No momento em que vamos jogar a meia-final da Uefa Futsal Cup, vou abrir uma excepção e falar de futsal, uma modalidade que me é cara não só por ter praticado mas também por ser a única em que um colega de escola ou amigo da rua pode chegar ao topo, sem cunhas, sem empresários, apenas e só pelo talento cru detectado em qualquer ringue ou pavilhão.

O carácter bairrista do futsal é algo que me fascina. Ir jogar aos bairros fodidos não é muito diferente do que ir jogar ao Dragão ou à Luz. A única diferença é capaz de ser que nesses bairros, se tiver de ser, apanhamos mesmo nos cornos como gente grande, seja dos jogadores adversários ou dos adeptos. Se um jogador de futebol fica “borrado” por ir jogar ao Camp Nou ou a Old Trafford, então é porque claramente ainda não foi jogar ao ringue do Bairro da Boavista.

Numa altura em que o nosso futsal parece viver um momento de menor fulgor, seja por lesão de jogadores importantes ou pela proximidade desta meia-final, tenho de destacar um jogador, Diogo. Diogo é um “anti-craque”. A começar pelo nome. Não tem nome de craque, como Divanei, Deo ou Falcão. Tem um nome perfeitamente comum. Podia ser João, Pedro ou Ricardo (vejam lá que o actual melhor do Mundo, para ser respeitado, teve de usar o diminutivo!) Depois, não menos importante, é um verdadeiro jogador de equipa. Bem, na verdade, no futsal são todos. Mas Diogo é um jogador que tanto mete um companheiro na cara do golo, que com um simples drible tira adversários da frente, que mete a famosa bola no segundo poste para um companheiro facturar fazendo as delícias do treinador e que, quando a coisa aperta, também manda um míssil do meio da rua em direcção à gaveta. E que, para além de todo este repertório ofensivo, defende. E defende bem, usando o seu instinto e inteligência, seja para desarmar adversários ou para cortar uma linha de passe. É dos jogadores de futsal mais completos que já vi jogar. E é o nosso craque, o joker, a estrela. Mesmo sem o assumir ou mesmo sem ninguém lhe atribuir esse estatuto. E ainda bem. Sendo um “anti-craque”, Diogo sente-se livre para explanar toda a classe do seu futsal sem a pressão de ter de resolver todos os jogos. Porque se tivesse de o ser, se calhar já seria um Dioguinho ou um Digão.

As saídas de Deo e Divanei foram dois rombos na nossa equipa, não há como esconder. Mas as entradas de Diogo e Fábio Aguiar podem, a médio prazo, suprir essas saídas. Não porque estes sejam “melhores” que os predecessores mas simplesmente porque fazem coisas diferentes, sendo mais cerebrais e menos instintivos beneficiando jogadores como Paulinho e Marcelinho que, infelizmente, já podiam estar num nível superior se não fossem as suas lesões.  Mas lá chegarão. Em relação ao Diogo, acredito mesmo que vai rapidamente chegar ao patamar de rendimento do Divanei, creio até que já o está a fazer, embora os resultados da equipa não acompanhem a influência que o brasileiro está a ter. Porém, não nos podemos esquecer que é o seu primeiro ano no Sporting e, tal como toda a equipa, só tende a melhorar.

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Neste fim de semana, se existe alguém em quem eu deposito as minhas fichas para nos apurar para a final, esse alguém só pode ser Diogo. Benedito vai, como sempre, defender tudo com a paixão que se lhe conhece, o Caio vai, naturalmente, andar tipo uma aranha ao nível do chão a roubar bolas como doces a crianças, Cary vai, sem problema nenhum, teleguiar a bola com a sua fantástica canhota, Alex vai dar tudo o que tem e mostrar porque é um dos melhores goleadores que o Sporting já teve. Mas o Diogo…é gajo para resolver o jogo. Como já o fez contra o Movistar no apuramento para esta meia final (algo que nem o Divanei conseguiu) e como tem feito no campeonato. Quando chegar “aquele” momento em que precisaremos de um pormenor de génio para vencer o jogo seja num passe, num remate, num livre ou num simples movimento…Diogo vai dizer presente. E nós, delirantes, vamos olhar para a camisola 8, outrora entregue ao nosso Menino, e gritar (com todo o respeito): “Diva quê?”

Para terminar, quero deixar uma mensagem à nossa equipa: Confio em todos. Desde a lenda  Benedito ao jovem Miguel Ângelo. Não fosse este grupo e esta modalidade seria, certamente, um sportinguista bem menos feliz. Se há coisa que este grupo faz, de forma ininterrupta, é suar a camisola e dar tudo o que tem. As três primeiras palavras do nosso lema estão perfeitamente enraizadas no nosso futsal, fruto de um excelente trabalho do Miguel Albuquerque e do mister Nuno Dias. São o exemplo perfeito daquilo que o Sporting foi no passado e que queremos que volte a ser no presente e no futuro! E não vai ser um período negativo onde a cabeça dos jogadores está, naturalmente, no jogo mais importante das suas vidas que vai apagar nem muito menos branquear todas as alegrias que nos têm dado. Não tenho quaisquer dúvidas que vamos entrar concentrados, vamos dar tudo e vamos fazer das tripas coração para estar na final. E com a Onda Verde nas bancadas, seremos uma força imparável. Somos o Sporting! E se há grupo que percebe o que isto quer dizer, é este.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!