“Eu escolho o difícil: amo-te nas derrotas”. Não sei o autor da frase, mas seria difícil arranjar outra forma de explicar este amor que tenho por ti, Sporting.

Nasci nos anos 80 e as primeiras lembranças de ti remetem-me para a primeira metade dos anos 90. Aprendi a ler com notícias tuas. O meu padrinho, ao fim de semana, levava-me para o café e com orgulho pedia-me para ler as crónicas da caminhada até às meias-finais da Taça Uefa, das defesas de Ivkovic, da raça do Oceano, do empenho do Carlos Xavier, dos golos de Fernando Gomes ou Cadete e da classe magistral que Krasimir Balakov começava a espalhar por Alvalade.

Lembro-me do primeiro desgosto de amor, do choro compulsivo e da noite mal dormida que me provocaste no 6-3. Uma derrota pesada com o maior rival, aquele do ódio eterno, mas a quem agradeço por diariamente me demonstrar ter escolhido as cores certas para pintar o meu coração.

Foi difícil amar-te nos anos 90. Vivendo a quilómetros da tua casa, da nossa casa, vendo os outros a festejarem e nós, durante anos a fio, esperando que a tempestade passasse… Mas a tempestade demorou a passar. Mas sabes uma coisa? Eu nunca te abandonei, Sporting. Ia para os ringues e pelados com a Queijo Castelões, driblava com o pé esquerdo e rematava para golo. Os velhos diziam que eu jogava como o Rui Barros, mas eu queria ser, todas as tardes, o Yordanov naquela final da Taça de Portugal com o Marítimo.

Alguns anos depois, davas-me a conhecer aquele sabor que nunca mais esqueci… Davas-me as imagens de um país e um mundo pintado a verde e branco, as cores que tinha escolhido para o meu coração. E quiseste repetir essas imagens pouco tempo depois.

Mas sabes que mais? Nenhuma dessas conquistas me fez amar-te mais do que já te amava. Apenas senti que, por momentos, o nosso amor era reciproco. “Amor com amor se paga” foi o que sempre ouvi dizer… Nem sempre me deste amor, mas também não me deves nada.

Lembras-te de como aprendi a ler? Engraçado como passado alguns anos, tu quiseste que eu vivesse e sentisse histórias iguais às que tinha lido. Ia ser em nossa casa a gala de finalistas da Taça Uefa. Não podíamos faltar. Chorámos várias vezes de alegria em toda a caminhada até lá chegar, principalmente naquele nosso canto, o canto de Alkmaar. Sei que já tinhas um canto onde foste muito feliz, mas aquele foi o canto onde fomos os dois felizes. Depois veio a noite da gala. Foi uma noite fria. O meu coração gelou e o teu também. Houve “Love” quando nós só queríamos amor.

Demorámos a recuperar disso… Tornaste-te frio e distante de quem te amava, quiseram-te tirar o sentimento e tornar-te uma máquina. Quiseram controlar-te e afastar-te da tua força. Quiseram deitar a mão à tua alma e vendê-la ao Diabo. Dizem que o Diabo veste Prada, mas no nosso caso, o Diabo vinha de fato e gravata. Deixaram-te quase irreconhecível e até quem mais te odiava dizia ter pena de ti. Foram tantas desilusões seguidas que, quem te queria tornar uma máquina, pensou em desligar-te a máquina à frente dos nossos olhos.

Felizmente quiseram lutar por ti. Doaram-te sangue, suaram por ti e limparam-te as lágrimas. O teu coração voltou a bater… Devagar mas o suficiente para voltarmos a sonhar. Voltámos a partilhar noites com gigantes europeus, voltámos ao Jamor onde um dia quis ser Yordanov. Onde passaria a querer ser Montero a encher caras de alegria com a naturalidade de quem sabia que, ganhar, era o nosso destino.

Estiveste tão perto do abismo que nos recusaste ilusões. Não nos querias desiludir, querias voltar a lutar por nós, mas não nos poderias prometer conquistar o mundo sem primeiro reconquistares a tua alma… Mas a tua alma somos nós. E nós, espalhados um pouco por todo lado, começámos a escrever-te tarjas de amor. Levámos as tarjas de amor connosco e fomos esperar por ti antes de mais uma batalha com o nosso maior rival. Tu passaste rápido sem acenar, mas nós perpetuámos aquele momento na nossa memória. Foi “amor platónico que nem Platão imaginou”.

Alguns darão como exemplo de amor “Romeu & Julieta”, outros “Bonnie & Clyde”, outros dirão que não existe. Se me pedirem para descrever amor, eu mostrarei as imagens daquele fim de tarde de 05 de Março de 2016. A noite desse dia, foi só mais uma desilusão… A minha família, os meus amigos, os meus colegas, perguntam-me como é possível amar algo que tanto te desilude… Pascal disse um dia que “o coração tem razões que a própria razão desconhece” e só assim se explica que no dia 06 de Março de 2016 tenha acordado com ainda mais amor para te dar…

Não me deves nada e eu juro continuar a cantar que te serei fiel até que a morte nos separe. Mas se também me amas, peço-te que escrevas as nove últimas páginas deste capítulo como se elas tivessem sido escritas em 1906 por um ilustre visconde. Aquele visconde que te imaginou de forma uma forma tão perfeita que parece que as tuas curvas sul foram desenhadas pelo próprio Deus. Não será fácil e é provável que a desilusão volte a acontecer. Mas juntos, eu sei que poderemos lutar por um final feliz. E porquê? Porque todas as histórias de amor merecem um final feliz.

 

ESCRITO POR Brunotelli
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]