Pode um zero a zero ter muito para contar? Pode. Pode um empate em casa, frente ao principal rival no grupo, deixar-nos a sorrir? Pode. Pode um empate, a saber a (muito) pouco, deixar-nos de alma cheia? Pode.
Ando, desde ontem, a encontrar uma forma de escrever-vos. Não porque não saiba o que dizer, antes porque corro o risco de parecer demasiado optimista, quase a roçar o histérico. E o que me conduz a este estado de espírito? A confirmação de que temos uma equipa, temos um grupo, temos futebol e temos trabalho sério a ser desenvolvido!
É verdade que nem entrámos bem no jogo, ou melhor, não foram nossas as primeiras situações de algum perigo. Mas essa dificuldade em pegar no jogo durou pouco mais de 15 minutos. Assim que o nosso meio-campo percebeu os movimentos em que Herrera e Carlos Eduardo criavam superioridade nas faixas interiores, o jogo assumiu tons verdes e brancos (já agora, quando dizemos que era fixe ter a Nike a equipar-nos, devíamos olhar para os patéticos equipamentos do Fruta Clube).
Com o nosso tridente de meio-campo a manietar os tentáculos do polvo e companhia, a equipa foi subindo de rendimento. Sempre. Ou seja, ao longo de 70 minutos, a exibição foi-se tornando cada vez mais consistente, dominadora e empolgante. Viu-se futebol, e, inúmeras vezes, que futebol, em Alvalade, sendo profundamente injusto o nulo final. Mas deste zero zero, que chegou a navegar num banho de bola, resulta a confirmação de que temos uma equipa a sério. E que o comprometimento de todos, mas de todos, mesmo, é fantástico!
Veja-se o caso de Slimani, ontem promovido a titular, que é exactamente o mesmo jogue 90 jogue 9 minutos. E como correu e lutou o argelino, contra os dois porteiros do centro da defesa azul e branca (do outro lado, na área oposta, estava outro argelino que, pela fisionomia, me fez acreditar que o Rochemback tinha voltado a Alvalade escondido num camião de picanha), procurando ser o mais útil possível à equipa. E, seguindo o exemplo do companheiro, veja-se a atitude de Montero, nada incomodado por, desta vez, ter ficado no banco.
Mas recomecemos, agora pela ordem lógica.
Boeck mostrou que quando é a sério a sua concentração é total.
Cédric fez um jogo fantástico, sendo, a par de Adrien, o melhor em campo. Foi impressionante a quantidade de piscinas que o nosso lateral direito fez, aparecendo no ataque e desarmando, uma, outra e outra vez, o palerma do Varela.
Rojo foi tudo menos o patinho feio. Meteu uma vez a pata na poça, ainda na primeira parte, mas, depois, foi tudo dele. Terá feito um dos melhores jogos de Leão ao peito.
Dier foi ganhando confiança à medida que os minutos passavam, terminando o jogo a ensaiar subidas ao meio-campo adversário com a bola colada ao pé. Precisava de jogar sempre, porque a qualidade está toda lá.
Jefferson esteve quase ao nível de Cédric, mas foi menos exuberante que o camarada da direita. Impressionante, ainda assim, o ritmo a que jogou.
William, meu William, espécie de homem sombra que aparece em todo o lado (é surpreendente como, parecendo recuperar em passo de tartaruga, consegue aparecer onde é necessário), e que meteu no bolso o Carlos “craque porque fez dois jogos fixes” Eduardo (muito bem expulso, diga-se, apesar da cara de espanto do Paulo “eu não sei mais do que isto e estou tão feliz por não ter levado duas ou três batatas na peida” Fonseca, que, nos seus tempos de jogador, achava que as canelas terminavam um pouco abaixo dos sovacos).
Adrien, um mostro! Que jogo, meus amigos, que jo-go! O ritmo foi dele, a pressão foi dele, a contemporização foi dele, muitas recuperações foram dele. Torna-se patético, a cada semana, este rapaz não ser titular da selecção nacional, ficando de fora para jogarem o Raul “eu já só corro depois de fumar cachimbadas” Meireles, o Josué Escarretas, o Ruben “eu teho que ser convocado senão o benfica não tem jogadores na selecção” Amorim ou o Ruben “patético” Micael. É o melhor médio português a actuar em Portugal. Ponto.
André Martins. Quase não damos por ele, mas está sempre lá. Corre, corre tanto, e luta com todas as forças. A bola passa por ele e segue redonda. Dividirá, sempre, opiniões, mas isso é próprio dos bons jogadores, não é?
Capel e Wilson foram pouco exuberantes e, no meio de tão grandes exibições, até parece que jogaram pouco. Mas há uma pergunta que tem que ser feita: onde andaram os laterais do Fruta Clube? Pois é, não se deu por eles, tal o trabalho dos nossos extremos. Comprometimento total com a equipa, com sinal mais para o espanhol com algumas diagonais que embrulharam o sistema defensivo adversário.
Vítor, entrando como se tivesse estado a jogar desde início, encaixando totalmente no ritmo. Capacidade de passe sublinhada, o golo ali tão perto. Está cada vez mais entrosado.
Guardo-te para o fim, Carrillo, por tudo o que representas para mim. Olho para ti e vejo futebol. Futebol puro. Daquele que leva pessoas aos estádios. Assobiar-te, é de uma estupidez tremenda, até porque não há outro como tu neste plantel. Comecei a pedir para entrares aos 56 minutos. E disse que ias resolver quando entraste. O que estava a ser muito bom, esteve perto de tornar-se perfeito contigo em campo. O toque de magia, as arrancadas, as fintas (diz que, já na camioneta, o Maicon continua à procura da bola), os passes e, imagine-se, até a falta inteligente que vale um amarelo. Estás a crescer, André.
No fundo, todos nós estamos a crescer. Esta é uma equipa com sete meses de trabalho. Esta é uma base que nos faz sorrir no presente e sonhar com o futuro. Aqui há esforço, há dedicação, há devoção. Ontem, faltaram os golos para chegarmos à glória. Mas ficou uma certeza: há muito que o Leão Rampante não estava tão bem entregue!
31 Dezembro, 2013 at 11:47
Excelente post, Cherba…excelente mesmo!
Gostei dos nick names que deste ao longo do post… Hahaha, um fartote de riso 🙂
31 Dezembro, 2013 at 18:50
mesmo isto Cherba.
Foi uma granda joga!
E se os corruptos já andavam preocupados connosco agora devem estar mesmo cheios de medo!