Fui editor de um blog sobre o meu clube de futebol do coração, o Sporting Clube de Portugal, que se tornaria um espaço de referência entre a comunidade sportinguista e na blogosfera portuguesa especializada em futebol. O blog “Leão da Estrela”, cujos conteúdos ainda estão disponíveis (http://leaodaestrela.blogspot.com), chegou a ser lido por milhares de sportinguistas e as ideias nele expressas foram frequentemente citadas na imprensa. Por causa do blog, cheguei a dar entrevistas à televisão, jornais e revistas. O blog transmitia uma forte paixão pelo Sporting e uma independência crítica em relação ao modo como o clube era gerido. E apontava soluções.

A experiência de escrever o blog, que começou como uma forma de ocupar algum do meu tempo livre partilhando informação sobre o clube, transformou-se num laboratório que serviu para eu compreender a força da comunicação digital e, sobretudo, para apreender métodos eficazes de comunicação através da Internet e formas de reação à crítica, que chega a ser extremamente violenta, sobretudo em função das paixões exacerbadas que rodeiam as discussões sobre futebol.

O primeiro post do blog “Leão da Estrela” foi publicado no dia 23 de agosto de 2006. Um ano depois, fui assistir à final da Taça de Portugal, que o Sporting conquistou, após ter ganho por 1-0 ao Belenenses. Foi um dia contraditório. A alegria de ter ido à festa do futebol no Estádio do Jamor e de ter comemorado a vitória do meu clube estava manchada pela impossibilidade de poder entrar no meu blog sobre o Sporting para atualizá-lo com textos e fotografias. O meu espaço teria sido atacado por algum perito informático e a solução foi mesmo abrir um novo espaço. Em vez de “O Leão da Estrela” – título do mítico filme português do tempo dos “Cinco Violinos” – o blog passou a designar-se “Leão da Estrela”.

Aos poucos, os leitores fiéis reencontraram-me no novo endereço. E, entretanto, chegavam alguns emails solidários. Um deles dizia assim: “É bom verificar a volta de um grande sportinguista ao mundo cibernético. Espero que se resolva tudo em breve com a Google, pois o “Leão da Estrela” tem de continuar ativo e com todo o historial que já tinha. Continuo a aguardar o início da nossa parceria. Fico a aguardar o seu contacto. Força e boa corte. Um abraço.”

Este email era assinado por Bruno de Carvalho, que se apresentava como responsável pelo site Centenário Sporting, projeto que, salvo erro, tinha o patrocínio de uma empresa de construção civil. Eu não sabia quem era Bruno de Carvalho. E no meio da agitação, suscitada pelo problema com o meu blog, também não procurei saber. E, diga-se, não estava muito interessado em parcerias. O blog era um mero passatempo individual de um adepto que vivia a 350 quilómetros de Lisboa. E, sem elegância, nem respondi ao email, tanto mais que, uns dias depois, verifiquei que o site Centenário Sporting tinha começado a publicar alguns conteúdos do meu blog, mencionando, sempre, a autoria – pelo que fiquei com a ideia que a pretensão de Bruno de Carvalho estaria satisfeita.

Recordo este episódio, para lembrar que a candidatura de Bruno de Carvalho à presidência do Sporting Clube de Portugal, que aconteceu, pela primeira vez, em 2011, foi o resultado de um trabalho milimetricamente preparado, tendo tido a Internet e as redes sociais como instrumentos preferenciais do candidato para fazer uma comunicação direta com o mundo sportinguista. Foi na Internet que o projeto de Bruno de Carvalho ganhou corpo e se transformou numa alternativa de poder no Sporting Clube de Portugal, então dominado pelas elites da banca portuguesa.

Uma vez eleito presidente, na segunda candidatura, em 2013, Bruno de Carvalho procedeu a mudanças enormes na gestão do clube, mas continuou fiel a si próprio ao nível da comunicação, sendo praticamente impossível conter o modo frenético como comunica a qualquer hora do dia com os sócios e simpatizantes do Sporting Clube de Portugal, através da sua página no Facebook, onde mistura postagens sobre posições oficiais do clube com desabafos pessoais ou imagens da esfera privada e familiar.
Um conselheiro de comunicação diria a Bruno de Carvalho para ser mais contido, mais resguardado ou mais institucional, não respondendo a protagonistas menores ou deixando essa missão para outras figuras da organização que lidera. Também lhe diria para construir uma imagem pública apaziguadora e magnânima, para suportar as cruzadas que tem protagonizado contra poderes instalados, em nome da regeneração do futebol. Mas o presidente do Sporting faz gala da imagem de um presidente-adepto, que está em todas, que respira o ar do clube 24 horas sobre 24 horas e que sente o clube como ninguém, contrastando com os presidentes anteriores, frios e distantes, que diziam reservar 3 horas por dia para o clube, com os maus resultados que todos conheceram. É um novo paradigma no Sporting Clube de Portugal, um paradigma mais popular, mais exigente, mais do mundo do futebol, como nunca se tinha visto nos corredores de Alvalade – outrora mais frequentados por dirigentes “aristocratas”.

A verdade é que Bruno de Carvalho não precisa de fazer muito para encher o espaço mediático com a sua voz grossa: basta-lhe escrever no Facebook e ir à televisão do clube, a Sporting TV, para ocupar o espaço mediático – sempre em defesa do clube e não deixando ninguém sem resposta ou sem recado, inclusive, funcionários ou figuras menores de clubes adversários. A mensagem do dirigente leonino propaga-se a grande velocidade, desde logo nas redes sociais, e, depois, sob a forma de notícia, porque os meios de comunicação, em especial os jornais desportivos, que há 20 anos só publicavam conteúdos exclusivos, transformaram-se em difusores de todas as declarações, em função de uma concorrência feroz.

Deste modo, o presidente do Sporting Clube de Portugal é talvez a figura pública portuguesa da atualidade que melhor utiliza a Internet e as redes sociais para comunicar com os seus públicos sem o filtro dos meios de comunicação social. E garante a presença nos meios de comunicação porque eles publicam tudo e repetem-se uns aos outros.
Nos primeiros dois anos da sua gestão, esta “comunicação frenética”, como eu a designo, colocava Bruno de Carvalho muito em evidência, transformando-o no único grande protagonista do clube. Mas a estrondosa contratação de Jorge Jesus, em 2015, treinador bicampeão nacional ao serviço do Benfica e, por isso, celebridade no futebol português, diminuiu os holofotes que focavam o presidente. Hoje, o projeto desportivo do Sporting assenta na comunicação frenética e nas decisões de gestão do presidente Bruno de Carvalho e no trabalho competente e incansável do treinador Jorge Jesus, que, ainda há dias, confirmou aquilo que alguns já sabiam: é capaz de perturbar o sono dos elementos da sua equipa técnica a qualquer hora da noite só para partilhar uma ideia sobre o treino do dia seguinte.

No fundo, tanto o presidente Bruno de Carvalho como o treinador Jorge Jesus são incansáveis no seu trabalho e essa dedicação total e exclusiva transmite ao clube a urgência de ganhar, estimulando o empenhamento de todos na concretização dos objetivos da organização, nem que para isso tenham de assumir riscos. Depois de anos afastado da luta pela conquista do titulo de futebol, é assim que está em reconstrução uma cultura ganhadora no clube de Alvalade. E, contra as previsões iniciais, o Sporting Clube de Portugal segue na liderança do campeonato português de futebol, sendo notórias as vitórias categóricas sobre FC Porto e Benfica, os adversários diretos. O que significa que a estratégia está a resultar.

Texto escrito por Luís Paulo Rodrigues
* “outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom se vai escrevendo na blogosfera verde e branca