“He plays on the left…he plays on the right….that boy Ronaldo, makes England look shit…”
Este era o cântico que os adeptos do Manchester United tinham para o nosso sócio 100.000. Um cântico que começou a ser cantado a partir da sua segunda época nos Red Devils, o que prova a fulgurante ascensão de Cristiano Ronaldo no futebol inglês. A partir daí, foram umas quantas PL, uma Champions e uma ou outra tacita. Sempre com a chancela de CR7.

Porque é que começo com esta introdução?  Porque acredito que temos, nas nossas fileiras, um rapaz que nos pode fazer vibrar tanto como os adeptos do ManUtd o fizeram em Old Trafford. Falo de Ryan Gauld. Cada um na sua dimensão, acredito que, tal como Ronaldo foi determinante nos troféus que ganhou pelos ingleses, também Gauld marcará um período no Sporting. Não sei se na mesma amplitude (afinal, CR7 é um fenómeno) mas pelo menos na sua preponderância na equipa. Disso, não tenho dúvidas. Se o rapaz não tiver o azar de se lesionar e atrasar a sua adaptação, será a “pedra de toque” que falta na nossa equipa.

Porquê tanta fé? Perguntam vocês. Por várias razões. A começar pelo talento natural, o “colar a bola ao pé”, a classe. Aquilo que não se ensina, ou se tem ou não se tem. E Ryan tem. Depois, pelo seu altruísmo natural. Gauld é daqueles raros jogadores que se realizam mais a assistir um companheiro do que a marcar. Jogadores da estirpe de Ozil, Iniesta, Fabregas e, em certa medida, até o próprio Messi. Não digo que o Ryan vai chegar a esse patamar, digo apenas que por ter esta rara qualidade, já vai ser um jogador, no mínimo, especial. Depois, é preciso ter em conta que ele é britânico. Escocês, ainda por cima! Um povo a quem nada foi dado de mão beijada. O facto de decidir mudar-se, aos 18 anos, para um país completamente diferente demonstra toda a sua personalidade e vontade de triunfar. Tal como Ronaldo, lembram-se?

Por último, e para justificar esta fezada toda, é importante referir aquilo que eu já vi ou li:
– No primeiro treino que faz, oferece um golo de bandeja ao Montero na peladinha.
– Num dos jogos de pré época, ofereceu um golo ao Héldon que mandou ao poste.
– No treino aberto em Alvalade, no dia da chegada do Nani, ele até treinou à parte, juntamente com o Shikabala. A peladinha decorria engatada no 0-0, até que entra Ryan que, creio que foi na primeira vez que toca na bola, oferece o único golo do treino a Capel.
– No primeiro jogo pela B, faz a abertura que depois resultaria no primeiro golo. Ainda manda uma bola ao poste.
– No terceiro jogo pela B marca contra o Aves.
(Já agora, parece que pelos sub-21 bisou contra o Luxemburgo)

Tudo isto depois de uma temporada pelo Dundee United na Liga Escocesa onde fez cerca de 30 jogos, marcou 6 golos e fez outras tantas assistências. É obra! Estamos a falar de um miúdo de 17 anos, que era a maior (e única) estrela de uma equipa média da PL escocesa e, segundo a imprensa local, o jogador mais talentoso que viram desde Dennis Law, o melhor escocês de sempre.

Não é muito, dir-me-ão. É alguma coisa. Está aí, perfeitamente claro, o padrão que descrevi lá em cima. Gauld é o tipo de jogador que muito tubarão paga fortunas para ter, pela sua raridade. Neste futebol cada vez mais cão, que fomenta o individualismo, ter um jogador destes é (ou vai ser) uma lufada de ar fresco no nosso jogo. Este salto qualitativo dependerá do Marco Silva e do tempo que demorará a perceber que um talento destes tem que estar em campo. É também nestes pormenores que se vê a capacidade de um treinador.
Como disse acima, o escocês é um jogador especial. Um dia, tambem eu hei-de gritar que Ryan Gauld faz este país parecer uma merda.

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!