Então, Marco! Estás bom? Epá, estás com mais cabelos brancos! Até na barba! Pois é, companheiro, isto de treinar o Sporting Clube de Portugal é um desafio do caraças, não é? Se eu já treinei o Sporting? Só no computador e na consola. Hey, mas olha que a adrenalina sobe de tal forma que comecei a partir joysticks ainda antes de fazer dez anos!

Vá, mas conta lá como estão a ser estes dois meses de trabalho? Aquela semana antes de começar o campeonato foi terrível, não foi? Acho que por esta altura já percebeste como isto funciona: treinar o Sporting oferece-te muito mais adversários do que aqueles que defrontas em campo. Só um tapado é que acredita que aqueles casos com o Rojo e com o Slimani foram uma coincidência. Não foram, ponto. O timing foi escolhido na perfeição. Para atingir o grupo, para atingir-te a ti, para atingir a direcção. Neste último caso, até tivemos uma entrevista do Dier, com direito a guião. Acredito que, durante essa semana, tenhas chegado a casa mais amarrotado que uma camisa que fica no fundo do cesto da roupa. Acredito que tenhas repensado várias vezes como ias abordar o jogo de Coimbra. E acredito que mal tenhas dormido, a recuperar o golo que sofremos para lá da hora.

Entretanto, chegou o Nani. Não há treinador que não quisesse ter o Nani no seu plantel. Novo boost de Sportinguismo e mais de quarenta mil adeptos em Alvalade, para a tua estreia oficial. Uma vitória tão justa quanto sofrida (ao segundo jogo, já percebeste como isto vai ser em 95% dos casos: é contra 11 gajos enfiados no seu meio-campo) e mais um episódio a colocar-te à prova. A rábula do penalti, que afinal não passou disso mesmo, mas que os tarefeiros ao serviço do sistema quiseram transformar num caso de indisciplina. Não chegou que tu e o próprio Adrien tivessem encerrado o assunto; aquilo era um caso de indisciplina, Nani vinha minar o balneário e tu és um jovem sem mão nos jogadores. Houve, inclusivamente, um bandalho que escreveu que com o Jesus e o Pategui aquilo nunca aconteceria. Outros, apressaram-se a fazer-te o funeral, pois o mais certo é ficares em Alvalade quase tanto tempo como o Cantatore.
No meio deste ataque cerrado, ainda levaste com a análise ao teu comportamento no banco. Que és um copinho de leite, um tenrinho, um puto assustado de mão no queixo e com falta de genica. Tenho cá para mim, que os doutores capazes de analisar o teu comportamento e cruzá-lo com os teus terminais psicológicos têm estado pouco atentos à forma como festejas os golos e que devem é estar lixados pela proximidade que tens com os jogadores. Sabes, um dos maiores jogadores da nossa história foi o Pedro Barbosa. Quererem que tu sejas um palhaço como o que se senta no banco do benfica (sim, ouvi e li quem quisesse que adoptasses um comportamento pastilhado), é o mesmo que terem criticado o Barb8sa porque ele não parava de comer coissants e não fazia piques como o Douala. Ignora e mantém-te fiel ao que és e naquilo em que acreditas ser a melhor forma de atingir os objectivos.

Por esta altura, também já percebeste que para lá dos adversários que disputam as competições, para lá das notícias encomendadas e inventadas, para lá das movimentações premeditadas dos empresários, para lá das arbitragens habilidosas, ainda tens que levar com Sportinguistas impacientes e imersos num mundo cheio de fantasmas (há quem lhe chame “fado”, eu prefiro nem lhe chamar o que quer que seja, para não correr o risco de ofender alguém). O problema, é que muitos destes Sportinguistas (é uma sorte em manter a caixa alta no s) ocupam lugares que lhes permitem ter alguma visibilidade e minar a opinião do universo verde e branco. Queres um conselho? Caso ainda não o tenhas feito, ignora. Não vejas. Não ouças. E se alguém te vier dizer “epá, ouviste….”, limita-te a um «caguei pró quesse gajo diz e pensa!».

Chegamos, assim, à semana do dérbi. Já soubeste que a renovação do Cédric caminha para mais um drama; já tiveste um palerma chamado Ruben Semedo a demonstrar, numa entrevista a la Dier, que a dimensão da sua massa cinzenta é inversa aos centímetros de altura; já viste o William ser vendido cinco vezes em três dias; já nos rimos com o artista dos fundos a pagar uma notícia num dos pasquins ingleses; até já levaste com uma capa de jornal em que, de uma entrevista em que Cristiano Ronaldo analisa o rotundo fracasso da selecção e assume ter colocado a carreira em risco ao jogar lesionado, o que é destacado é que o Nani deu um passo atrás em vir para o Sporting (assim como quem não quer a coisa, espreita e ri-te com o que os gajos fazem hoje: uma caixinha, na zona de destaque de qualquer publicação (canto superior direito), a dizer que o Bebé não acha que foi um passo atrás ter vindo para o benfica. Não sei o que é mais patético, se comparar o Bebé com o Nani, se achar que o rapaz está a dar mais passos do que aqueles que o conduzem ao banco de suplentes).

Mas como o dérbi é só depois de amanhã, vais ter direito a dois dias de pressão extra com base nas palavras do presidente: «os Sportinguistas merecem que este ano consigamos fazer bem melhor do que no ano passado. Para o campeonato, note-se. Esse jogo não correu bem». Portanto, uma frase simples e a constatação de um facto – a exibição na Luz, pese aquela novela da lá de vidro e do adiamento do jogo que favoreceram o adversário e nos cortaram o efeito surpresa da táctica, foi medonha –já foi transformada numa faca apontada ao Marco. Basta ler o que mais um escroque tarefeiro escreve, no manhord: «como o presidente não joga nem treina, ficou claro a quem compete fazer bem melhor do que no dérbi da época passada». Claro que compete ao treinador e aos jogadores, que sabem bem o que não jogaram nessa partida.  Ah, esse é outro problema! Apostaste no mesmo onze da época passada, o que significa que os reforços são uma merda e que tu não tens opinião nas contratações. Foda-se, Marco, és um pau mandado! (ironia desligada).

Sabes o que te digo, Marco? Que confio em ti e que estou muito contente pelo facto de seres o treinador do meu clube. Que vamos fazer um jogo do caralhinho, depois de amanhã. E na próxima e na próxima e na outra jornada. Que a equipa vai evoluir, que o futebol vai ser cada vez melhor e que, em curto espaço de tempo, os reforços ganharão o seu espaço e calarão muitas bocas foleiras. Faremos uma época em crescendo e, lá para Abril, estaremos a lutar pelo título, esgotado Alvalade e pintando estádios alheios como nenhuns outros pintam. Por essa altura, ainda haverá quem ache que te falta esbracejar como um bicho de penas, ao longo da linha lateral. E tu, mantendo o teu ar pensativo, já conseguirás enfrentar com um sorriso as dificuldades extra que se colocam a um treinador do Sporting.