Meus caros convivas, ontem à noite dei de caras com mais um email remetido por O Espírito do Leão, cujo endereço é [email protected]. Pediu-me para o dar a conhecer, e não sendo eu ateu de todo, nem querendo eu transformar a Tasca em algo como A Tasca da Iria, vou então dar a conhecer mais este email, que não é segredo para ninguém.

Caro Escondidinho.
Desculpa, uma vez mais abusar da tua boa vontade, mas quem escreve por Amor não cansa as falangetas.

Venho dar notícias, mais uma vez, do bem que me sinto. Há uns tempos atrás, andava eu de passear pela nossa Casa, e de repente, comecei a ver entrar tanta criança, e era bem cedo ainda. Vinham com as mães, e com as avós… Confesso que deitei uma lagrimazita ou duas de emoção…  Isto de ter quase 111 anos, e uma veia aristocrática proeminente, de vez em quando dá nisto.

Lembrei-me de tantos e tantos Sportinguistas, que conheço desde catraios, e que acompanhei durante anos, na sua meninice, a virem a nossa Casa acompanhados dos papás, e depois os catraios cada vez mais altos, os papás cada vez mais minguados… Até que deixam de vir com os filhos, e passamos a ser eu, passamos a ser nós… E esses catraios, depois a virem com os amigos, e as namoradas. Depois já casados, a continuarem a vir, com as mulheres, e os bebés, num ciclo de ternura e Amor sem fim. Mas já me estou a perder em devaneios.

Bem, nesse domingo, vi tanta criança, tanto Amor desses nossos pequenos adeptos… E depois senti-os saírem, a Alegria vazia, mas a prometer voltar mais tarde. E não demorou muito, nessa mesma tarde, a Alegria voltou. E que alegria, caro Escondidinho. Uma alegria que recordei já ter acontecido antes, mas que na altura confesso que me passou de raspão. Desta vez, armei-me de curiosidades e espírito de descoberta, e lá fui então ver o que se passava.

Uma das coisas que mais me surpreendeu, foi o tamanho do cabelo dos jogadores… Queres ver que voltamos aos anos 60? Confesso que tremi um pouco, nesta altura. Mas a seguir, e com mais vagar, reparei nas unhas, e vi que estavam pintadas. Afinal, eram as nossas meninas que estavam a jogar… E que bem jogavam… E a Alegria nas bancadas… Afinal, isto das modernices, tem coisas positivas. E pisavam o tapete verde como se dançassem balé, com uma suavidade tal que me arrepiei todo.

Desde essa atura, que ando de olho nelas, não é? Sou um Espírito já com quase 111 anos, mas não estou morto. E soube por portas e travessas que as meninas iam jogar neste passado sábado. Avisei a criadagem para me prepararem um lanchinho, e antes de me fazer ao caminho, fui dar um passeio. Mal entretanto cheguei, vi as nossas Leoas a aquecer… Assim sim, aquela entrega, aquela solidariedade, a puxarem umas pelas outras… O aquecimento estava a correr bem, mas quando começam a aquecer com bola, vi que aquela não era a malta do Futebol, devo ter-me enganado pelo caminho, a bola era de rugby…

Mas fiquei um pouco mais a ver as nossas meninas, e realmente, mesmo de unhas pintadas e cabelo arranjado, aquilo é malta rija. A entrega ao jogo e a dedicação ao Clube comoveu-me. Fiquei então por lá a vê-las a jogar. Não deram hipótese a ninguém, jogam muito. Placaram e passaram bola e chutaram e marcaram ensaios e penalidades e tudo e tanto, que me faltava a respiração, e o coração me faltou um batimento… Que grandes meninas as nossas Leoas do Rugby!

Sabes Escondidinho, nestas últimas semanas fiquei com algumas certezas… primeiro, com aquele jogo num domingo de manhã cheio de crianças, com as nossas meninas do futebol, e as nossas meninas do rugby, alguma coisa está a mudar. Estão a limpar-me algumas já vetustas teias de aranha, estão a renovar-me… Um destes dias, começam a fazer-me crioterapia… Vou voltar a ser em breve a ser um Espírito puto, uma outra vez… A fazer aquelas traquinices de ganhar de abada na Europa, e mandar às malvas os Manchesters desta Vida, a ganhar em França com o coração do Mundo Verde e Branco na bicicleta.  Garimpar ouro olímpico, numa corrida à Fonte da Juventude, que sempre esteve em nós, em nossa Casa.

Aquele abraço d’O Espírito do Leão.

Râguebi

 

*às quintas, o Escondidinho do Leão aparece com uma bola diferente debaixo do braço, pronto a contar histórias que terminam num ensaio