Da mesa do canto, o João Branco, que até costuma estar caladinho, resolve intervir numa conversa sobre o «Sporting! Sporting! Sporting!» que se ouviu, ontem, a claque Viola entoar em Paços de Ferreira.
E diz ele: «Eu estudei em Firenze, de Erasmus, em 2009\2010. Actualmente sou sócio correspondente da Fiorentina. O primeiro jogo que vi no Artémio Franchi foi precisamente um Fiorentina vs Sporting para o playoff da champions. Como tinha lugar de época na curva norte entrei com um cachecol do Sporting e camisola da Fiorentina para o sector onde estão as 2 claques (setebello e colectivo autonomo firenze).
Ninguém me insultou, antes pelo contrário, fui levado logo ao líder da Setebello (uma das claques da Fiorentina) que me perguntou imediatamente se era português e sportinguista. Disse no meu pobre italiano (estava há 3 dias em itália) que sim, que era sócio do sporting e que me tinha feito sócio da fiorentina nesse dia. O gajo (o nome dele é Mauro) abraçou-me e disse algo como “bem vindo ao nosso seio” – depois fez-me uma série de perguntas (onde estava a viver, o que estava a fazer em itália, se tinha bilhete de época, se precisava de alguma coisa, se estava bem integrado etc) e no final disse: “puto, quando a fiorentina jogar fora, vê as horas de saída da claque e põe-te fora de casa que alguém passa por lá” – nunca trocámos o número de telemóvel durante aquele ano, nunca nos comunicámos a não ser presencialmente.
Quer a Fiorentina jogasse em Lecce, em Palermo ou em Lyon e Liverpool como jogou naquela época, meia hora antes da concentração de saída da claque, um “capo” da claque passava pela minha casa. Pagaram-me tudo: comer, bilhetes de avião, bilhetes de jogos e uma vez como não tinha dinheiro para ir ao Meazza (tuga em itália passa fome às vezes) emprestaram-me dinheiro para comer qualquer coisa numa área de serviço e jantar naquele dia.
Claro está que nunca mais me esqueci dos gestos e do ano maravilhoso que passei naquela cidade. Dai que continue a pagar as quotas da Fiorentina logo no mês de Janeiro, sou sócio da Setebello e vejo todos os jogos da Fiorentina (alguns no estádio quando lá vou). Muitas outras histórias tenho por contar. Pode ser que que qualquer dia as escreva com um maior nível de detalhe. O que é certo é que lá do outro lado da Europa eles vibram por nós. Muitas vezes perguntavam-me como tinha ficado o Sporting, se andava a jogar bem e se era “o ano” em que iamos, passo a tradução, “enrabar” as águias. Gente muito bacana»

* “eu ouvi o teu comentário” é servido, com pinta, quando tiver que ser. Ou, se preferirem, quando o homem do balcão for capaz de distinguir uma bela “estória” do tinir dos cabrões dos copos e dos pratos de barro, a sair da máquina de lavar.