E de um momento para o outro, deixou-se de falar em meio milhão de passivo e em números escondidos e naquela quantidade de mentiras que foram potenciadas pela máquina de propaganda encarnada. O tema é, desde ontem à noite, a linguagem utilizada pelo presidente do Sporting Clube de Portugal.

Pode, então, dizer-se, que esse é o primeiro ponto a favor. Depois de uma mão cheia de dias a ouvir vendedores de banha da cobra, com megafones, a anunciar o buraco financeiro do Sporting, chega alguém com uma aparelhagem montada numa carrinha e abafa os restantes. O banzé foi tal, que até a Ana Lourenço, a tal que adora o mundo dark, cenas góticas e meio maradas, se mostrou muito incomodada com o linguajar de Bruno de Carvalho. Falsos puritanismos à parte, obviamente que a analogia utilizada extrapolou o que estamos habituados e, porque não dizê-lo, depois da risada inicial que provoca ouvir o presidente mandar uma cacetada como se estivesse a tomar um caneco na Tasca, chega-se à conclusão que não foi bonito.

Mas o que é hipócrita, uma vez mais, é querer olhar para a estética e ignorar o conteúdo. E esse conteúdo é que devia ser alvo de indignação e de repulsa. Mas não, não é. E porquê? Porque todos sabem que a dicotomia a que o presidente do Sporting apontou o dedo existe, mas todos ajudam a promovê-la. Porque todos sabem, que as marionetas que concorrem à direcção da Liga foram escolhidas com um objectivo claro: manter tudo como está, contrariando muitas das propostas que o nosso clube tem vindo a apresentar. Importa porta manter os empréstimos de jogadores que serve de pagamento a serviços posteriores, importa não beliscar em demasia o monopólio da Sporttv, importa não abrir a porta um uma ventania verde que ameaça constipar quem manuseia as marionetas.

Entendendo perfeitamente os Sportinguistas que não gostaram da forma como Bruno de Carvalho se expressou. E até dou de barato que esta possa ter sido uma derrapagem no processo de aprendizagem e de crescimento, que se iniciou há pouco mais de um ano. Mas também entendo, que há alturas em que nos salta a tampa. Em que de tanto remexermos na merda que são os bastidores do futebol português, nos apeteça largar um “foda-se!” sonoro o suficiente que nos permita marcar uma posição. E não deixa de ser curioso que, depois de três décadas em que, constantemente, o sistema dos gémeos nos tem tentado enrabar, o país se mostre chocado por ouvir falar em cus.