brunoHá quem ache que até devia falar mais, há quem ache que fala quando tem que falar, há quem ache que fala em demasia. E, parece-me, discutir o estilo acaba por tornar-se meio disparato pelo simples facto de que, quando foi eleito, o seu estilo já era este e quem votou votou nesta pessoa (mesmo que parte do que vemos seja uma personagem, como ainda numa recente entrevista o próprio teve oportunidade de afirmar).

Falo de Bruno de Carvalho, obviamente, presidente do Sporting Clube de Portugal que, esta noite, volta a conceder uma entrevista (21h, RTP África e RTP Internacional, no programa Golo RTP, local perfeito para fazer uma piadola com “o nosso Enzo”, já que é Paulo Sérgio a conduzir o programa), depois das recentes entrevistas à TVi, à TSF, à SportingTV e à Antena 1. Ora, como seria de esperar, já há quem questione uma nova intervenção de Bruno de Carvalho. E, sim, à primeira vista pode parecer demasiado, mas…

Mas atente-se no teor das entrevistas de Bruno de Carvalho. Atente-se nos assuntos que colocou em cima da mesa, na sua ida ao Prolongamento. E atente-se na forma como esses assuntos foram tratados como se fosse João Gabriel a gerir a comunicação social deste país: folclore. Portanto, tal como cá dentro os lampinos podem fazer pontaria às bancadas adversárias sem consequências (ao contrário do que acontece lá fora, com dois anos de pena suspensa que, valha-nos o santo karma, há-de redundar numa vardascada tão grande que estes gajos não se esquecem), também podem ser deixados em cuecas no meio da rua que antes que alguém corra a puxá-las para baixo, alguém surge a cobrir os meninos.

A verdade é que, passados quinze dias, a máquina de propaganda encarnada foi capaz de ir abafando tudo o que os deixou de calças na mão. Ninguém se esqueceu, todos sabem o que se passa, mas uma sequência de acontecimentos, mesmo que ridículos, aumentam o tão desejado ruído. O exemplo mais básico dessa estratégia é o lançamento de algo tão patético como a valorização de cada lampião na fantástica quantia de um euro, exigindo a Jorge Jesus o pagamento de 14 milhões de euros. E, no meio de tudo isto, o impensável (ou talvez não): de um momento para o outro, era inacreditável que o presidente do Sporting tivesse aceitado ir a um programa como aquele, enfrentar uma personagem daquelas! Portanto, o presidente do Sporting passou a ser um louco que tinha ido a um programa de paineleiros e, imagine-se, tinha trocado galhardetes com alguém que (impensável, novamente) nem faz parte da estrutura do Benfica. A velha técnica da mentira que, repetida, passa a ser verdade.

E a verdade é que Pedro Guerra é um pau mandado da direcção lampiã e é alguém que faz parte da tão elogiada estrutura. Aliás, o próprio fez questão de sublinhar, nesse mesmo programa, o facto de ter convivido com Jorge Jesus durante seis anos. Mas que importa é esta poeira, eles alarido, este barulho que confunde e que faz eco. E faz eco porque, sai um elogio, a máquina de propaganda está bem montada e funciona entre paineleiros e capas de jornal, passando por rádios e pelos próprios comentadores que asseguram as transmissões televisivas das mais diversas modalidades (no fundo, é como ter o Marques Mendes a opinar sobre qual a decisão que o Cavaco deve tomar). A verdade, resumidamente, é que esta teia de brochistas permite a Luis Filipe Vieira manter-se na sombra, fazendo, aqui e ali, intervenções lacónicas e vazias e passando a imagem de bom rapaz que tudo o que quer promover é a paz no nosso futebol.

Neste cenário, os poucos comentadores ou editores que arriscam dar razão às acções do Sporting, são prontamente engolidos pelos dez ou doze que, no mesmo dia ou nos dias seguintes, fazem tamanho cagaçal que é isso que fica a buzinar nos ouvidos da maioria. Neste cenário, a solução foi Bruno de Carvalho chegar-se à frente. Só assim foi possível centrar atenções. Só assim foi possível ligar a ventoinha e espalhar a merda de forma a que o cheiro chegasse a um considerável número de pessoas. E não bastou falar uma vez. Duas, três, quatro. Mais esta noite. Porque por muito que nós partilhemos boas intervenções ou bons artigos, daqueles que dizem o que todos sabem mas que só alguns dizem, só quando o presidente do Sporting fala é que a mensagem fura o bloqueio.

É uma acção tão corajosa quanto arriscada, pois o desgaste na sua imagem acelera de forma incontornável. Mas ou é isso ou é deixar que se atirem factos graves para o baú onde cabem tantas outras vergonhas pintadas a azul e vermelho. E, sinceramente, mais do que estarem, feitos meninos de coro, a contabilizar o número de intervenções de Bruno de Carvalho ou a analisar a forma do seu discurso, centrem-se no conteúdo e mostrem a quem está a defender-nos que não está sozinho nesta incursão sem volta ao território inimigo!