Ainda sem ter tido acesso a uma única crónica sobre o jogo de ontem, será fácil antecipar que se tentará fazer passar a ideia de que o resultado se deveu ao facto do Braga ter vindo desfalcado a Alvalade. E se não me custa reconhecer que os bracarenses podiam ser mais perigosos com Zé Luís na frente, também será justo reconhecer que, pela segunda vez esta época, o Sporting encostou o adversário minhoto às cordas e ganhou com inteira justiça.

E a verdade é que o Braga até partiu na frente do marcador, num penalti inexistente, a castigar suposta falta de Tobias sobre Pardo. A Xistralhada do costume, que não retirou confiança a uma equipa que, antes desse momento, já tinha mostrado um pouco do que se seguiria: grande combinação de Carrillo e Miguel Lopes, com o lateral a acertar num adversário e Montero a desperdiçar a recarga. Seria este o abre latas do Sporting, ao longo do resto da primeira parte. Sem acusar o golo, a turma de Alvalade fazia das combinações entre os laterais e os extremos a sua principal arma, completada em grande estilo com as movimentações de Montero e de um João Mário sempre em crescendo. O jogo interior a funcionar, alternando com o exterior, com um único problema: os bailados clássicos de Montero ajudavam a desmontar a defesa, mas, depois, o colombiano não estava na área para finalizar. Ainda assim, seria Fredy a fazer levantar as bancadas, à passagem da meia-hora: chapelada monumental a Matheus (a sério que há quem babe por ter este gajo como nosso guarda-redes?), devolvida pela trave. Na recarga, Carrillo marca, mas estava em fora de jogo. Para trás tinha ficado um remate do peruano, outro de João Mário, e seguir-se-ia um livre de Nani e um cruzamento açucarado de Jefferson a que ninguém conseguiu responder.

Xistra voltaria a ser protagonista, desta vez assinalando um penalti inexistente contra o Braga. Adrien não se fez rogado e diminuiu a injustiça num marcador que só não deu a cambalhota total porque nem William, nem João Mário nem Carrillo conseguiram transformar um golo uma sequência de remates (ficando a dúvida se algum deles foi cortado pelo braço). Mas este final de primeira parte, com cavalgadas rumo à área adversária, seria uma espécie de mote para o segundo tempo.

goloadrienbragaWilliam seria o primeiro a visar a baliza, de fora da área, seguindo-se um cruzamento de Carrillo para Nani cabecear ao segundo poste, por cima. Segue-se um canto e golo. Tobias, num pontapé de raiva em recarga a uma cabeçada de William, enxotava fantasmas e estendia a passadeira a uma jogatana como Alvalade merecia ver na despedida. William engolia o meio-campo, João Mário estava em todos os espaços entre a defesa e o meio-campo adversários, Carrillo era pura dinamite, Paulo Oliveira segurava tudo atrás e Adrien ligava todo este futebol. Pressão alta, muito alta, sobre um adversário encurralado na sua preferência de mandar biqueiradas para a frente em vez de tentar sair a jogar. O terceiro golo surgiria com naturalidade, num belíssimo pontapé de Adrien de fora da área.

O Braga estaria perto de reduzir, num livre de Danilo que cheirou a barra (note-se que os bracarenses não criaram uma oportunidade de bola corrida, fazendo chegá-la ao interior da nossa grande área), pouco antes de Alvalade aplaudir de pé o seu 77. Nani dava lugar a Mané e tinha o justo agradecimento dos adeptos por este seu regresso. E foi do banco, que o extremo veria o cruzamento de Carrillo para o golo de Slimani, ponto final de um jogo que Alvalade mereceu (tirando aquele momento ridículo de se festejar o golo do Belenenses) e que todos esperamos que venha a ser um prefácio para a final da Taça. Nem tanto pela goleada, antes pela vontade, pelo espírito, pelo futebol. Repetir a receita será meio caminho andado para estarmos mais perto da vitória.