Terminado o jogo de Vila do Conde, há várias constatações que podem ser feitas de forma quase imediata: jogámos pouco e quase sempre mal; o empate seria o resultado mais justo; estes três pontos são daqueles que valem tanto quanto os que são conquistados com nota artística; estamos no lugar onde queremos estar: em primeiro.

A verdade é que já se sabia que não ia ser fácil. Nunca foi e, mais não seja por uma questão de karma ou o raio que o parta, jogar em Vila do Conde é sempre uma carga de trabalhos para o Sporting. Mas os primeiros dez minutos indiciaram precisamente o contrário. Equipa personalizada, como vem sendo hábito, capaz de entrar dominante e com as garras apontadas à baliza adversária. Carrillo dinamitava por um lado, Ruiz contava com o preciso apoio de Teo para fazer abanar o flanco oposto. Slimani estava no meio, provocando pesadelos aos adversários. De forma meio improvável, mas inteiramente justa, esse assalto inicial resultaria em golo. Abordagem patética de Wakaso, desviando a bola com o braço em plena grande área, num penalti que Adrien converteu com classe.

O mais complicado parecia feito e o Sporting podia embalar para um jogo onde obrigaria a pegar na bola um adversário talhado para contra-golpe. Pura ilusão. A um desastroso Adrien Silva no capítulo do passe (por cada bola que recuperou deve ter perdido outra), juntou-se um Aquilani em pezinhos de lã, verdadeiro farol quando tinha a bola em seu poder, mas com sérias dificuldades em ocupar o espaço quando estava sem ela. A dupla de médios funcionava mal, com a agravante do Rio Ave jogar com três homens no miolo. Dessa superioridade, resultou um futebol leonino ao soluços, sem alguém que fizesse as transições ofensivas. Slimani e Teo bem recuavam para distribuir e provocar as rupturas, mas as subidas em bloco não funcionavam. Com Ruiz no limite do esforço (isto ainda vai dar merda, estou só a avisar), sobrava Carrillo para criar os desequilíbrios.

O problema é que o peruano jogava praticamente sem apoio e teve que ser ele o apoio de um Esgaio incapaz de parar Zeegelaar, um defesa esquerdo que parece ter encontrado a sua verdadeira posição a extremo. Ora, sem médios que fizessem as transições, com um dos extremos nas lonas e o outro a abdicar dos sprints ofensivos para cumprir à risca as compensações defensivas… eclipsou-se o Sporting e apareceu o Rio Ave. Capela falha o empate de forma escandalosa na sequência de um canto, e ao fim de mais duas ou três ameaças sérias o tal holandês atira ao poste da baliza de um Patrício que foi um dos nossos melhores jogadores (enorme início de época do nosso número 1). “Queres ver que desta vez temos estrelinha?”, questionei-me eu e devem ter-se questionado milhares de outros leões e leoas. E estava eu a pensar nisso, quando Slimani aproveita um erro de Cássio e marca o segundo. Ok, era mesmo estrelinha, a mesma que ainda deve ter dado força a Ruiz para fazer um corte temerário numa sobra à entrada da área.

Jorge Jesus não mexia e a segunda parte começava como havia terminado a primeira: incapacidade de estancar as jogadas vilacondenses longe da área e o perigo a rondar a baliza de Rui Patrício. Oliveira ia sendo o porto seguro, enquanto Slimani inventava um quebra rins ao adversário e rematava fraco quando se pedia uma bomba a finalizar o que seria um golaço (grande jogo do argelino). Maior que esse, só se a tentativa de chapéu por parte de Carrillo, a partir do meio-campo, resultasse em golo. João Mário já estava em campo, ocupando o lugar de Ruiz e tentando equilibrar a luta no centro do terreno. Mas seria o médio, a meias com Jefferson, a abordar de forma patética uma bola caprichosa na grande área. Kayembe aproveitaria e colocaria na cabeça de Yazalde, para o 1-2. A equipa tremia, não segurava a bola e acumulava erros. Carrillo somava más decisões à incontornável fadiga, Teo há muito que pedia chuveiro. Jesus viu e decidiu bem, tirando o colombiano e lançando Mané. Sangue fresco lá na frente, estocada final num Rio Ave que também já não conseguia manter o ritmo. A incerteza no resultado mantinha-se, mas era o Sporting a conseguir estar mais perto do golo. Primeiro Slimani, à malha lateral, depois João Mário sem tesão suficiente para ultrapassar a oposição de Cássio. João Pereira ainda entraria para o lugar de Carrillo, estancando de vez as investidas adversárias por aquela ala.

Terminado o jogo de Vila do Conde, há várias constatações que podem ser feitas de forma quase imediata: jogámos pouco e quase sempre mal; o empate seria o resultado mais justo; estes três pontos são daqueles que valem tanto quanto os que são conquistados com nota artística; estamos no lugar onde queremos estar: em primeiro. Ah, e tivemos estrelinha. Não sei se terá sido de campeão, mas sei que brilhou no dia em que um dos nossos maiores campeões, Vitor Damas, foi homenageado com um vídeo que recorda as suas 50 melhores defesas. 51, se lhes juntarmos a de hoje.