(in Rádio Renascença)

Bruno de Carvalho considera que há algo que cheira mal no futebol português, não mostrando quaisquer tabus ao dar aquilo que considera ser uma “visão realista” do contexto actual. Esta quarta-feira, durante uma escala realizada em Ponta Delgada, incluída numa viagem até Boston, nos Estados Unidos, em que irá inaugurar um núcleo do clube, em Fall Rivers e assistir ao Portugal-México, agendado para a madrugada de sexta para sábado, o presidente do Sporting começou por ser confrontado sobre qual dos candidatos à presidência da Liga é que os leões irão apoiar mas acabou por fazer um prefácio do tema com um discurso incisivo e duramente crítico.

“Temos que pensar no que realmente é importante para o futebol português. Na gíria popular, porque sabemos que o futebol português está bipolarizado, isto funciona como o ânus onde temos duas nádegas que se enfrentam uma à outra dizendo ‘estou aqui e sou melhor do que tu’. Entre algo fisiológico como o ânus, ou sai vento mal cheiroso ou trampa. E é disto que o futebol português está cheio por dentro e por fora: trampa. O candidato que vamos observar tem que ter rigor e transparência mas também um autoclismo muito grande para limpar um futebol que está conspurcado”, atirou Bruno de Carvalho. “Quem tiver o autoclismo maior será aquele que o Sporting apoiará. Este novo Sporting ainda não tem um autoclismo suficiente para fazer esse trabalho. Não vamos longe com este conjunto de cata-ventos a que o futebol está entregue”, prosseguiu.

Partindo, num outro ponto de vista, do mais recente escândalo de manipulação de resultados em que a Oliveirense alegadamente estará envolvida, o líder verde e branco foi mais longe, sustentando, ainda a propósito das eleições para a Direcção da Liga, que “há manipulação democrática” para o sufrágio agendado para 11 de Junho. “Alguns clubes sentaram-se e, sem fazer a mínima ideia de quem são os candidatos, definirem apoios. O sistema democrático é as pessoas apresentarem-se e não por antecipação criarem-se condicionalismos de apoio. Isso tem-se passado. É assim que vamos vivendo, com essa manipulação e com esses cata-ventos, incendiários do nosso futebol e que depois aparecem quais bombeiros que apagam o fogo. Há manipulação no futebol português”, frisou.

Tal como num passado recente, o presidente do Sporting mantém-se na frente de combate ao “sistema”, voltando a enviar “recados” ao FC Porto, cujas “rajadas violentas do Norte têm dominado o panorama climatérico”. Mas há também “circos”, na perspectiva de Bruno de Carvalho, que vão pretendendo afastar o Sporting dos centros de decisão.
“Existem circos para fora para a manutenção de um sistema em que os clubes mais pequenos possam ser facilmente manipulados e que um clube grande como o Sporting nunca chegue lá porque é incómodo e porque diz a verdade”, salientou.

As contratações
Bruno de Carvalho confessa que já disse “50 vezes” que William Carvalho vai manter-se no Sporting, na próxima época mas, esta quarta-feira, teceu um 51º comentário sobre o assunto. Questionado sobre o se o propósito principal da contratação do médio-defensivo espanhol Oriol Rosell visaria preencher o posto de “trinco” na eventualidade da saída do internacional português de Alvalade, o presidente do Sporting negou esse cenário.

“Não estamos vendedores e não acredito que o William vai sair”, atirou, durante uma escala feita nos Açores, incluída numa viagem até Boston, nos Estados Unidos, em que irá inaugurar um núcleo do clube, em Fall Rivers e assistir ao Portugal-México, agendado para a madrugada de sexta para sábado. Por isso, Bruno de Carvalho explicou o porquê da transferência do médio catalão para os leões. “Significa que o Sporting não tinha um médio-defensivo que pudesse substituir o William. O Sporting tem que ter um plantel condizente com as suas expectativas. Na época passada, infelizmente, o Sporting não foi às competições europeias mas este ano já vai. Temos que ter um plantel com mais recursos par não termos mais sobressaltos como tivemos no ano passado, quando o Sporting não tinha soluções para poder colmatar essas saídas”, esclareceu, tecendo elogios ao novo reforço verde e branco. “O Rosell é um excelente jogador para termos mais opções num local onde já temos uma excelente opção, que é o William. Uma equipa campeã e vencedora não se faz só com um onze. Faz-se com uma equipa que seja altamente competitiva nas quatro competições e para as poder vencer”, sublinhou.

Depois de Rosell, Slavchev e Paulo Oliveira, o Sporting mantém-se no mercado, em busca de reforços que aumentem a competitividade e qualidade do plantel às ordens de Marco Silva. Mas tudo está a ser feito com tranquilidade. “Vamos vendo com calma. Estamos a trabalhar com o treinador e com a estrutura. Sabemos o que queremos, queremos um futebol consistente, ganhador e que lute pelos títulos. Vamos reforçando a equipa num mercado que tem que ser atacado com alguma calma”, afiançou Bruno de Carvalho.

O passivo, o circo e os palhaços
Bruno de Carvalho não escondeu o incómodo, esta quarta-feira, quanto às dúvidas que têm sido lançadas em torno do valor real do passivo do Sporting. Na semana passada, a SAD leonina anunciou que o passivo passou de 258 milhões, registado em Junho de 2013, aumentou para cerca de 264 milhões, em Março deste ano. Nos últimos dias, porém, muito se tem especulado sobre se este valor não será mais elevado, podendo inclusivamente chegar perto dos 500 milhões. “Aconselho os sportinguistas a lerem o ‘Jornal do Sporting’, que vai para as bancas amanhã. Isso faz parte de manobras de circo porque o futebol é um espectáculo e é preciso sempre palhaços”, atirou o presidente leonino.