Os bastidores
Quem saiu, deixou a casa despida. Ficaram as paredes e, algumas delas, esburacadas pelo arrancar de quadros pregados com verdadeiras cavilhas. E se a situação, já de si, seria complicada, mais se complicou quando todos percebemos que, para lá dos banqueiros, dos empresários, dos poderes instituídos na comunicação social e dos lodaceiros que se movem, sem vergonha, nos corredores do nosso futebol e da nossa arbitragem, este quase começar do zero contava com dificuldades extra trazidas por… sportinguistas.
Todos sabemos o que custou. Todos recordamos o anúncio do apertar do cinto. Todos recordamos aquela célebre conferência de imprensa onde, por milésimos de segundo, a corda não rebentou de vez. Todos recordamos a novela Bruma, por exemplo, alimentada a bufas e caldeiradas. Todos recordamos as respostas à pouca ética dos órgãos de comunicação. Tantas frentes de batalha, tanta mudança de mentalidades e poderes instituídos. Tanto sentido para a expressão fight&resist, que terá que continuar gravada nos nossos espíritos durante os próximos anos.

A preparação
Ao contrário do que vinha acontecendo e como que respondendo às preces de milhares de adeptos, começou a construir-se a casa pela base: foi-se buscar um treinador a sério. Mais, foi-se buscar um treinador totalmente inteirado dos problemas do clube e das limitações com que iria contar. A isto se juntou uma apertada pesquisa de jogadores, com pouca margem financeira para errar (apenas Welder, que veio por empréstimo note-se, parece ter sido um tiro completamente ao lado, pese a pouca utilização de Magrão). E se as qualidades futebolísticas eram fundamentais, a personalidade dos contratados não foi aspeto negligenciado, algo que, parece-me, se reflete na forma como nos vai sendo dado a conhecer o estado de espírito que se vive no balneário e nas poucas intervenções disparatadas dos empresários.

A mudança de paradigma
Não há dinheiro? Há formação.
Nada que invalide a existência de exigência, embora peça muito mais paciência. E, creio que falo por todos nós, amplia o nosso orgulho de cada vez que vemos o Leão Rampante ser envergado. E a verdade é que esta política, mais cedo ou mais tarde, terá que ser adoptada pelos outros rivais (por mais frases balofas que sejam ditas, por mais vendas fictícias que sejam feitas, por mais que não se questionem contratações para lavar dinheiro ou o porquê do avolumar do passivo).
O problema, para o sistema montado, é que um sucesso leonino colocará em causa toda esta política de esbanjamento e de comissões.

Os objectivos e o que queremos para o resto da época
O principal, parece-me, está plenamente conquistado: os adeptos voltaram a acreditar na equipa e os adversários voltaram a respeitar (e, porque não dizê-lo, a temer) o Sporting.
Na Taça de Portugal foi a vergonha que se viu, impedindo-nos de deixar pelo caminho um dos candidatos à conquista em sua própria casa. E na Taça da Liga estamos dependentes da nossa capacidade goleadora para seguir em frente.
Quanto ao campeonato, poucos arriscariam dizer que, a meio, estaríamos a dois pontos do primeiro lugar, com a melhor defesa e o melhor ataque. A expectativas estão mais do que superadas e não há adepto que não acredite que vamos discutir o campeonato até final, mas a direcção já deixou bem claro qual o objectivo: entrar em todos os jogos para ganhar e conseguir o apuramento para a Champions.
Numa altura em que se fala em reforços, creio que bastará recorrermos à equipa B (Mané, Esgaio, Medeiros, Chaby, Fokobo) para ficar nos três primeiros lugares. E, muito sinceramente, sem interferência de elementos apitadores, acredito que somos capazes de discutir o primeiro lugar até final. Obviamente que reforços do nível de Nani seriam muito bem vindos e seriam, igualmente, uma forma de assumir definitivamente quais os objectivos até ao final da época.