Partilho da mágoa do Cherba quando lamenta a falta de tolerância a que os nossos adeptos chegaram. Aqueles que apenas há duas semanas enchiam Leonardo e seus miúdos de rasgados elogios, são os mesmos que agora criticam com uma facilidade quase amnésica os nossos destemidos heróis.
Recuemos um ano, um ano apenas. Jesualdo Ferreira chegava como salvador à nossa equipa principal. Seria uma era de estabilidade gritavam os jornais e os nossos rivais, quase já com pena de nos ver na lama. Juju apostava sempre nos mesmos, a maioria ia cumprindo e muitos até nos enchiam de esperanças para um futuro risonho.
Ilori entrava pelo “saudável” Bolo-de-Arroz (que vibra muito com as nossas vitórias no Twitter, gosto disso). Joãozinho pelo Insúa (o Pereirinha riu-se) e Bruma pelos congelados Jeffren e Carrillo. Mas foi no meio-campo que os heróis apareceram. Adrien lesionado quase todas as semanas, Schaars a fazer-lhe companhia, e surgiam dois guerreiros de seu nome André Martins e Eric Dier. Dois miúdos, um de 21 e outro de 19 iam empurrando uma equipa esfarrapada, envergonhavam os milionários como Labyad e faziam-nos bater com mais força palmas quando a bola lhes tocava nos pés.
Numa terra mais a cima de Lisboa, em Coimbra, um rapaz irmão da estrela da equipa B, insistia em marcar golos frente ao Sporting, mas sem os comemorar. Depois marcou mais uns quantos e nós perguntava-mos “Como é possível, sem alternativa ao holandês, este rapaz não jogar com a listada vestida?!!!”. Nesse mesmo ano, pedimos por tudo que Cédric fosse emprestado outra vez ou que fosse crescer, qualquer coisa, tudo menos ocupar o lugar direito da defesa.
Percebem agora a injustiça que cometemos? Será que já se esqueceram, que numa equipa sem jogo ofensivo, André Martins construía tudo sozinho, comandava as tropas para a frente, fazia assistências e passes de génio? Esqueceram-se que muitos, rivais até, viram nele um grande médio, um dos melhores portugueses? Será que nos esquecemos que Eric é um leão como há poucos, que honra a nossa camisola e quer retribuir tudo o que o clube lhe deu? Esquecemo-nos que quase implorámos o regresso de Wilson, só pela vergonha que passámos mercado após mercado com a solitária presença de Wolfs?
Pensei que, por esta altura, os Patrícios e os Cédrics desta vida já nos tinham calado bem caladinhos. Que em campo teriam provado que quando é dado tempo e estabilidade a estes atletas, eles acabarão por crescer e tornar-se grande jogadores. Na melhor escola de formação do mundo, apenas é dado espaço aos melhores. Estes são os melhores. Ponto.
Na altura em que estamos, o apoio tem de triplicar. Temos de ser os melhores adeptos do mundo uma vez mais, para que nos possamos aproximar de quem ocupa o nosso lugar por direito. A próxima luta é já no Sábado, frente à nossa besta negra nas últimas duas temporadas. É uma equipa organizada, muito motivada com a passagem à final da Taça da Liga e a precisar de pontos para se manter no meio da tabela.
Somos melhores, claro que sim. Temos de provar. Heldon e Mané são uma dupla que começa a alegrar-me, o último então dá gosto ver em campo. Gosto do faro de golo dos dois, são rápidos e com poucos medos. Ainda assim, para Vila do Conde, apostaria em Carrillo no início. Penso que está com ganas de nos calar outra vez e marcar um golão de levantar a bancada.
Para sugestão final, os nossos juniores (QUE GRAAAANDA EQUIPA) já estão em primeiro ao fim de… uma jornada. Que tal uma reunião do pessoal da Tasca, em Alcochete, para animar as bancadas do Estádio Aurélio Pereira? Vamos apoiar os miúdos, que mostram qualidade e são prova de que a calma e a competência reinam mesmo em Alvalade. Combinamos o encontro?
Texto de Maria Ribeiro
* duas cozinheiras, dois temperos. O toque de Leoa, dado pela Maria Ribeiro e pela mbc. Às terças, na Tasca do Cherba.
18 Fevereiro, 2014 at 23:24
Grande texto! Gostei!