Tem sido impossível acalmar o espírito. Um gajo aproveita o Natal e encharca o corpo em açúcar, mas, ainda assim, esta maldita dor que vai das costelas à alma continua a moer, a moer e a moer. Depois, vais ao quiosque e levas com uma rajada de capas de jornais onde nem falta uma performance de kalinka por um bailarino sem joelhos (o que é fantástico, diga-se, tão fantástico que só será superado pela performance daqueles que se dizem Sportinguistas e que, mesmo sabendo ser uma mentira, vão escrever posts de ataque à actual direcção). Digo-vos mais: fiquei tão deslumbrado com este ataque orquestrado (não é fantástico um gajo estar em blackout e conseguir ser capa há uma semana?!?) que tomei uma decisão que só peca por tardia: qualquer comentário que aqui seja feito utilizando links para os sites dos desportivos ou do CM, especialmente estes, ou para blogues de verde contaminado, será apagado. Ponto. Quem quiser, faça copy paste. Ou levante-se da mesa e mande um berro. Com toda a certeza, alguém conseguirá trazer a informação sem termos que alimentar a máquina com os nossos cliques. Ah, e se alguém entrar na Tasca com uma coisa dessas debaixo do braço, leva com o pano molhado nas trombas!

Agora, e já que falamos de jornais, permitam-me dizer-vos algo que tem andado a zumbir-me nos ouvidos desde a manhã de ontem. «Os sportinguistas são testemunhas da tremenda luta, nos últimos anos, em que me empenhei para defesa do nosso clube. E fi-lo, sabe quem é justo e quem me conhece, exclusivamente porque gosto (muito) do Sporting». As palavras são de José Eduardo e dão o mote a uma espécie de introdução ao seu artigo de opinião. Uma introdução que, analisada a frio, ao longo do dia de ontem, me soa a justificação para as graves acusações que se seguem, feitas ao treinador.

Ora bem, eu podia começar todos os meus posts com essa frase. Todos. Será que isso me dava o direito de, em seguida, trazer para praça pública tão graves acusações? Mais, será que isso me dava o direito de trazer para a praça pública um tema que, na sua intervenção na SportingTV, o presidente Bruno de Carvalho catalogou como «situações que só interessam ao Sporting e que serão resolvidas internamente»? E é esta a parte que mais me incomoda e que me faz mergulhar num mar de dúvidas amargas, por estar a ver um filme que usa mecanismos de realização e de produção com os quais não concordo. Pior, um filme que é colocado nas salas e que nos obriga a levantar várias questões, demasiadas questões. Por exemplo, as primeiras declarações do José Eduardo são feitas no aeroporto, certo? Mas porque raio estariam os jornalistas à espera do José Eduardo?!? No seguimento, Bruno de Carvalho vai à SportingTV, alerta para a campanha orquestrada na comunicação social, sublinha que as questões que existem são internas e só interessam ao Sporting, mas saca dois nomes da algibeira, como exemplos de bom Sportinguismo: Eduardo Barroso e José Eduardo. O que se segue? José Eduardo rasga de alto a baixo o treinador em praça pública.

Isto é o quê?, pergunto eu. Não sei, não tenho respostas, mas não gosto. Ou melhor, abomino. Se bem se recordam, um dos pormenores que mais me custou engolir nas duas últimas campanhas eleitorais foi, precisamente, os ataques pessoais a Bruno de Carvalho. Defendi-o e voltaria a fazê-lo, por acreditar que isso é jogo sujo, mais ainda quando, depois, não há uma única prova das acusações que são feitas. Um jogo tão sujo que, ainda há uma semana, alguém me dizia que o presidente do Sporting já tinha destruído as outras empresas por onde passou. Os rótulos, os filhos da puta dos rótulos, que quando repetidos vezes sem conta se colam à pele como tatuagem definitiva. Foi isso que José Eduardo fez: tatuou na testa do treinador do Sporting todas aquelas palavras com que, nos últimos dois dias, Marco Silva tem sido brindado e as quais me recuso a repetir (até porque não está nada provado).

Enquanto comum cidadão, isto mexe-me com as entranhas. Enquanto Sportinguista, isto não me deixa dormir descansado e é um filme que se repete desde o arranque da época: sabemos que estão a cozinhar-nos em lume brando e somos nós que carregamos a lenha para a fogueira. Sim, temos um problema de comunicação. Na forma e no conteúdo. Permitam-me recordar as críticas à equipa em plena SportingTV, após o empate em Maribor, comparando o nosso resultado à derrota da selecção com a Albânia; permitam-me recordar o, em minha opinião, dispensável comunicado no facebook, após Guimarães; permitam-me recordar a enorme declaração presidencial, antes da ida à Madeira, abafando a derrota do fcp no clássico, a eliminação do benfica da Taça e a dívida de 600 milhões de euros de Luis Filipe Vieira ao BES. Nessa altura, escrevi eu, «O que se segue? Marco Silva a bater com a porta?», sendo imediatamente questionado sobre estar a espalhar brasas desnecessariamente. Creio que bastava atentar no teor do comunicado, para se perceber o que aí vinha e, consequentemente, o meu desabafo.

A verdade é que, temos sido nós a não deixar as brasas afrouxarem. O raio do artigo de opinião do José Eduardo é, apenas, mais um exemplo de como nós somos pródigos em colocar lenha seca sobre as brasas e, não felizes, bombear com ar a fogueira. Se o objectivo era unir os Sportinguistas, pelo menos os que preferem essa união a guerras pessoais, falhou redondamente e acicatou ainda mais os ânimos. Não sei como isto vai terminar, mas sei que é o Sporting quem está a pagar. E nós, entretanto colocado uns contra os outros pela divisão de opiniões. Eu sei que ainda falta para as badaladas da mudança de ano, mas permitam-me esturricar já três desejos: que Bruno de Carvalho continue a ser um presidente doente pelo Sporting e que aponte todas as suas armas ao alvos certos; que o Sporting ganhe todos os jogos no próximo mês e meio e que entremos na última fase da época com este treinador e com estes jogadores; que todos nós, para quem o Sporting está acima de pessoas, consigamos evitar, o maior número de vezes possível, ser os incendiários de serviço. Mesmo que o façamos de forma negligente. Será pedir muito?