De regresso a um estádio que marca a história recente do clube, o Sporting teve tudo menos falta de vontade, mas foi-lhe faltal oferecer, uma vez mais, 45 minutos. Dos equívocos tácticos aos descontos que não existiram, esta é a crónica de mais uma jornada amarga para os adeptos leoninos

Marcel Keizer haveria de reforçar parte da ideia, mas foram as palavras de Bruno Fernandes as mais certeiras da noite: o futebol português não passará da cepa torta enquanto os árbitros continuarem a não dar descontos consentâneos com as perdas de tempo e a expulsão de Coates é inexplicável, embora nada disso justifique não termos vencido pois o empate deve-se a não termos feito o suficiente para ganhar.

Assim, no flash interview e sem silêncios estratégicos, o camisola 8 passava a mensagem que a direcção do clube dificilmente passaria e, mais tarde, o treinador reforçaria esse desgosto face ao tanto tempo que o Marítimo foi queimando, com o extra de os patéticos quatro minutos de desconto finais terem resultado em menos de um de futebol corrido, enquanto o padreco Tiago Martins ia mostrando os amarelos que lhe valerão as insígnias internacionais. A diferença é que Keizer acabou a lamentar-se do azar da bola não ter entrado e esqueceu-se do que esteve antes do azar. Pior, deu a entender que Gudelj e Borja foram substituídos, ao intervalo, apenas por já terem visto amarelo, quando o primeiro estava a ser, outra vez, uma verdadeira nulidade em campo.

E foi aí que o Sporting começou a perder a oportunidade de se colar ao terceiro lugar (vou só ali acalmar a dor…) e de se posicionar para se agarrar a uma esperança, mesmo que balofa, de poder correr atrás do segundo lugar caso o benfica saísse derrotado do Dragão. E o quão nefasta tem sido a insistência no sérvio ficou perfeitamente à vista com aquilo que produziu Doumbia, com aquilo que a equipa ganhou em saída de bola, em posicionamento, em transição, até na capacidade de pressionar mais alto, com o habitual calafrio que obrigou Renan a ir à relva para evitar o golo na única oportunidade a sério dos insulares (aos 60 e tal minutos de jogo, se a memória não me falha).

Depois de mais uma primeira parte medíocre, em que a equipa regressou ao 4-3-3 com todas as fichas num rasgo de Bruno Fernandes e com a merda do futebol directo a tentar compensar a ausência de ideias, algo que redundou numa boa jogada e num falhanço de Dost, o Sporting transfigurou-se com as entradas de Raphinha e do já citado Doumbia. O Marítimo abdicou de jogar a partir dos 65′, o redes engatou nos intervalos do tempo que passava no chão, o Sporting ia ficando de mãos na cabeça de cada vez que a bola andava a rondar a baliza insular e não entrava (e nem no habitual livre de bf8 ela entrou).

E se, na véspera, Keizer havia dito que ainda havia muito para jogar e para ganhar até ao final da época, o jogo de ontem encarregou-se de ser amargo para todos os adeptos que quiseram acreditar em tais palavras. E numa altura em que a equipa, à mesma 23ª jornada, consegue ter menos um ponto do que a miserável segunda época de Jorge Jesus, resta puxar pela fé e ir buscar outra das frases do holandês, após a derrota em Villarreal e a eliminação na Liga Europa: “acredito que com mais tempo para treinar vamos apresentar bom futebol no que resta desta época”. Então, mister Marcel, tome lá o seu “minute to rest” enquanto nós vamos aproveitando os nossos “second to pray” para pedir a qualquer divindade que o faça ver que essa ideia de jogar alguma coisa passa, obrigatoriamente, por despachar da equipa quem não joga coisa nenhuma.