Levámos os últimos dois meses de 2013 a levar com a promoção barata de todo e qualquer catrapila formado nos escalões jovens do benfica. Do Ivan que é tão terrível quando um pardalito ao nanico que roubou o título de Messi ao Markovic, passando pelo Cancelo como possível seleccionado para o mundial, o que não faltaram foram tentativas de fazer os adeptos encarnados acreditarem que o Fariña foi para o Dubai para dar espaço aos portugueses e não para encher os bolsos a alguém com comissões (na equipa B, o irmão do Makovic riu até se lesionar).

Ora, o ano arranca e o que temos? Uma entrevista do Nelson Oliveira, farto de ouvir que vai ser aposta e a elogiar o que se faz no Sporting. No fundo, por mais capas de jornal que façam, a verdade é esta!

 

QUANDO vê jogar o Benfica, ou quando olha para o plantel, ainda pensa: ‘Eu podia estar ali’?
Sim. Mas foi uma opção do Benfica. Tenho de a respeitar, porque os avançados que lá ficaram são bons jogadores. Acho que também sou bom jogador, acho que também poderia lá estar, mas tenho de respeitar. Se o meu futuro não passar pelo Benfica será noutro lado que tentarei mostrar o meu futebol.

Não é uma opção do Benfica ou de Jorge Jesus?
Quem faz o plantel é o treinador. O treinador e o presidente acharam que o empréstimo foi o melhor para mim. Que se ficasse não teria muitas hipóteses de jogar. Pessoalmente preferi ser emprestado a não jogar e perder a oportunidade de ir ao Mundial. Mas ninguém sabe se eu estivesse no Benfica não estaria agora jogar. Não fiquei, penso, que por opção do treinador e da estrutura. Não sei quem decide, quem trata dessas coisas, penso que seja o presidente.

Disse em entrevista à FIFA que não era mau um jovem ser emprestado. Mas não é mau até quando?
Eu disse que era normal rodar por várias equipas. Se é bom ou mau depende… Temos casos de jogadores que são trabalhados numa grande escola, são limados e depois surge o momento de o clube decidir apostar nele. Ou não. Mas se um jovem ficar num clube e for atuando uns jogos para a Taça, depois outros no campeonato e somando boas exibições, isso é algo que lhe dá estabilidade. O jogador quer jogar e crescer. Mas crescer no mesmo clube é sempre mais estável, quer queiramos quer não. E diferente de ser emprestado um ano em França, noutro em Inglaterra, noutro em Espanha. Crescemos, mas não temos a estabilidade certa para crescer porque um jogador emprestado nunca é tratado como um jogador da casa. Porque se um clube tiver outro avançado com a mesma qualidade o clube deve pôr o avançado que é deles, vai valorizá-lo, porque um ativo que é deles. Um emprestado tem essa desvantagem e acaba por ser prejudicado.

Estreou-se com apenas 16 anos, na pré-época, com Quique Flores a treinador. Foi cedo demais?
Fui fazer a pré-época não para ficar, mas porque era jovem e estava bem, tinha-me destacado, porque sendo sub-16 já jogava pela seleção sub-19, pela qual marquei três ou quatro golos na fase de apuramento. Como prémio deram-me a oportunidade de fazer a pré-época com os seniores, em que tive um bom rendimento, inclusive jogando a titular num jogo com o Blackburn no Torneio do Guadiana e marcando um golo. Mas nunca fui uma verdadeira aposta do Benfica, nunca me deram uma oportunidade de me poder afirmar. Já lá vão cinco anos, é verdade, mas vemos muitos jogadores em Portugal [pausa]. Por exemplo se Rui Patrício tivesse jogado de início e depois o tivessem tirado da equipa hoje não seria titular na Seleção, não seria o guarda-redes que é.

Rui Patrício jogaria hoje no Benfica?
Não sei responder. É uma política dos clubes, que tem a ver com quem dirige, quem é o treinador… é uma política da qual não estou muito por dentro porque sou jogador e quero é jogar. Mas há apostas que não são iguais. Há o jogador que se jogar mal nunca mais joga… Se um clube decidir apostar num jogador jovem seu não pode esperar que seja logo o Cristiano Ronaldo. Um jovem tem de ter tempo para crescer e para errar. Isso faz parte do processo.

Sente que tinha margem mínima de erro?
Senti isso, sim. Porque sei que para eu jogar tinham ficar jogadores fortes de fora. Isso vai de acordo com a política do clube: se quer apostar verdadeiramente num jogador, se ao mínimo erro vai sacá-lo, se vai deixá-lo crescer. No Benfica, e não estou a dizer que é culpa do Benfica, até pode ter sido culpa minha, não sei, mas as pessoas não podem dizer ‘ele teve uma oportunidade e falhou’. Nem falhei nem acertei porque simplesmente não tive essa oportunidade. Tive uma época em que fiz alguns jogos a titular, fui ao Europeu, fiz golos, mas nunca fui verdadeira aposta. Isso é jogar quatro a cinco jogos a titular, haver uma continuidade. Isso não aconteceu.

Criou-se a ideia de que Jorge Jesus não aposta nos portugueses…
Não foi uma ideia, é uma evidência! Não estou a dizer que faz mal. Ele é um bom treinador, tem qualidade, mas a verdade é que os portugueses não jogam no Benfica. E olho para a equipa do Sporting, que está em primeiro lugar, e muitos daqueles jogadores jogaram comigo nas seleções jovens. O Benfica tinha jogadores para as mesmas posições com tanta qualidade como eles. Dou um exemplo: William Carvalho é um grande jogador mas o Benfica tinha nos quadros o Danilo Pereira, que naquela altura tinha tanta qualidade como o William. Só que nunca jogou no Benfica, nem sequer foi à equipa principal mas acabou por mostrar no Mundial sub-20 que tinha grande qualidade. Olho para o Sporting e vejo William, que é um ano mais novo que eu; Cedric é da minha idade; Wilson Eduardo é mais velho que eu um ano, tal como o André Martins. São bons jogadores, mas o Benfica tinha jogadores tão bons quanto eles.

formação7

Então o mal não é só do treinador…
Pois, não sei., quem gere o clube é que é o responsável e o jogador só tem de tentar jogar e procurar ter sucesso. Gostava muito que fosse no Benfica, que é o meu clube desde sempre, mas se não der terei de trabalhar noutro sítio.

[…]

Sente-se esquecido?
Esquecido não diria, porque tenho contrato até 2018, e isso será porque Benfica confia em mim. Mas o Benfica nunca me acompanhou em todos os empréstimos por que passei. Não recebi uma única chamada de alguém do Benfica na época passada, quando joguei no Corunha. Este ano a mesma coisa.

Nunca?
Nunca. Se calhar é esse o procedimento com todos os emprestados, não sei. Nem vou dizer que é bom ou mau. Como disse, acho que o Benfica sabe que tenho contrato até 2018 e certamente acreditam em mim.