiasmo em forma de gargantas a rugir. Mas torna-se extremamente perigoso se redundar em actos de violência que transformem um espectáculo desportivo numa perigosa arena de combate e de troca de galhardetes. Os episódios recentes no jogo contra o Benfica, com o lançamento de “tochas” que puseram em perigo os adeptos da Bancada Norte, a que se tem vindo a seguir um escalar de acusações de parte a parte, não contribuem para uma competição saudável entre rivais históricos e fazem o simples adepto hesitar em ir ao estádio. E, caro Presidente, este ponto é fulcral para a mensagem que lhe queria transmitir.

Desde que tomou posse, que se percebeu quais as suas intenções relativamente ao Sporting. Devolver o orgulho a sócios e adeptos, reformar a estrutura de forma a torná-la mais eficaz e menos pesada, lidar com os problemas financeiros do clube – em grande parte fruto de sucessivas más gestões, para não dizer mesmo danosas – manter a aposta nas modalidades, quando não mesmo reforça-la, continuar a aposta na formação do Sporting e permitir a afirmação de jovens valores na equipa principal e, acima de tudo, devolver-nos aquela última parte da nossa quadra mágica, epíteto gravado a ferro em todos nós sobre o que é o Sporting, a Glória. Com o trabalho que tem desenvolvido, já me levou a mim, e mais uns quantos mil, a inscrever-me como sócio, inscrever o irmão caçula, contribuirmos os dois para a Missão Pavilhão, ter comprado a minha primeira Gamebox e levar pela primeira vez, no Domingo, jogo dos sócios, o meu avô ao novo Alvalade, ele que se tinha arredado destas andanças. Revejome na proximidade com os sócios e adeptos, passei, finalmente – e como desejei que chegasse, como chegou, o dia em que deixava de saber das contratações do Sporting pelos jornais desportivos – a só confiar nas informações veiculadas sobre o meu clube quando confirmadas pelos meios oficiais de comunicação do Sporting, revejo-me na luta levada a bom porto para pôr término aos fundos, e a menos frutuosa para acabar com, pelo menos, o clima de suspeição que se vive no futebol português no que diz respeito à actuação das equipas de arbitragens em certos relvados por onde passam.

Mas quando voltamos à discussão sobre este clima de guerrinha no futebol português, peçolhe, enquanto sócio e adepto, enquanto sportinguista, alguma contenção. Os dois mais recentes episódios que envolvem o Sporting Clube de Portugal implicam algum esforço de contenção da nossa parte, com o seu Presidente à cabeça, de forma a dignificar o nome do nosso clube. O vídeo da Sagres tem inúmeros defeitos, muitos deles de carácter subjectivo, como por exemplo o facto de ter qualidade fraquinha e ausência total de piada, mas não deveria ser alvo de repúdio por parte do Sporting. Sim, é maldoso e pode desestabilizar o jogador – coisa que duvido, que o Rui já não é o menino lançado às feras pelo não saudoso Bento – mas teria sido muito mais interessante esperar pelo próximo grande jogo dele – e, caramba, não teríamos de esperar assim tanto, que parece que ainda o estou a ver a esticar-se todo esta quinta-feira contra os alemães – e fazer um vídeo com as suas melhores defesas, quem sabe numa campanha patrocinada por quem também nos patrocina.

E, por último, este recente acontecimento com o jornalista José Gabriel Quaresma. Sim, não é em vão que revelamos, ano após ano, as vergonhas jornalísticas que se passam relativamente ao Sporting, que as denunciamos, que apontamos o facciosismo dos canais de televisão e da imprensa desportiva e que somos acusados de nos passarmos a vida a lamentar. Como o pior cego é o que não quer ver, nem este episódio do jornalista da TVI irá fazer mudar opiniões, nem revelar esta tendência jornalística. Um parêntesis: ainda me lembro do vaticínio dado na SIC Notícias pelos inefáveis Ribeiro Cristóvão e Bruno Prata, após o empate com o Maribor na Eslovénia, a seguir a três empates seguidos: “este Sporting morreu”, “não vai longe”, “não tem equipa”, “capacidade”, e outras asneiras do género, para a seguir virem dizer que afinal já éramos candidatos ao título na véspera do confronto com o Benfica em Alvalade. Não é novidade nenhuma, o que a casa gasta. E, neste caso em concreto, é expectável exigir do jornalista um pedido de desculpas ao clube, pelas declarações desprovidas de humor e que, no meu entender, representam um incitamento ao ódio. Mas, porque o #VocêsSabemLá não é um epíteto em vão, e porque se queremos ser diferentes, temos de ser diferentes, exige-se uma condenação veemente sobre as ameaças feitas ao jornalista e à sua família, numa demonstração clara de intolerância à violência e de que o Sporting é, como sempre afirmamos, diferente.

Como se podia ver no último jogo contra o Benfica, em Alvalade, e aproveitando para lhe endereçar os votos de continuação de bom trabalho, antes sós que mal acompanhados.
Saudações leoninas

ESCRITO POR João Duarte Albuquerque (Sócio 113563-0) e por Hugo Miguel Picardo Rosa (Sócio 27537-0)

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]