Depois da bomba lançada por Bruno de Carvalho, a mensagem que que está a passar através dos órgãos de propaganda benfiquista é que Vieira tem a convicção que é a sua estrutura que tem sido responsável pelos últimos títulos do Benfica. Ao princípio, como todos nós, parti-me a rir. Os factos estão à vista: Antes de Jesus, Vieira tinha sido campeão apenas uma vez, depois do nosso actual treinador chegar foi três, com um bicampeonato que não existia à várias décadas. Depois, comecei a pensar e chego à conclusão que a estrutura do nosso rival é, realmente, de topo.

Antes de continuar, convém fazer uma distinção. A estrutura que me refiro não é mais que um Gabinete de Influências. Porque no resto, ou seja, na organização do futebol encarnado, nunca vi estrutura mais amadora. Afinal, estamos a falar da malta que durante anos andou a perder grande parte dos reforços do seu scouting para o Porto e que, mais recentemente, deixa dois dos seus principais activos entrarem no último mês de contrato para encetarem negociações (Jesus e Maxi). E, já agora, que se gaba de fazer ziliões em vendas sem conseguirem descer o passivo. Portanto, aqui, estou descansado. Esta estrutura é daquelas que eu gosto num rival, ou seja, altamente profissionalizada na incompetência. Compram muito, na maioria das vezes mal e ainda pagam balúrdios por jogadores claramente inflacionados. A grande verdade é que a estrutura do futebol do Benfica era constituida por Jorge Jesus, que trabalhava os jogadores, e Jorge Mendes que os promovia lá fora. Sem os Jorges desta vida, a estrutura encarnada vale tanto como o pé direito do Talisca, ou seja, muito pouco. A grande prova disto é que LFV anunciou, com toda a pompa e circunstância, uma forte aposta na sua formação e que ao mesmo tempo já somou mais 10 jogadores contratados aos 567 que já figuram nos seus quadros e, sob o manto do “desinvestimento” (pausa para rirem) resolve dar uma guinada na sua “estratégia” e garantir ao Rui Vitória um nível de qualidade semelhante ao que teve Jorge Jesus tornando ainda mais ridícula a decisão de não renovar com aquele que foi só o treinador mais ganhador dos últimos anos. Mas isto, é um problema do Benfica e do seu presidente já que cada um é livre de seguir a sua estratégia ou de iludir os adeptos com a existência de uma. Não é isto que me preocupa. Se fosse, bastaria sentar-me no sofá, pegar numas pipocas e assistir aos inúmeros tiros nos pés que o Benfica costuma dar em matéria de gestão desportiva.

O que me preocupa é a outra estrutura, ou como disse acima, o Gabinete das Influências e a sua elevadíssima “competência”. É público que o presidente do Benfica tem a convicção que ter pontas de lança nos lugares certos traz mais dividendos do que metê-los dentro da área a marcar golos. E nesse aspecto, tem sido coerente. Ao enorme investimento que tem sido feito nas suas equipas soma-se outro, de igual envergadura, nos órgãos de decisão do desporto em Portugal. No futebol, é sabido que o presidente da Comissão de Arbitragem, sob o manto de um falso sportinguismo, faz inúmeros favores ao Benfica nomeando os árbitros da sua preferência para os seus jogos e para os dos rivais sendo que alguns deles não se coibem de demonstrar publicamente a sua cor clubística tornando este cenário ainda mais vergonhoso e descarado. Não é inocente que o único árbitro que prejudicou o Benfica já foi enviado para fora da “elite”. Na relação com os clubes, o Benfica controla o Belenenses através de Rui Pedro Soares que lhes fez inúmeros favores durante as duas últimas épocas e foi o mentor da eleição de Luís Duque para a Liga. Na Federação aproveitaram um aparente litígio entre Fernando Gomes e o Porto para se aliarem ao mesmo colocando conhecidos benfiquistas como Paulo Bento, Fernando Santos, João Pinto ou Humberto Coelho em lugares de destaque na FPF sempre com a benção do seu parceiro, Jorge Mendes. Os dividendos estão à vista e têm sido decisivos na atribuição dos seus títulos dos últimos anos. Mas não é apenas no futebol. No hóquei, vi a arbitragem mais escandalosa vista em muitos anos numa final da Taça entre Benfica e Sporting que acabou o jogo com 1 GR e 2 jogadores de campo. No jogo 4 do playoff do futsal vi dois árbitros altamente concentrados nos movimentos do GR do Sporting na altura dos penaltys e a ignorarem por completo os movimentos do GR do Benfica. Tudo isto são os méritos da “estrutura”. Neste momento, o Gabinete de Influências do Benfica está, de tal forma profissionalizado e com tantos tentáculos à volta do desporto nacional que não tenho dúvidas que até no campeonato nacional do berlinde eles chegariam, se o Benfica nele participasse.

Por outro lado, tal como está referido no primeiro parágrafo deste texto, também existe uma estrutura de propaganda que faria corar o próprio Goebbells. Seja na imprensa televisiva como na SICNotícias, AbolaTV, CMT ou na RTP, seja na escrita com os dois jornais desportivos de maior tiragem e outros generalistas, o Benfica controla todos os comentadores e jornalistas destacados para comentar qualquer assunto da actualidade desportiva. E todas as opiniões, artigos, reportagens e notícias são dadas com a finalidade de branquear ou enfatizar de acordo com os interesses do Benfica.

O próximo ano poderá ser sintomático de tudo isto. A sul chamamos-lhe de “colinho”, a norte chamam-lhe de “manto protector”, expressões diferentes para identificar o assalto do Benfica às estruturas federativas, dirigentes e de comunicação social do nosso país. Nuns casos poderão haver situações ilícitas (afinal estamos a falar de um indivíduo que açambarcou 600M ao Estado) noutras trata-se apenas de falta de isenção aliada a um clubismo primário da maioria dos agentes. Nós, adeptos e contribuintes para a sustentabilidade do desporto em Portugal, não merecemos nada disto. Merecemos um desporto onde apenas a competência seja factor de decisão. Com Jorge Jesus, estamos mais perto de desafiar o dantesco cenário que descrevi acima. Os adeptos do Sporting sabem perfeitamente que não chega ser apenas melhor dentro do campo, temos de ser muito melhores. Finalmente, temos um treinador que é capaz de responder a esta evidência.

Portanto, espero que na próxima temporada Bruno de Carvalho esteja atento. Não podemos ficar calados quando vemos todo este cenário a acontecer mesmo à frente dos nossos olhos. Pessoalmente, não me interessa o estilo ou a forma das denúncias que temos de fazer, desde que elas sejam feitas. Espero que a reacção no futsal tenha sido o mote para uma postura mais agressiva no futuro. No ano passado assisti a um silêncio invulgar do nosso presidente, quiçá, por entender que o Sporting teve poucas razões de queixa da arbitragem. Acontece que existem inúmeras formas de viciar uma competição e a estrutura do Vieira é competente em todas elas, seja no benefício directo do seu clube, seja no prejuízo directo dos seus rivais, seja no incumprimento de regras de equidade como os empréstimos entre os clubes, entre outras. Este ano o Sporting está a apostar no futebol e quer regressar aos títulos. Não podemos deixar que o nosso sonho seja morto pela pandilha do costume…

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!