Há já uns tempos tenho vindo a pensar num modelo que deve ser reforçado dentro do nosso clube e que parece agora, mais que nunca fazer sentido. Felizmente o Cherba concede-me este bocado na cozinha, onde posso fazer uns petiscos mais experimentais de vez em quando e perguntar aos amigos tasqueiros o que acharam.

Como clube formador e actualmente com poucos recursos financeiros, teremos, mais cedo ou mais tarde, de estruturar o clube de forma diferente. Actualmente temos uma aposta séria na formação, complementada com alguns jogadores que compramos no mercado para complementar o plantel.
É certo que vemos resultados nesta política em alguns clubes, como o Dortmund, e esta é a nossa melhor aposta. Mas podemos ir mais longe

O que penso então eu que devemos fazer?
Bruno de Carvalho deve pensar no seu mandato como um todo e não época a época. Isto é, não pensar o factor desportivo num período de 12 meses para depois voltar a pensar no Verão. Penso que o Sporting, clube formador dos melhores entre os melhores, deve pensar a um longo prazo com os jogadores que já tem no clube. Passo a explicar melhor.
Primeiro passo: estabelecer o modelo de jogo junto da equipa técnica, igual para todos os escalões e com os mesmos princípios de jogo. Isto já é feito e deverá manter-se assim durante, pelo menos quatro anos. Aqui terá de se escolher de acordo com as garantias de futuro que existem no clube. “Temos 15 jogadores prontos a entrar no 4x3x3? Ok então vamos a isso”.
Segundo passo: apurar as características do “jogador perfeito” para cada uma das posições. As características, a intensidade, passe, visão de jogo, posicionamento, movimentos, etc. Algo que ainda não é feito. Depois disso, identificar na equipa B , emprestados e juniores quem são os que têm mais potencial de atingir esse patamar. Neste caso teríamos, por exemplo, Zezinho, Palhinha e Fokobo como potenciais substitutos de William ou Betinho e José Postiga como os futuros pontas-de-lança. Esses jogadores terão de, depois de reconhecido o potencial, ser limados, insistentemente, em todos os escalões para atingir o mais rapidamente possível as características futebolísticas pretendidas na equipa principal. O seu crescimento deve acontecer muito perto da equipa principal, o que significa que todos os anos teríamos pelo menos três jogadores jovens a subir à equipa A, pois a maturidade e competitividade é muito alta.
O que seria conseguido neste ponto é, acima de tudo, a valorização de jogadores tão interiorizados com os processos da equipa que teriam uma adaptação enorme e poderiam disfarçar algumas debilidades técnicas com a competência táctica.

O Barcelona enfrentou o seu período perdedor e pouco depois de venceu a Liga dos Campeões. Olhou para o que tinha nas camadas jovens e na cantera do clube. Médios de qualidade, alguns até recuperados mais tarde (caso de Cesc Fabregas) que eram capazes de jogar um futebol de posse e garantiam uma equipa competitiva para as próximas 5 épocas. Não é necessário relatar o que ganharam, nem sequer dizer que também podemos fazê-lo.
Revolta-me muito quando leio notícias em que médios centro são apontados ao nosso clube. Neste momento temos matéria prima para ter três meio-campos diferentes, mas sempre formados no clube. Para o ano deveria então começar o ciclo de “limar” os potenciais jogadores para atingirem o patamar pretendido. E quando digo isto falo em termos psicológicos, técnicos, tácticos ou físicos.

A transição seria natural e menos necessários os empréstimos e a equipa B. Claro, esta estratégia tem um perigo. Seleccionar à partida os que parecem ter mais potencial poderá desmotivar e afastar da ribalta outros com um talento mais atrasado. Cabe ao clube ir-se adaptando, reconhecer novos miúdos a despontar, mas assumir seriamente que existem aqueles que chegarão certamente à equipa principal. O nosso Verão seria menos entusiasmante, é certo, pobres adeptos do Ajax e do Barça que sabem que ao vender um grande jogador outro está pronto a entrar por ele.

Façamos um exercício futurista. Daqui a duas épocas André Martins Adrien e Rui Patrício são vendidos. Nessa altura já João Mário, Iuri e Luís Ribeiro estão habituados a estas andanças, já disputaram jogos europeus e, quem sabe, até já mereciam a titularidade. E acreditem, esta geração de juniores é tão genial como a que acabou de passar. Cabe ao Sporting torná-los jogadores sérios mais rapidamente, sem forçar em demasia, mas mais limados quando atingem o futebol profissional.
Se iria resultar com todos? Claro que não, mas ganharia o Sporting e muito. Em tempo de crise como o que vivemos, está na altura de, sem medos, assumir que queremos uma equipa 100% Sporting, com algumas posições preenchidas no mercado por não existir mesmo opção nos quadros do clube. Não apenas agora que “não há dinheiro para nada”, para sempre, com o tempo tudo seria tão natural que ninguém conseguiria bater-nos.

Espero ter feito entender a minha ideia do “modelo como clube”. Uma organização brutal entre todos os escalões do clube, com jogadores a serem trabalhados internamente para atingir a maturidade competitiva mais cedo.

 

texto escrito por Maria Ribeiro

 

* duas cozinheiras, dois temperos. O toque de Leoa, dado pela Maria Ribeiro e pela mbc. Às terças, na Tasca do Cherba.