Se as sextas estão destinadas a ser dia de «à gomes de Sá», as terças passam a ser dia de pipis, com duas cozinheiras de serviço.
A Maria Ribeiro entrou na Tasca a pés juntos, deixou o seu cv em cima do balcão e avançou, destemida, para a cozinha. Preparou um prato, na última quarta-feira livre, e conquistou o seu lugar.
A mbc entrará em acção por altura da reabertura de mercado. Foi uma negociação complicada, que envolveu o agendamento de um jantar com o Benedito e com o Capel.
Há terças em que cozinhará apenas uma, outras em que haverá pipis a dobrar. Mas, como se diz na Tasca, mais vale um enfartanço de pipis, do que ter que pedir pica pau!
Do Restelo a Alvalade, by Maria Ribeiro
Nasci e cresci muito perto de Belém, no bairro da Ajuda, e passei toda a minha infância e adolescência a estudar no Restelo, de onde quase sempre via o estádio. Desde os três anos fui atleta do Futebol Clube “Os Belenenses”, clube onde eu e os meus colegas passámos muitas horas, pois quase todos praticavam uma modalidade diferente. Em suma, o Belém é o clube da minha terra (e durante muitos anos o maior mobilizador da juventude da zona), do qual guardo as memórias naturais da infância e pelo qual tenho um enorme carinho. Se o Sporting é o meu filho, perfeito em quase todas as coisas que faz, o Belenenses é o meu enteado, com o qual simpatizo bastante.
Por isso mesmo ansiava o encontro entre estas duas equipas desde que a passagem do Belenenses à primeira estava assegurada. É um jogo que não falto e que reservei especialmente para me deslocar a Alvalade., esperando claro uma vitória do nosso Sporting!!
Mais uma vez, a felicidade ao chegar a casa depois de uma exibição segura e sólida dos nossos rapazes. Que alegria pairava em Alvalade! Na Curva Norte saltava-se ao ritmo da Sul, cantava-se com força e empurrava-se a equipa para mais um golinho aos simpáticos pastéis. “Só mais um golo” parece ser a frase de ordem entre adeptos leoninos. Pensando no que dizíamos apenas há um ano e que agora se passem noventa minutos a pedir mais um golo (já saltámos 33 vezes este ano) é mais do que qualquer medalha que nos coloquem no peito.
O meio-campo controlava as operações, Cédric fazia o corredor como se o Diabo o corresse atrás dele, Carrillo renasceu pela 30000ª vez e mostrou o seu futebol e a defesa, meu deus a defesa, segura, coordenada… perfeita. Tive a sorte de levar comigo um daqueles sportinguistas que exige aos nossos jogadores os níveis de eficácia dos do Real Madrid, e tem legitimidade para isso. Ao entrar Wilson comentámos que às vezes apagava-se dos jogos, não tinha critério, cruzamentos estranhos… GOLOOOOOOO. Calou-nos bem caladinhos.
O Sporting deixou de ser um motivo de tristeza para qualquer um de nós e passou a ser algo de positivo, outra vez. A Direcção, o treinador e os jogadores são grande parte desse sucesso mas somos nós, os das gargantas doridas e vozes roucas , a maior força de um gigante adormecido. Somos a voz que manda calar lampiões e tripeiros e que coloca o Leão no topo. Somos nós a barra de energia de jogadores de vinte e poucos anos, que correm e suam honrando a camisola. No fundo nós só pedimos isso, a perder ou a ganhar, que nos mostrem a garra e a raça das nossas equipas ao longo da história.
Para a semana teste complicado, o Nacional não é uma equipa fácil e vai causar-nos mais problemas. Aquele Candeias gosta de se armar em esperto contra nós, Xerife faça o favor de tratar disso.
Nota futebolística: Venho insistir num ponto que já referi antes. O Sporting não pode sair do rumo traçado e com a qualidade de Iuri, João Mário, Esgaio ou Betigol é altura de subidas e não contratações. Gosto do Evandro e acho que tinha espaço no Sporting, mas 1,5 milhões por um jogador que não vai tirar André Martins do Onze parece-me demais. Ainda por cima… tenho muito mais carinho por estes quatro rapazes que referi, prontos ou não. O clube também não estava pronto para lutar pelo campeonato e foi-se a ver…
Ps: O Belenenses é um grande exemplo de um grande clube que teve todas as políticas erradas. Um acesso à Europa deslumbrou dirigentes que gastaram o que não tinham nos anos seguintes. “Camiões de brasileiros” a chegar e o Belém ia evitando a descida na secretaria. Pelo caminho muitas modalidades deixaram de ser profissionais, fecharam-se as piscinas Olímpicas e escolinhas de futebol (agora pagas pelo AC Milan). Regressaram agora e roubaram pontos aos nossos rivais, fiquem que estão perdoados.
17 Dezembro, 2013 at 15:30
Maria, é bom “ver” por aqui uma vizinha. Só partilhar aqui que cresci no Restelo, bem por cima do Topo Norte do Estádio do Restelo, pelo que as minhas referências são e serão sempre toda aquela zona envolvente. Sou do Sporting desde que me lembro mas como tu, sempre simpatizei com o meu clube de bairro e naquele estádio, assisti a muitíssimos jogos que fazem parte da minha formação futebolística, alguns mais tristes, como uma derrota do Sporting numa eliminatória da Taça de Portugal (com Douglas e Cia.) numa das maiores enchentes que vi no Restelo (tendo o privilégio posterior de ver o Belém vencer o Benfica em plena final no Jamor), e outras bem felizes, como num jogo entre Belém e Guimarães, ver o velhinho do placard manual do totobola (lembras-te?) alterar os n.ºs de 1 a 7 para o visitado no famoso dérbi, ainda agora lembrado. Ouvir o sururu e os risos na bancada dos sócios belenenses cada vez que o rádio anunciava um golo do Sporting é daquelas memórias que não dá para esquecer mesmo, sai para uma pelada na Escola Secundária do Restelo tão feliz!!!…Vi o tal Belenenses europeu e assisti ali a jogos contra o Barcelona e Bayer Leverkusen, por exemplo, precisamente a antecâmara do descalabro que mais tarde se seguiria (João Alves e o camião de jogadores que trazia atrás antes de os levar embora novamente, também ajudaram…).
Por isto tudo e por conviver muito naquela zona conheço muito boa gente do Belenenses, mesmo boa gente, mas quando jogam contra o Sporting, clube e adeptos são inimigos por 90 minutos, nunca houve qualquer hipótese nesse sentido. Digo-lhes muitas vezes que por mim o Belém só perde 2 jogos no campeonato (ou mais se for o caso, mas percebem o sentido da coisa…). Cheguei a ver o Sporting espetar 3 ao Belém a morder-me todo na bancada dos sócios e não aguentar no 3.º golo (julgo que de Lima) e quase ter um problema sério. Penso que naquela zona, como eu e tu, há muita gente que simpatiza com o Belenenses mas também há muitos sportinguistas ferrenhos, convivi e convivo com muitos ainda, cada vez que ali vou. O Sporting é muito grande e tem uma massa adepta enorme, pelo que Belém, Ajuda e Restelo não fogem à regra.
Bem, com tanta memória perdi-me (ficava aqui a escrever a tarde toda, caramba…), o que queria dizer é que gosto do Belenenses, cresci ali, tinha tudo para ser daquele clube (fui sócio e tudo) mas por alguma razão o Sporting sempre provocou em mim um sentimento incomparável, foi simplesmente mais forte que eu…é uma coisa enorme. Sendo dali, tu saberás do que falo 😉 Bem vinda vizinha!
17 Dezembro, 2013 at 16:09
A essa eliminação na Taça seguiu-se uma vitória para o campeonato (3-0) também em belém… o lourinho Lima partiu aquilo tudo. O Belém tinha uns jogadores icónicos, como o careca José António, o Jorge Silva, o Sobrinho (cuja irmã era boazuda, e os adeptos faziam questão que ele soubesse), Chico Faria, Jaime e Mladenov.
17 Dezembro, 2013 at 16:20
Sim, foi precisamente esse jogo que me lembro de aguentar quieto entre os sócios todos até me levantar ao 3.º golo (e olha que os sócios do Belém não são para graças), o Lima estava a aparecer e numa grande forma nessa altura (era mais para o ruivo, acho eu) e por acaso pensei que fizesse uma carreira mais fulgurante. Já o Belém tinha de facto uma grande equipa, Mladenov era do melhor que lá passou e havia ainda Zé Mário, Galo, Teixeira (Tarzan como lhe chamavam) e Juanico, que rebentou a baliza encarnada do meio da rua na final da Taça para grande alegria minha e vivida em comunhão com belenenses ferrenhos em pleno Jamor 😉
17 Dezembro, 2013 at 16:26
Golos de Silas (2) e Douglas nesse jogo, dois grandes jogadores e uma época de desilusão…
17 Dezembro, 2013 at 16:39
E ainda o Djão e o Mapuata… e o Paulo Monteiro, percursor do “estilo capel”, cabeça no chão e sempre em frente 🙂
Passei lá algumas tardes a ver bola, e uma das imagens que me fica é do velhote por cima da bancada norte a mudar os placares com os resultados dos jogos do totobola… e uma tarde qualquer levar uma real sova dos vândalos de uma claque do SLB.
E posso dizer que andei ao colo do grande Marinho Peres…
O Belém tem o enorme problema da massa associativa envelhecida, com os vícios que daí emanam. Depois, uma sequência de más gestões fez o resto…
19 Dezembro, 2013 at 19:31
Lima é o actual treinador dos júniores do Sporting. É esse, certo?
19 Dezembro, 2013 at 19:33
Qual Braga, qual quê. O Belenenses é que é um clube grande.
17 Dezembro, 2013 at 16:56
parabéns por mais um grande texto Maria! 🙂
17 Dezembro, 2013 at 17:49
Bem vinda à TASCA. Bom texto.
Também eu tenho alguma simpatia pelo Beleneses, pois fui aluno da Casa Pia e quando o Belém jogava em casa ia lá sempre ver os jogos, até que apareceu lá (na Casa Pia) um tal de Mariano(recuperador fisico), que começou a arranjar bilhetes para a malta ir a Alvalade ver o SPORTING e com isso só voltei a belém para ver o meu SPORTING.
SL
20 Dezembro, 2013 at 18:20
Ora aqui está um excelente post, sem malícia a mais e ironia que chegue. Vê-se que sabe ver futebol e que acompanha tudo do seu Sporting. Pois que seja bem-vinda.