Estou a escrever isto no domingo à tarde, ainda a ressacar da derrota e com uma má disposição do caraças. Dormi mal e acordei não sei quantas vezes com um nó no estômago. Não me apetece falar e não me apetece estar com ninguém. Nem me apetece estar com a minha namorada, que ainda por cima é do Benfica. Para piorar, estou de muletas e nem sequer posso ir dar uma volta como deve ser para desanuviar. Foda-se. De manhã quando entrei no café do costume a primeira coisa que ouvi foi o empregado a dizer que o Sporting “ainda ia ajoelhar” quando fosse às Antas e que vai acabar em terceiro. Quase me vim embora, mas como não havia mais nada aberto fiquei. Abro a Bola e começo a ler sobre a “grande vitória do Benfica” e constato que nem sequer está de acordo com o que um velho fanático do Benfica está a dizer, encostado ao balcão “Só rematámos uma vez mas entrou e isso é que conta”. Fecho a merda do jornal e começo a comer.

Não sou um lírico do futebol. Jogar bem e depois perder é como passar a noite a pagar bebidas a uma miúda e no fim aparecer outro gajo e levá-la para casa. Não me sai da cabeça o falhanço do Ruiz de baliza aberta. Apetece-me culpá-lo da derrota e pelos 2 pontos perdidos em Guimarães. Mas também já tive semanas de cão e sei como é. Afinal de contas o homem não teve férias de Verão e tem jogado sempre. Só me apetece dar-lhe um abraço e dizer-lhe que não existem nem bens eternos nem males que durem para sempre. Mas não é só a ele que estendo a minha solidariedade. Jogar contra Leverkusen na Alemanha na quinta-feira, depois contra um Guimarães agressivo e fresco (fora) na segunda-feira e, finalmente, jogar contra o Benfica repousado ao sábado, que aos 20 minutos se vê a ganhar sem saber como, é dose.

Tal como muitos adeptos, tenho sentido as nossas exibições em plano inclinado. A começar no empate contra o Tondela, que teve sequência no empate contra o Rio Ave. Os nossos rivais também o sentem e têm-se alimentado disso. Desde há semanas que ando a ouvir lampiões a dizerem que o Sporting está a fraquejar. Por isso é que ordinário do Mourinho foi escrever no Record que o Sporting está em primeiro “…por enquanto”. Os adeptos têm sido excelentes no apoio. Mas o jogo decide-se no campo, graças à qualidade dos jogadores e à competência do treinador. Nós ajudamos a partir das bancadas, mas o futebol é um jogo de homens contra homens e decide-se entre eles.

Não sei dizer se isto foi o princípio do fim do sonho de conquistar o título. Hoje tive momentos em que me pareceu absurdo preocupar-me com futebol. Porquê dar importância a futebol quando se vê um Renato Sanches ter uma entrada assassina contra o Ruiz e não ser expulso? Ou ler que o Benfica não sofre um penalty há 2 ou 3 anos? Gostava de viver noutra época, em que a arbitragem não fosse dominada pelo Benfica ou Porto, em que o Paços de Ferreira não juntasse 6 lesionados aos 3 impedidos no jogo contra o Benfica, enquanto negoceia o Diogo Jota também com eles. Mas são estas as circunstâncias em que vivo e acredito muito nas forças que lutam contra esta pouca vergonha. Uma delas é o nosso Presidente Bruno de Carvalho que continuarei a apoiar. Anteontem foi aprovado o período de testes para o vídeo-árbitro. E no início da época a maioria dos clubes foi favorável ao sorteio de árbitros. Há esperança para o futuro. Mas agora não adianta pensar nas nossas futuras arbitragens nem nas dos rivais. Temos de fazer o nosso melhor, em todos os momentos e pensar naquilo que depende de nós.

Em relação às consequências do que aconteceu ontem, caberá aos nossos jogadores e ao nosso treinador decidirem o que querem fazer até ao fim da época. Se decidirem desanimar, baixar a intensidade e empatar ou perder com Estoril e Arouca nós, os adeptos, não podemos fazer nada. Não estamos em condições físicas para fazer 90 minutos ao mais alto nível pelo corredor esquerdo. Não sabemos marcar os cantos melhor que o Jefferson, não chegamos mais alto que o Coates e não sabemos fazer modelos de jogo melhores que o do Jesus. Podemos gritar o que quisermos da bancada e cantar o Mundo Sabe do fundo da alma à vontade. Nada disso fará qualquer diferença.

Mas se decidirem entrar com tudo contra o Estoril e Arouca e encararem o jogo unidos, se se prepararem com rigor e concentração e disputarem cada bola e cada lance como Leões, nós, os adeptos, estaremos convosco até ao fim. Dêem tudo nestes 9 jogos e ponham tudo o que são no mínimo que fazem, em cada exercício, em cada treino em cada jogo. Que ninguém chegue a Maio a pensar em “ses”. Se tivesse corrido mais para acompanhar o extremo que fez aquela assistência? Se tivesse estudado melhor os movimentos daquele ponta-de-lança? E se não tivesse ficado a olhar enquanto o trinco adversário iniciava o contra-ataque? No regrets. A bola está do vosso lado e têm duas opções. O que é que vão fazer?

ESCRITO POR Shark
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]