Bem, estou a escrever isto pouco mais de 1 hora depois do jogo terminar, o que é inédito pois espero sempre mais algumas horas para clarificar os pensamentos e afastar tudo o que venha do calor da hora, porém tendo em conta que o jogo se realizou a uma hora tardia e que eu, na maior das sinceridades, me sinto capaz de escrever uma análise que, acordando amanhã de manhã, não diga nada como ‘estava de cabeça perdida’, aqui vamos nós… 

Que desilusão, Sporting. Por norma, não passo muito tempo a pensar no título das crónicas dos jogos do Sporting e hoje demorei ainda menos até chegar a este. Tinha parado para pensar, para com os meus botões, algumas horas antes do jogo, em todos os cenários com que nos poderíamos deparar no final deste jogo. No melhor possível (e aquele que, sem dúvida, acreditava ser o mais provável), ganhávamos por 2 ou 3 e isolávamo-nos no topo do campeonato, com 4 pontos de avanço sobre o Benfica e com 7 sobre o FC Porto que, também seguindo a ideologia de melhor cenário possível, perderia em Braga. No segundo cenário, pensei num empate entre Sporting e Benfica (aqui torcia um bocado o nariz, mas acreditava que seria o 2º cenário mais provável, quase tão provável como a vitória leonina, na verdade) e na vitória do FC Porto em Braga. Aqui continuaríamos com 1 ponto de avanço sobre o Benfica mas teríamos a enorme dor de cabeça que seria o facto de ainda nos termos que deslocar ao AXA e ao Dragão, ao contrário do Benfica que, de jogos ‘difíceis’, só teria as receções aos bracarenses e aos vitorianos (os do norte) e a vista aos madeirenses do Marítimo. Num último cenário, o pior, em que não pensei muito porque não gosto de ser pessimista, imaginei uma derrota do Sporting (e essa derrota tanto poderia ser por 1 como por 3) e, claro está, na vitória do FC Porto no norte. Aí ficaríamos 2 pontos atrás do Benfica e com apenas 1 ponto de avanço sobre os azuis e brancos.

Que desilusão, Sporting. Daqui veio o título. Por isso foi tão fácil escolher! No final do jogo, lembrei-me logo desses cenários que tinha colocado antes. E, por ter-se tornado realidade o pior que imaginei, chamei-lhe uma desilusão, e com razão. Odeio desiludir-me, odeio confirmar que o meu pessimismo está certo. Até porque eu nem sou pessimista. Até porque eu nem pensava que íamos sequer tremer neste jogo e sairíamos com uma vitória gorda. A realidade é que perdémos. Dominámos, sem dúvida, enviámos uma bola à trave, o Ruiz apanhou diarreia cerebral em dois momentos cruciais… mas perdemos. É esse o fator chave e é sobre essa realidade que temos de trabalhar de hoje em diante. Injustamente ou não.

Falando sobre o jogo em si, penso que é óbvio que o Benfica entrou melhor. Mais pressionante, a chegar mais vezes à nossa baliza. Os nossos jogadores, talvez afetados pela enorme onda verde que se gerou nos momentos e horas antes do jogo (a receção ao autocarro em Alvalade foi incrível), tremeram demasiado nas fases iniciais. Demasiados passes falhados, demasiadas perdas de bola e falta de um fio de jogo credível que nos levasse até à baliza contrária. Posto isto, o golo vermelho podia muito bem ter sido visto por mim com muita mais surpresa – foi de certa forma expectável.

Marcaram num ressalto, o que pode ser considerado sorte, mas lembrei-me, nessa altura, do jogo da Supertaça no Algarve, em que marcámos de ressalto e em que levámos a Taça graças a isso. Por isso acalmei-me. Lembrei-me depois do jogo da Taça de Portugal, em que também começámos a perder em Alvalade contra o Benfica através de um golo do mesmo jogador – e em que empatámos à boca do intervalo com o golo do Adrien. Nessa altura, o único mau pensamento que passou pela minha cabeça foi o facto de que na Taça de Portugal só demos a volta ao resultado no prolongamento – e hoje nem havia prolongamento nem o empate nos servia, tendo em conta o calendário difícil que temos pela frente, ao qual já fiz referência em cima.

Acreditava, porém, que íamos dar a volta. Tinha uma confiança enorme de que íamos dar a volta. E a forma como a equipa jogou nos últimos 5/10 minutos da 1ª parte dava-me essa indicação. Fiquei com pena que tivéssemos mesmo de ir para intervalo naquela altura pois dava a ideia que o jogo poderia mudar positivamente para o nosso lado (empate) a qualquer altura. Tinha medo de que na segunda parte o Benfica voltasse a entrar por cima.
Tal não aconteceu, e o Sporting conseguiu também dominar a segunda parte, em que se viu, em quantidades maiores e mais notáveis, as atitudes de equipa pequena que o Benfica mostrara nos minutos finais da primeira parte – os jogadores que caíam demasiadas vezes para o chão, as substituições que demoravam séculos e as bolas bombeadas para campo depois de serem marcadas faltas/lançamentos, tudo para atrasar um eventual golo de empate leonino, segundinho após segundinho. Já estamos muito habituados a isto, infelizmente. Na semana passada, o Vitória de Guimarães confirmou, através desse tipo de anti-jogo, que era uma equipa pequena. Hoje o Benfica também teve esses tiques, talvez numa quantidade não tão grande mas também em quantidades fáceis de denotar. Não é que o Benfica seja uma equipa pequena, mas sim que contra nós, no jogo de hoje, jogou como uma equipa pequena. Talvez porque se lembraram do que aconteceu nos últimos 5 jogos contra FC Porto/Sporting. Talvez porque tiveram medo de nós. Talvez não, é óbvio que tiveram medo de nós. Mas em frente…

Que desilusão, Sporting. Mais um motivo para o título ter sido este: o Sporting não só não conseguiu dar a volta como também não conseguiu sequer fazer o empate. E, claro, a lengalenga do costume: o Jefferson espetou um balásio na trave, o Ruiz teve um falhanço inacreditável e por aí vai. A bola não entrou e eu já me fartei desta história do ‘se… tinha entrado’. Não entrou, ponto final. Dominámos mas não ganhámos e dominar sem ganhar não serve de nada uma vez que não nos dá ponto algum. Assim é o futebol.

Foi mais um daqueles jogos em que fui confirmando, a pouco e pouco, que o Sporting me ia desiludir uma vez mais. Que as bocas que os nossos rivais nos tinham mandado – nomeadamente a da ‘escorregadela com destino ao 3º lugar’ – talvez tivessem um pingo ou um todo de verdade. Todos estes pensamentos me vieram à cabeça enquanto via o Sporting instalado no meio-campo do Benfica nos minutos finais a trocar a bola, sem ser capaz de criar jogadas que propiciassem o empate. Tic, tac, tic, tac… e confirmou-se. Mais uma derrota frente ao Benfica, mais uma liderança perdida, mais um sapo engolido… enerva porque já vi este filme demasiadas vezes. Muitas vezes, mesmo.

Ao falar com um amigo, depois do jogo (amigo esse que só diz merda quando o Sporting perde e se cala bem caladinho quando ganha), disse-lhe que já esta época seria tardíssimo para o Sporting ser campeão. Já teríamos passado 14 anos sem ser campeões. Por este motivo, parte da minha ‘fome’ de campeonatos, parte das minhas ganas para ver o Sporting campeão tinham-se esvanecido com o passar dos anos. Quando uma coisa demora demasiado tempo, quando leva muito tempo extra para além do que devia levar, perde parte do sabor, uma vez que, de tanto esperar, as pessoas cansam-se de criar expetativas sobre quando realmente chegará. Que o Sporting voltará a ser campeão não tenho grandes dúvidas, porém depois de tantas desilusões ao longo das últimas épocas, temo que esse dia se vá arrastando, arrastando e arrastando… como uma pedra no mar.

Daqui vos escreve um adepto que já largou a frustração de ver o rival vencer em Alvalade novamente e que, neste momento, apenas sente tristeza e desilusão, o tal sentimento que só costumo sentir no dia seguinte mas que hoje, por uma razão ou outra, chegou mais cedo. Como óbvio, há quem ainda crie bodes expiatórios para justificar uma derrota que nos foi atribuída justa ou injustamente, dependendo da perspetiva. Há quem ainda deite as culpas todas para cima do Bryan Ruiz. Por falar nele, depois daquele falhanço tive pena dele e isso é inédito pois normalmente largo um berro enorme, que seria, supostamente, o início de uma celebração de golo que, com o aperceber de que tal não irá acontecer, se torna num ‘Goooaiiiii!’.

Tive pena porque ouvi Alvalade e senti, na voz de todos, o que ia no meu coração. Como é que aquele gajo nos tinha feito aquilo! Ao olhar para a cara dele, coloquei-me na pele dele e pensei como teria sido se fosse eu, ali com a verde e branca, a falhar um golo daqueles num jogo destes. E custou-me ainda mais emocionalmente. Se o Bryan fosse meu familiar, teria ficado com o coração nas mãos. Como não é, fiquei simplesmente com pena dele pois consegui ler, na linguagem corporal dele logo depois daquele lance, a mágoa e a desilusão. E quando nós próprios conseguimos perceber um sentimento apenas olhando para uma pessoa, significa que dentro dessa pessoa o sentimento se está a dar em ainda maiores proporções do que aquelas que nós, do nosso canto, imaginamos. Por estes motivos, mantive-me calado, Ruiz. Apenas sussurrei um ‘era o golo do empate, aqui, feito’ ao ver a repetição. Mas bem baixinho, para não ouvires e para não acrescentar nenhuma gota de mágoa àquela que já se via claramente na tua cara. Continuo-te a achar dos melhores a vestir a verde e branca, não te preocupes.

Agora… ficamos com 2 pontos de atraso para com o Benfica, no 2º lugar, e sem depender de nós mesmos para sermos campeões. Pois é, nesta época, em que dava a impressão que talvez agora fosse a vez… as coisas complicam-se. Não se impossibilitam como os habituais profetas da desgraça afirmam, mas complicam-se e muito. Da mesma forma que antes do jogo sabia que ainda faltavam 10 jornadas para o fim, agora continuo ciente de que ainda faltam 27 pontos para conquistar. O problema, claro está, é que, mesmo que conquistemos esses 27 (e aqui incluo vitórias em casa do FC Porto e do SC Braga), podemos perder o campeonato. Basta que o Benfica vença todos os jogos até ao fim, e nesse objetivo a missão deles é bem mais fácil que a nossa. Por este motivo, considero que as nossas aspirações ao título se complicaram e de que maneira hoje. Mas lembremo-nos sempre que ainda falta muito campeonato, por mais que queiram apregoar o contrário.

Pois é, Sporting… aconteça o que acontecer, o meu amor à verde e branca não irá mudar. Seja qual for o desfecho desta temporada, vou sempre ter orgulho em dizer que sou do Sporting. Mas… a felicidade de te ver campeão, quando me a vais dar? É que da minha parte e da parte de todos os adeptos, nada falta. Esquecendo os ‘adeptos de ocasião’ que nestes momentos te atacam mais que a comunicação social encarnada, todos nós estamos do teu lado e acreditamos em ti. Por mais que nos venhas a desiludir, uma vez mais.

 

ESCRITO POR Bombas
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]