Um clube como o Sporting é antes de mais nada um monstro de produção de eventos desportivos. Considerando esse mercado e todo o interesse mediático que as muitas modalidades atraem, somos naturalmente também um monstro de produção de notícias. Com o desagrado que a luta anti-lobbies desencadeou no mandato de BdC seria sempre natural que perante o vislumbre de sucesso, o Sporting e principalmente os atos de gestão e corpos dirigentes perdessem grande parte da “boa imprensa” que chegaram a ter no início.

Neste momento o Sporting é vitima, mas não pode continuar a fazer discorrer um eterno discurso de vitimização. Sim, as redações e alinhamentos opinativos estão a lascar paulatinamente a relação de confiança e mérito de BdC com a sua base de apoio. Sinceramente, durante muito tempo pensei que fosse impensável que levassem a água ao seu moinho, que fosse improvável que sozinhos, fossem quais fossem, os media não quebrariam o espaço de manobra desta direção. Pelo menos enquanto continuasse a tomar decisões úteis e objetivas. Hoje compreendo que estava enganado.

Uma sucessão vasta de ataques e uma campanha sem tréguas de muitos “haters” muito bem colocados nas TVs, Rádios e Jornais…estão a criar visivelmente dúvidas onde havia certezas, silêncios onde existiam vozes de apoio incondicional e principalmente ecos de minúsculos motins onde existia ecos vazio de fantasmas passados. As lágrimas, as expressões sisudas, os murros na mesa e as expressões fortes nos tempos de antena estão a começar a tornar-se repetitivas. A revolta está a diluir-se nas paredes autistas de uma comunicação social que recusa analisar argumentos e factos. O fim das democracias está no horizonte. O império do dinheiro tudo silencia. Os euros contam-se em qualquer lugar, em qualquer ocasião. Palavras como deontologia, isenção, verdade…caem no chão derrubadas pela sobrevivência dos ordenados e pela promessa de “venda” do que “vende”.

Os 6 ou 14 milhões vendem. Não porque sejam verdadeiros, mas porque constroem um imaginário de mercado. Porque edificam todos os dias uma noção de que as verdades “ao agrado” do maior denominador são melhores do que as outras. De que uma capa “vermelha” seja qual for a tanga de notícia que for, será sempre melhor que o maior furo jornalístico de qualquer outra cor. A mensagem de BdC e o reconhecimento do seu mérito teve, tem e terá sempre esse enorme handicap – não vende. O nosso presidente já o entendeu. Entendeu também que uma forma de chamar a si ou à causa leonina será gritar, ser polémico, ser dramático e sensacionalista…e funciona…everytime.

Apesar da descoberta tenho sérias dificuldades de entender se a mensagem do Presidente não se perde no estilo ou forma. Se o ruido com que atrai o foco não ultrapassa a força e razão do que quer dizer. Mais, com o tempo criará desgaste e rotina…e por mais que esbraceje ou escolha palavras bélicas, simplesmente perderá o “punch”, tornando-se mais uma trivialidade, um “boneco” que os “sóbrios e discretos” rivais podem expor e ridicularizar.

Confesso que já pensei muito sobre isto e a presença no Prolongamento só me fez ter cada vez mais a certeza que este caminho de grito de megafone em punho não é uma solução a longo prazo. Entendo também que não podemos esperar contrições dos media e ganhar não resolverá absolutamente nada. Bem pelo contrário…só agudizará o tom da crítica, pois a ameaça passará de potencial a real e se há coisa que o dinheiro dos grandes lobbies desportivos não gosta é de vencedores que o contestem.

O Sporting só tem um aliado nesta batalha. Os seus adeptos. E terá de se empenhar ainda mais (reconheço que existe algum esforço) na comunicação com os seus adeptos. Não somos tolos e há muito que grande parte dos adeptos, especialmente os mais jovens leu a situação aqui descrita e lê, informa-se e partilha informação nos canais oficiais do clube e redes sociais (muitas delas) mantidas por outros adeptos. As opiniões confiáveis aos olhos leoninos são cada vez mais os grandes bloggers que temos espalhados por dezenas de grandes espaços virtuais que souberam aceitar essa missão e responsabilidade.

Só o Sporting (dirigentes actuais) é que ainda não entenderam que a cada mês que passa locais como esta Tasca têm cada vez mais relevância estratégica. Hoje são uteis, no próximo ano serão importantes e daqui a dois anos serão essenciais. No futebol, ainda ninguém espreitou o mundo lá fora. Ainda ninguém acordou para o mérito e valor do que fazem centenas de anónimos para todos os dias, desinteressadamente, defender as cores do nosso clube. As grandes empresas mundiais já estão numa fase 3.0 de relacionamento com os seus “embaixadores virtuais”…mas o futebol ainda nem sequer passou da versão beta. O tal isolamento comunicacional podia e devia ser o último push para que esta direção fosse a primeira a criar as pontes necessárias para tornar os muitos “WebTascos” seus aliados (independentes claro) e partilhar informação para que chegue de forma mais clara e rápida aos adeptos (que é disso que se trata). Ao persistir em ignorar um futuro inadiável ou uma solução acessível e razoável…é como persistir em gritar que se tem sede, quando têm uma quantidade infindável de gotas de água a cair à sua volta.

Não sou dono de nenhuma verdade, mas os “atrasos”, especialmente de mentalidade, provocam-me elevadas doses de indignação. As tendências de comunicação e evolução dos fenómenos de consumo de informação e entretenimento estão todos aí ao dispor de um clique. Será que o futebol é diferente? E se o é…deveria continuar eternamente a sê-lo?

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca