Um balanço de dois anos… é difícil fazer balanços presidenciais quando a temporada desportiva ainda não terminou. Queiramos ou não, a avaliação de qualquer Direcção está relacionada com a concretização de objectivos, e no caso do Sporting, esses objectivos são títulos. A percepção do trabalho desenvolvido por Bruno de Carvalho (BdC) e seus pares será diferente conforme se vença ou não a Taça no Jamor, ou conforme a equipa de futsal conquiste ou não todos os troféus em disputa. Porque a realidade é dura, e por mais bandeiras quee agitemos, formação, finanças estáveis ou ecletismo, no fim tudo, ou quase tudo, se resume a vitórias.

Sem entrar em metáforas ovinas ou fúngicas, convém lembrar um ponto: BdC não é ungido, não é perfeito, nem detém o toque de Midas. Contra algumas expectativas, revelou-se um ser humano, com fraquezas, e sujeito a cometer erros. Do mesmo modo que no futebol, a expressão “dar tempo aos jovens para crescer” se aplica constantemente aos jogadores, convém dar a mesma margem de manobra a um presidente que, felizmente ou não, ainda está a aprender e a crescer, tal como o treinador e os próprios jogadores. Por outro lado, é injusto fazer uma análise de alguns pontos que, sendo manchas no mandato, parecem estar a ser corrigos. Assim sendo, umas notas sobre o que foi feito, usando como pedra de toque as personagens de uma conhecida coboiada esparguete:

Bom
Finanças – inegável a recuperação financeira conseguida por este elenco directivo. Certo, a corda continua ao pescoço, mas já existe alguma margem para respirar. BdC aplicou a austeridade inteligente, reduzindo custos em toda a estrutura (o que incluiu despedimentos, o que nalguns casos traz dramas). Conseguiu recuperar partes importantes de passes de jogadores que, afinal, são os principais activos transaccionáveis da empresa Sporting. A renegociação com a Banca foi um marco, não pelas condições, mas pela demonstração de força que esteve ausente da mesa de negociações durante anos. E já agora, conseguir pagar a conta da luz a tempo e horas é coisa de valor, comparativamente com outros tempos.

Plantel – foi construído um plantel low-cost, a partir de cinzas de uma equipa desfeita. Mas um ponto importante foi a manutenção do esqueleto de um ano para o outro, o que é bom sinal. Caso mantenha essa filosofia, é uma mudança importante em relação ao passado recente. A equipa é competitiva qb, claro que faltam peças aqui e ali, podia estar mais forte, mas dada a conjuntura do clube e do próprio futebol português, foi montada uma equipa interessante e com bases para um futuro melhor.

Adeptos – a relação com a massa adepta melhorou a olhos vistos. Mesmo descontando algumas reprimendas desaconselháveis, é de realçar o esforço para aproximar o clube dos adeptos.

Ecletismo – a construção do pavilhão, a ser realidade (só acredito quando vir as paredes e o telhado :D), é um marco neste mandato, e ficará na História do clube. Nem vale a pena dissertar sobre o que o pavilhão significa, para adeptos e para atletas. O regresso do hóquei a modalidade oficial, a manutenção dos níveis competitivos do futsal e andebol, são outros pontos de destaque. Depois há tantas outras modalidades, o tiro, o judô, a natação, a ginástica, o atletismo… bem sei que o português, mesmo ligando peva a tudo o que não mete bola na erva, gosta de ver o seu clube ter secções de tudo e mais alguma coisa, mas o dinheiro não chega, e o desporto de alta competição (??) em Portugal está perto de ser uma piada.

Renovações – sim, fugiram alguns, outras renovações foram salomonicamente um desastre, mas o balanço é positivo. A maior parte dos jogadores renovaram o seu vínculo com o clube, acautelando o futuro.

Bruma e Cia – o clube teve um teste de fogo com Bruma, e passou com distinção. Não só pela vitória no processo, como pelo modo como este foi conduzido, sem excessos e sem parangonas. Todos saíram a ganhar, o jogador foi para o clube da sua vida, e o Sporting realizou encaixe interessante. Bruma entra naquela galeria dos jogadores que abandonaram o clube demasiado cedo, mas aqui haveria pouco a fazer. O mesmo com Illori… venda interessante a um clube de top europeu. Convinha o central representar bem a formação do Sporting lá por Inglaterra…

Negócios Estrangeiros – BdC versão embaixador tem estado bem. Não vale a pena lutar contra o sistema à marrada, porque o mais certo é os chifres partirem-se com o desgaste das investidas contra a parede. A opção de diplomacia externa é a melhor, especialmente se Sporting estiver do lado certo da História. Do mesmo modo, o dossier de mudanças criado é a demonstração de que o Sporting quer realmente mudar e regenerar o futebol português. Infelizmente, em Portugal valores mais importantes se levantam.

Televisão – boa ou má, é o clube numa plataforma que chega a milhões de pessoas. Tem pontos a melhorar, certamente, e irá evoluir, mas não deixa de ser algo de importante na divulgação da marca Sporting, e da realidade do clube.

 

Mau
Mercado – o ataque ao mercado não tem sido o melhor. Demasiadas contratações, muitos jogadores para certas posições, alguns critérios muito duvidosos (Shika… para alguém que dava primazia a jogadores bem comportados… pois). Por outro lado, o clube nota dificuldades em colocar os seus excedentes, seja por empréstimo, seja através de transferência. Claro que a postura perante os empresários não ajuda, mas é preciso refinar esta questão.

Equipa B – três treinadores, dezenas de jogadores, jovens tapados, outros estagnados, a equipa B foi uma balbúrdia. A prova? Limpa a casa, já há jogadores a mostrarem-se e os resultados a aparecerem.

Comunicação – a comunicação do clube tem deixado algo a desejar. E nem vale a pena entrar pelo site adentro, que este assumidamente é uma ferida que tem de ser tratada. São os comunicados constantes, muitos deles mal escritos, é a demasiada exposição do presidente, que acaba por banalizar algo que deveria ser especial.

 

Vilão
Rojo – o Sporting comprou uma guerra, cujo desfecho vai para lá dos milhões que o clube pode ter de desembolsar. É a imagem (do tipo que rasga contratos à moda do caloteiro; ou do que procura justiça, mesmo colocando em causa o seu bem-estar) do clube que está em causa, mas mais ainda, esta decisão pode (ou não) fazer jurisprudência e mudar o modo como clubes se relacionam com fundos quanto a transferências.

Quezílias – BdC comprou guerras, e muitas. Não vale agora especificar as razões ou consequências de cada uma, mas o facto é que são pelejas a mais para quem não tem muitas munições disponíveis. Algumas serão vencidas, outras perdidas, com as devidas consequências. Ainda assim, o clube não deveria abrir tantas frentes de batalha.

Presidente adepto – a maior crítica que faço a BdC é a de muitas vezes se mostrar um adepto ferrenho do clube. Realmente, ele dá a ideia de ficar f####o quando as coisas correm mal, e toma nas suas costas as dores de todos os sportinguistas que sofrem aquando de uma derrota. Sim, estávamos fartos da postura de Estado dos presidentes-banqueiros, a quem as  derrotas pareciam não afectar, mas há que manter uma postura de equilíbrio. Piadas ou provocações de tasca (sem ofensa ao estabelecimento) são de evitar, tal como puxões de orelhas  em redes sociais. Por outro lado, ter um presidente que sente o clube tem os seus benefícios. Concluindo, é algo como apanhar sol… tem de ser em dose controlada.

 

ESCRITO POR Nuno, o Frio

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