violaÉ sempre bom, quando vemos que quem vem de fora olha para o Sporting da forma que deve ser olhado. Em declarações ao jornal O Jogo, Valentin Viola, em mais uma entrevista que é capaz de ter passado despercebida entre passas e rabanadas, merece ver as suas palavras destacadas (e chamo a atenção para mais uma prova da importância de Rinaudo)

 

Tem acompanhado o Sporting? Está a surpreendê-lo neste campeonato?
É surpreendente a grande mudança que se deu de uma época para a outra. Passou de uma temporada terrível para a liderança. Eu estava consciente da qualidade dos jogadores e fico feliz por estarem por cima.

Vê os jogos?
Sim, vejo-os quase sempre na internet. E, além disso, vou estando a par porque falo com vários dos meus companheiros.

Algum deles o surpreende em particular?
Não digo que me surpreendam, mas fico contente pela forma como está a render o meio-campo,que se está a destacar. Adrien, André Martins… E também o Maurício: estive com ele na pré-época, notava-se que era um grande jogador e agora está a demonstrá-lo. Mas têm estado todos muito bem, nota-se que ganharam confiança. Jogam com qualquer equipa e ganham – agora jogam sem medo. Mas está a surpreender-me Montero, que eu não conhecia e está a fazer muitos golos. É um grande avançado, com muita técnica e qualidade: é um goleador.

O que mudou com Jardim?
Para mim, a pré-temporada foi fundamental. Era o tempo de que um técnico precisava para que o plantel percebesse as suas ideias; em pouco tempo não se pode trabalhar. Ele teve a pré-temporada e agora estão a ver-se os resultados. Eu estive poucos dias com ele, quando me apercebi de que me iam utilizar como avançado-centro.

Vê o Sporting sagrar-se campeão?
Sim, sim, claro. Pelo banco que tem; sai um, entra outro que joga bem, que faz golos… O Sporting tem um plantel bastante completo e vejo-o a lutar pelo título até ao fim.

O facto de FC Porto e Benfica não estarem tão bem é uma ajuda?
Talvez, mas são sempre equipas regulares. Jogando bem ou mal, a verdade é que estão sempre ali, a dois ou três pontos. Não há margem para descuidos, porque, com uma ou duas vitórias, passam para a frente.

Estando o Sporting melhor, tem mais vontade de voltar?
O Sporting entusiasma-me pelo que é, pelo que significa; não é pelo facto de ser primeiro que quero voltar. É um grande de Portugal, os adeptos são fantásticos e é isso que me entusiasma.

Então está decidido a voltar?
Sim, em junho quero voltar, fazer a pré-temporada e ganhar um lugar na equipa. Quero aproveitar estes seis meses no Racing para voltar bem; não me serviria de nada voltar sem ritmo.

Os companheiros que deixou no Sporting pedem-lhe para voltar?
Sim, o Marcos [Rojo] diz que tenho de voltar. Além da nossa relação particular, di-lo pelo grupo, porque é um grupo muito bom, com grande ambiente. Isso tem muito valor; inclusive quando os resultados não correspondiam ao que queríamos, não havia discussões nem conflitos. Por isso, agora que está tudo a correr bem, o grupo deve estar mais forte ainda e isso também se deve refletir e influenciar para se conseguirem novas vitórias.

O Racing tem opção de compra?
Sim, mas é de dez milhões -é impossível que a possa pagar. Foi estipulada uma verba, porque o Racing queria ter essa opção, mas é muito alta. De qualquer maneira, a minha ideia é voltar em junho ao Sporting.

Que balanço faz destes seis meses no Racing?
Fui titular sempre que estive disponível, porque sofri a primeira lesão na minha carreira. Nunca tinha tido uma entorse, um estiramento, nada; não sabia o que era. E custou-me um pouco a voltar. Por isso não foi o que esperava, mas agora espero fazer uma boa pré-temporada e ter um semestre melhor.

A lesão aconteceu devido à falta de ritmo em Portugal?
Tinha uma dor na púbis, não quis parar, para continuar a jogar, e acabei por me lesionar. Uma pessoa aprende com estas coisas e, para a próxima, paro a tempo, para não me voltar a lesionar.

E o Racing também não foi muito feliz nos resultados.
Não, não, sabemo-lo. A equipa tem de ter um nível muito mais elevado e nós, os jogadores, sabemos que há muito mais para dar. A pré-temporada vai ser importante para todos, para nos prepararmos da melhor maneira.

O que se passou para não se afirmar logo em 2012/13, na primeira época de Sporting? Foram as sucessivas crises e trocas de treinador que o prejudicaram?
A mudança de dirigentes não me afetou em nada. O clube não atravessava o seu melhor período, como agora, mas isso não teve influência no meu rendimento. Mas, sim, mudámos muito de treinador e tínhamos de perceber o que cada treinador pretendia de cada um de nós…

Como foi a relação com os técnicos?
Aprendi com todos, tirei alguma coisa de cada um, mesmo com aqueles com que estive pouco tempo. E todos me pediam coisas diferentes, para ocupar diferentes posições no campo. Mas tirei coisas boas de Sá Pinto, de Oceano, com quem estive pouco tempo, de Jesualdo… E Jardim, quando o começava a conhecer, vim para a Argentina.

Com que treinador houve melhor relacionamento?
Sá Pinto tratou-me como um filho. Disse-me como se passavam as coisas em Portugal, explicou-me muita coisa… Eu não conhecia nada e ele disse-me: “Vou tomar conta de ti, vou-te ajudar.” Isso não é normal.

Foi prejudicado por esperarem que fosse um 9 como Ricky van Wolfswinkel?
Esse foi o principal problema. Com Sá Pinto, joguei pelas alas e fi-lo muito bem, fui titular em vários jogos. Depois começaram a pôr-me como avança- do-centro e já não estava tão confortável, não podia fazer o papel que faz agora Montero, por exemplo. Não é para mim, e isso custou-me muito.

Precisa de jogar pelos flancos, é isso?
Joguei toda a minha vida pelos flancos. No Racing, cheguei a jogar como segundo avançado, mas nunca como uma referência de área, como os 9 dos quais esperam o golo. Eu preciso de ter mais liberdade, de maior mobilidade. Claro que sempre que os técnicos mo pediram, tentei fazê-lo da melhor maneira, tentei cumprir para ajudar a equipa, mas nunca rendi tanto como a jogar pelas alas.

E como se deu a saída do Sporting? Qual foi o motivo que o levou a regressará Argentina?
No momento em que o técnico me disse que me encarava como alternativa para avançado-centro, eu sabia que ia ter de esperar pela minha oportunidade no banco. Eu não tinha problemas, mas sabia que nunca conseguiria ajudar a equipa da melhor forma. Falei com o treinador, ele disse-me que me queria usar nessa posição e, então, quando surgiu a oportunidade de regressar ao Racing, um clube onde me conhecem e onde podia voltar a ganhar ritmo competitivo, não quis desaproveitá-la, senão ia ficar seis meses parado.

Mas as coisas complicaram-se e acabou por passar à equipa B…
Fiz alguns jogos, porque as negociações se prolongaram. Cheguei a pensar que não se faria o empréstimo, mas acabou por se concretizar.

Rojo transformou-se num líder da defesa?
Sim, o Marcos já na época passada era o patrão.

Como pensa que estará Rinaudo ao perder o lugar?
É verdade que perdeu o lugar, mas calculo que esteja a desfrutar do sucesso por fora, porque é um um grande companheiro e um grande profissional. Quando lhe calhar jogar, vai fazê-lo da melhor forma. É muito bom colega, um grande capitão. Não sendo do país onde joga, tomar as rédeas do grupo e manter tudo na linha não é para qualquer um. E ele fê-lo.

Mesmo não jogando, manterá essa liderança?
Sim, sem dúvida. Por mais que não jogue, continua a ser ele próprio e representa o mesmo para o plantel.