«O processo Sporting-Marco Silva tem de ser lido à luz das estratégias de comunicação. Não estou no activo, mas este caso parece igual a tantos outros: há uma (ou mais) fonte(s) com interesse no caso a soprar a notícia do desconforto entre presidente e treinador; essa (ou essas) fonte(s) não assume o odioso da revelação e mantêm-se anónima(s); o desconforto, porém, existe, pelo que a notícia é verdadeira. O caminho fácil é despejar em cima do leitor a pesporrência da fonte, sem a nomear, fazendo-lhe o jogo sujo em troca de mais uma informação que no futuro dê jeito a ambos; o caminho certo é denunciar o desconforto existente e expor a estratégia da fonte.

O problema é que seguir o caminho certo pede um mundo certo, em que as empresas de comunicação social não cedam a lobismos, que são tão ou mais fortes no futebol do que na política. Ao contrário do que já vi escrito, o cavalgar da onda não tem a ver com pageviews. Tem a ver com sobrevivência, com a vontade de continuar no jogo. O caminho certo enquanto consumidor de informação também não é assobiar para o lado e dizer que o jornalismo é a nova forma de populismo. Não é vestir a camisola e disparar que o jornalista quer desestabilizar o clube. É exigir que nos expliquem como é que, de um dia para o outro, as redes sociais estão cheias de alusões à associação de Marco Silva a um empresário que tem relações com a Doyen (como se as não tivesse já quando ele assinou contrato por quatro anos) ou como é que José Eduardo aparece a dizer o que disse acerca da agenda própria do treinador.

Mas isso, mais uma vez, seria num mundo certo, em que as empresas de comunicação social não cedessem a lobismos como cedem e o consumidor tivesse a possibilidade de escolha educada entre o jornalismo e isto que se faz. O problema é que o jornalismo está a tornar-se um vício muito caro. E como há por ai muitos sucedâneos grátis, ninguém quer pagar por ele.»

António Tadeia, in Facebook.