Olá, Marco.
À hora em que coloco esta posta nas mesas, tu estás a ser apresentado como o próximo treinador do Sporting Clube de Portugal. Só mais logo, depois de ter tratado da minha filha, vou poder assistir à conferência de imprensa, mas sou gajo para arriscar o que te vai na alma.

Chamem-me crente, mas aposto que andaste o dia todo com uma pedra no estômago, ansioso pela chegada da hora. A verdade é que, por muito que te tenham dito o contrário, estás a atravessar a porta que te dá entrada no maior clube português. Repito: o maior clube português. Mais. Por muito que te tenham dito o contrário, estás a atravessar a porta que te dá entrada no maior clube português e com os melhores adeptos do país (daqueles que não precisam mudar os seus jogos para estádios maiores para serem os que mais adeptos levam a casa dos adversários, estás a ver?).
Como se isso fosse coisa pouca, chegas a um Sporting Clube de Portugal onde te espera uma estrutura ambiciosa e empenhada em dar-te as melhores condições possíveis para atingires os objetivos. E vais ter oportunidade de trabalhar, diretamente, com uma das melhores escolas de formação do mundo!

Não tomes estas minhas palavras como se te estivessem a fazer um favor. Chegas aqui por mérito próprio. O que fizeste, à frente do Estoril, foi por todos reconhecido: a capacidade de ir reinventando soluções quando ficavas sem jogadores, a capacidade de trabalhar com recursos limitados, a capacidade de não te limitares a um futebol venenoso, com dois ou três velocistas lá na frente. O teu Estoril jogava futebol e, mesmo contra os grandes, não entregava na totalidade as despesas do jogo. Trazes na mala, igualmente, as opiniões de quem vê em ti um treinador que consegue a liderança pela proximidade e que é visto como um profissional exemplar.

E se o profissionalismo é a base de tudo o resto, tenho a certeza que sabes que vai ser preciso bem mais do que isso. Quando passares esta porta verde e branca, vais ter que perceber a dimensão do clube onde estás. A sua história, a sua forma de estar, os seus adeptos. Só queremos ganhar, Marco, mas, ao contrário do que é apanágio no nosso país, não gostamos de fazê-lo a qualquer preço. Gostamos, muito, de bom futebol, mas sabemos sofrer com quem está em campo quando assim se justifica. E queremos, ó se queremos, alguém que sinta o Leão Rampante como nós sentimos.

É uma empreitada do caraças, companheiro, mas se conseguires perceber tudo isto, garanto-te que vai ter uma verdadeira legião a teu lado. Na luta e nos festejos (e, garanto-to também, são festejos inesquecíveis). E, como seria de esperar, a luta começou mesmo antes de seres apresentado, montando-se uma campanha de envenenamento em que se dizia que, por preferências clubísticas, eras tu quem estava a protelar o ingresso no Sporting. Tu sabes que essa teoria é patética, eu sei que essa teoria é patética e, não estando a ouvir-te falar na press, aposto que, no final, todos nós vamos saber que essa teoria é patética.

Ah, a propósito, estou-me cagando para o facto de seres do Benfica. Os meus amigos de infância são todos benfiquistas. E, cá para nós que ninguém nos ouve, foi a um símbolo do clube rival que acabámos a chamar “o grande artista”, pela forma orgulhosa com que envergou a mais bela camisola do mundo! É esse o segredo, Marco: trabalho e orgulho! Orgulho por estares nesse lugar, nessa cadeira, neste clube! Não é um clube de passagem, entendes? É um clube do caralho, Marco! E se fores capaz de adormecer e acordar sem te esqueceres disto, acredita que serás sempre um dos nossos!