Já não deveria, passado estes 23 anos de casamento, surpreender-me com a família sportinguista. Mas, a verdade, é que este ano voltamos a provar uma capacidade incrível e bem vincada, que é a arte de ser verdadeiramente apaixonado por este clube.

Mudam treinadores, presidentes e jogadores (mais do que desejaríamos) e todos os anos se repete um entusiasmo contagiante, uma vontade fazer parte da vida deste clube e uma atenção a tudo o que se passa. Pelo terceiro ano consecutivo, o Sporting contrata o melhor treinador disponível no seu orçamento anual. Leonardo Jardim, seguido de Marco Silva, que antecedeu a “bicada do século”. Em todos estes princípios de temporada, a força leonina voltou a falar mais alto e, como sempre, são mais os felizes e ansiosos, que as vozes apregoadoras de desgraça. 20 mil gameboxes vendidas e renovadas (conseguiremos certamente chegar às 30/35 mil) é a expressão maior de que a família verde e branca estará pronta para mais um ano de luta, com o apoio incessante e a cultura de exigência que começa a regressar ao nosso ADN. Os reforços, com mais ou menos desconfiança, são bem recebidos, os que ficam idolatrados, a bancada sul promete voltar a encher e já se preparam os dias que antecedem a Supertaça. Uma forma de estar e sentir o clube que a mim me orgulha e que, com mais ou menos bipolaridade, prova que somos nós a força que não deixou cair esta instituição centenária.

É esta forma admirável de sentir o Sporting Clube de Portugal que nos faz ansiar por aquele reforço que imaginámos, que nos faz construir e desconstruir planteis vezes sem conta e que nos leva a discussões intermináveis sobre quem são, afinal, os jovens mais aptos para integrar a equipa. O Sporting e todos os que o compõe podem parar de nos pedir para acreditar neles, isso nós fazemos ano após ano, sempre com a mesma vitalidade e sempre com a mesma força humana. Algo que não estará ao alcance de todos os clubes que ganharam apenas dois campeonatos em 30 anos, muito menos integrados numa cultura latina que exige a vitória imediata e não tem tempo para brincar ao Liverpool.

Este ano estaremos ainda mais presentes, estou certa, porque o futebol vai subir de qualidade, porque ao Slimani e ao Montero vamos juntar os craques Teo e Mitroglou. Porque temos um gigante na defesa e um patrão que está um ano mais maduro. Porque o Adrien vai usar aquela braçadeira, como merece. Porque temos João, Gelson, Iuri e Mané, a fazer parelha com o bem aparecido Wallyson. E nem me façam falar da classe de um tal de Bryan Ruiz… E, por isso, vão nos perdoar por exigir mais e por querer mais vitórias, vão perceber aquele ocasional grito. Para todas as enormes expectativas que se criam, maior será a desilusão no momento de falhar.

Ainda assim, não deixo de me admirar, ano após ano, com esta nossa fantástica capacidade de gostar do Sporting.

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa