Creio ser unânime considerar que, neste momento, uma das maiores indefinições reside na posição 6. Entre o inexplicável que é a continuidade de Petrovic e a revoltante possibilidade de Palhinha rumar ao estrangeiro, a verdade é simples: está em aberto o lugar de médio defensivo.

E, quanto a mim, a primeira pergunta que deve fazer-se é: que tipo de médio defensivo quer Peseiro?

Recuemos no tempo, ao tempo em que Peseiro tinha como primeira opção Rochemback e como segundo homem de confiança, Custódio. Entre um e outro há enormes diferenças. “Rocka” era um 6 todo o terreno. Forte fisicamente, capacidade de sair a jogar, bom no passe curto e no passe longo, capacidade de aceleração para provocar desequilíbrios em trocas posicionais com os médios ao seu lado/frente (e aquele pontapé canhão, claro). Custódio era muito mais posicional. Melhor no jogo aéreo, melhor na ocupação da área em frente à defesa, mas sem rasgo e sem vontade de arriscar algo mais do que toma lá dá cá em passes laterais que faziam a bola ir de uma linha lateral à outra.

Ora, Palhinha, para mim o único seis que devia contar, é este jogador mais posicional. Um monstro na componente física, tanto nos duelos ombro a ombro como nos duelos aéreos, com uma capacidade de jogar em antecipação que acaba por trair o seu tamanho. Falta-lhe, sem dúvida, essa capacidade de sair a jogar, nomeadamente se tiver que fazê-lo sob pressão, algo que William tinha para dar e vender com aqueles movimentos dentro da cabine telefónica (quando tinha moedas e queria fazer chamadas para casa, claro). Palhinha é, também, uma opção sempre válida para, mesmo não jogando de início, poder entrar quando é necessário reforçar o meio-campo e defender uma vantagem ou, mesmo, ser utilizado como central.

Faltaria, então, um médio defensivo com características diferentes (claro que a qualquer momento pode chegar Battaglia, apesar de também não o achar assim tão diferente de Palhinha). O tal médio capaz de sair a jogar, de pautar o jogo e de desequilibrar quando subisse. Mas será que temos, mesmo, que contratar esse médio? Será que, na grande maioria dos jogos, não poderemos abdicar desse médio mais posicional e defensivo e assentar o futebol em dois médios capazes de interpretarem as necessidades do jogo e compensando-se mutuamente? Será que não podemos ter um Pirlo à nossa medida? Um Rakitic e um Modric?

Deixando Adrien de lado, porque o raio do 23 assenta que nem uma luva nesta ideia, sei que Rafael Barbosa já foi emprestado, mas penso sempre nele quando equaciono uma equipa com este estilo de meio-campo. Também me questiono se Gauld não funcionaria assim, tal como vejo Wendel a assumir uma dessas posições. Os próprios Francisco Geraldes e Bruno Fernandes poderiam ser trabalhados num sistema em que, à vez, viessem buscar a bola e organizar o jogo fora das zonas mais avançadas e de pressão mais intensa. Viessem buscar a bola a zonas onde tivessem mais tempo para pensar o jogo.

Com tudo isto, quero dizer-vos duas coisas: que Palhinha faria sempre parte do meu plantel e teria a merecida oportunidade; e que gostava, muito, de ver-nos sacudir este conceito rígido de número seis, um pouco ao jeito do que Guardiola fez no Bayern quando puxou Lahm para aquela posição por ver nele alguém capaz de começar a pensar o jogo a partir de trás.

p.s. – metam o Enzo Perez na peida