brunoDepois da entrevista do Presidente do Sporting caiu o carmo e a trindade depois da revelação bombástica de que o orçamento para a próxima época ainda não estava definido. Foram dadas duas justificações: a incerteza de uma entrada na Champions fruto de um play-off que ainda há para jogar e as dificuldades em arranjar um patrocínio para a camisola na próxima época. Antes de mais, é preciso quantificar isto. Quais os valores em causa? No patrocínio da camisola não tenho ideia mas creio que andará num valor até 5M. No caso da Champions estamos a falar de 12M. Tudo somado e, fazendo a conta por excesso, estamos a falar de um valor à volta de 17M, o que representa cerca de 2/3 do orçamento (25M).

Posto isto, é preciso percebermos o seguinte: pode ser uma verdade lapalissiana mas ainda assim tem de ser dita. Se não entrarmos na Champions, o orçamento não pode ser igual ao do ano passado. Alguma coisa terá de ser afectada porque estamos a falar de uma considerável diminuição de receitas. Pode ser feita uma inversão no investimento ou pode ser feita uma inversão na política salarial. Se a inversão for feita no investimento, parece-me claro que possíveis aquisições dependerão de possíveis saídas. Se a inversão for feita a nível salarial, possíveis renovações podem ficar congeladas ou, em última instância, impossíveis de se fazer. Em resumo, esperar um aumento (ou mesmo manutenção) do investimento realizado no ano passado e, ao mesmo tempo, esperar as renovações em alta de jogadores como Carrillo e Cédric é capaz de ser muito difíceis de realizar em simultâneo. É preciso garantir as receitas para se conseguir fazer isso tudo, receitas essas que poderão ou não chegar em Agosto, por altura do playoff da Champions. E não podemos esquecer-nos que no final de Julho teremos de apresentar um resultado positivo de 5M.

O que o presidente quis dizer na sua entrevista, a meu ver, não tem a ver com a indefinição do orçamento. Tem a ver com a possibilidade do mesmo ter de ser revisto em baixa. Claro que o Presidente sabe muito bem qual será o orçamento, não seria lá grande gestor se não soubesse. O que ele quer dizer é que sem Champions garantida não há palhaço. Muitos de nós preferiam ouvir a verdade, pura e dura. Mas também entendo que não se pode mandar uma mensagem ao mercado de que o Sporting está vendedor. Porque, no fundo, é isso que se estaria a dizer. Se as receitas extraordinárias não chegam de um lado, têm de chegar por outro. Para mim, a mensagem de Bruno de Carvalho é simples: “Vai ser fodido investir no próximo defeso. Mas isto não é uma tragédia porque temos um plantel que não queremos vender.” E isto tem vários alvos: Jogadores, Treinador, Mercado e Adeptos. Se há quem queira sair, ou rescindem pela cláusula ou esperam calmamente por uma proposta que agrade ao clube. Se há quem espere grandes reforços, que tire o cavalinho da chuva porque o Sporting não vai ao mercado sem dinheiro. Se alguém quiser algum jogador importante do Sporting que faça uma proposta atractiva para o clube. É isto que a entrevista deixou nas entrelinhas.

Assim sendo, vou fazer uma previsão. Acho que alguns titulares já têm o destino traçado e esse destino é mesmo a saída (Slimani e Jefferson). Também acho que os seus substitutos já estarão contratados ou em vias de. Acredito que William não vai sair, excepto se chegar a tal proposta irrecusável. E como William fez uma má época, duvido que a mesma chegue. Em matéria de renovações, Carrillo não vai renovar e, provavelmente, já existirá um negócio fechado a ser anunciado depois do Jamor. Já Cédric, não sei, mas acredito que renove porque se trata de um dos jogadores mais antigos do plantel e que traz uma mística que para os adeptos e direcção é sempre importante. O mesmo deverá acontecer com André Martins, embora não exclua a sua saída no próximo defeso. Creio que os casos mais complexos terão este desfecho. Os restantes, dependerão sempre da existência de propostas e da importância que o treinador lhes dará no cumprimento dos objectivos da próxima época.

Para terminar, é bom que tenhamos em mente uma coisa muito importante: escolhemos o caminho da Sustentabilidade e o de Fazer Mais com Menos. Isto quer dizer que não podem ser os orçamentos a definir os nossos objectivos, senão, pela lógica, teríamos de assumir uma luta pelo 3 lugar porque, nos próximos tempos, os rivais investirão sempre mais do que nós. Esta direcção fez-nos acreditar que existem outros factores, não financeiros, que desempenham um papel mais importante. Admitir que é o orçamento que define tudo é menosprezar conquistas como a do Hóquei ou justificá-las como mera “Sorte”. Tem de haver vida para além do dinheiro. Até porque já ficou provado que o dinheiro, por si só, não garante títulos. Isto não significa que não seja factor, que não deva ser bem aplicado ou que não ajude a aumentar a qualidade dos atletas. Mas no dia em que deixarmos de entrar em campo porque o adversário investiu mais, ou aceitarmos que trabalha melhor do que nós só porque tem mais dinheiro, esse será o dia em que deixarei de ser adepto. Simplesmente deixa de valer a pena…

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!